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Olhares Cotidianos

Olhares Cotidianos, por Sátina Pimenta

Colunista

Sátina Pimenta, psicóloga clínica, advogada e professora universitária

Medo de perder o lugar no mundo

Com humor e inteligência artificial, personagem fictícia criada para a internet levanta debates reais sobre tecnologia, medo e reinvenção humana

Sátina Pimenta | 20/06/2025, 12:27 h | Atualizado em 20/06/2025, 12:27

Imagem ilustrativa da imagem Medo de perder o lugar no mundo
Sátina Pimenta é psicóloga clínica, advogada e professora universitária |  Foto: - Divulgação

Esta semana me peguei rindo sozinha. Vi um vídeo circulando por aí – coisa de internet mesmo – em que uma apresentadora meio caricata, com sotaque afiado, figurino exagerado e um jeito debochado de lidar com as situações, conduzia um programa de auditório muito parecido com aqueles que a gente cresceu assistindo.

Pensei: “É só mais um conteúdo nonsense da internet.” Mas não era. A apresentadora, na verdade, não existe.

Marisa Maiô – esse é o nome dela – foi criada por um ser humano (um bastante esperto, aliás), com a ajuda da Inteligência Artificial. Guilherme Zanella, o criador, já tinha experiência com realities e simulações. E agora, com o apoio de uma IA, construiu uma personagem que parece ter saído da televisão dos anos 2000 direto para os algoritmos de 2025. O resultado? Milhões de visualizações, memes, debates – e, claro, muitos receios.

Teve quem dissesse: “acabou para os apresentadores de verdade!” Ou: “a IA vai tomar o emprego de todo mundo!”. Não duvido que esse medo exista. Mas sempre que ouço esse tipo de discurso, fico pensando em uma coisa: será que é realmente a IA que ameaça os nossos lugares ou é a nossa resistência em se mover que nos coloca em risco?

A verdade é que nenhuma Inteligência Artificial caminha sozinha. Ela não pensa, não sente, não sonha. Ela processa. E só processa o que for alimentado por nós. É como um espelho digital: reflete o que mostramos a ela.

Se ensinamos com afeto, ética e intenção, ela devolve algo nessa linha. Se alimentamos com sarcasmo, violência ou superficialidade, o que vamos ver é só uma reprodução disso tudo – ampliada, em alta resolução.

Outro dia, vi um experimento com um robô. O robô era agredido diversas vezes, até que, em determinado momento, ele reage. E as pessoas se espantam: “a IA reagiu!”

Mas quem ensinou que bater era uma linguagem aceitável? Quem normalizou esse gesto? Me parece muito menos sobre a IA em si, e muito mais sobre a maneira como nos relacionamos com o que criamos.

Vygotsky já dizia: todo conhecimento é mediado. E mesmo quando falamos de uma Inteligência Artificial, a mediação ainda é nossa. Nós moldamos os caminhos que essas ferramentas percorrem. A IA não é uma ameaça. A ameaça, talvez, seja o que decidimos fazer com ela – ou, pior, o que decidimos não fazer diante dela.

Marisa Maiô, com todo o seu exagero, expõe muito mais do que histórias de auditório. Ela escancara o quanto temos medo de perder o controle. Mas a pergunta que fica não é “seremos substituídos?”, e sim: temos nos colocado em movimento para acompanhar o tempo em que vivemos?

A Inteligência Artificial não vai tirar o espaço de quem está disposto a crescer. Ela vai, sim, ocupar os lugares deixados por quem parou, por quem se fechou, por quem acredita que a autoridade de ontem basta para a relevância de amanhã.

Criar, adaptar, aprender, desaprender. Isso não é sobre máquina. Isso é sobre a gente.

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