“Qual a dúvida de quem é a vítima?”, diz mãe de ambulante baleado por delegado
Segundo nota da ADEPPE, Luiz Alberto reagiu em legítima defesa diante de agressões injustas
Escute essa reportagem

O comerciante Emmanuel Pedro Gonçalves Apory, de 26 anos, baleado pelo delegado Luiz Alberto Braga durante uma festa na madrugada da última segunda-feira (5), em Fernando de Noronha, passou por uma cirurgia e deve ser submetido a uma nova intervenção nos próximos 15 dias. Segundo a família, Emmanuel está internado no Hospital da Restauração, no Recife, e quase perdeu a perna esquerda.
A abordagem que terminou em disparo aconteceu no Forte dos Remédios, em circunstâncias ainda cercadas de versões conflitantes. Até agora, a mulher que supostamente teria sido pivô do conflito entre o delegado e o comerciante não se pronunciou.
Testemunhas afirmaram que o delegado apresentava sinais de embriaguez e acusou o comerciante de dar em cima de sua namorada. A Polícia Civil e a Corregedoria da SDS, contudo, investigam o caso. O delegado inclusive passou por exames que podem apontar ou não o uso de álcool.
MÃE FAZ DESABAFO

Nesta terça-feira (6), a mãe do ambulante, Maria do Carmo Gonçalves, falou à TV Tribuna PE/Band sobre o estado de saúde do filho e cobrou justiça. Emmanuel nasceu em Fernando de Noronha, um dos lugares mais belos do Brasil.
“Meu filho é calmo, simpático e generoso. Eu quero justiça. Qual a dúvida de quem é a vítima? Vi os vídeos hoje, fiquei chocada. Isso é uma abordagem de um delegado? O filho que criei com muito esforço não é marginal. Aqui é uma mãe pedindo justiça, lutando pela integridade do filho. Espero que todas as mães e a governadora se coloquem no meu lugar.”
VÍDEO MOSTRA DINÂMICA DA ABORDAGEM
As imagens do circuito de segurança mostram o delegado Luiz Alberto Braga sozinho. Um homem de camisa branca passa. Em seguida, Emmanuel, de camiseta preta, aparece nas imagens. O delegado faz menção de que está com uma arma, mas o jovem não a vê, segundo seu advogado. Ele empurra o rapaz pelas costas, aponta o dedo para o rosto dele e lhe dá um tapa no tórax.
O comerciante reage e acerta socos no delegado, que sai andando para trás e atira em sua perna. Ferido, Emmanuel, quase com a perna partida, engatinha para fugir.
INVESTIGAÇÃO E CORREGEDORIA
A Corregedoria da Secretaria de Defesa Social está apurando a conduta administrativa do delegado, que estava de plantão por 15 dias em Fernando de Noronha. A parte criminal está sob responsabilidade do DHPP, segundo informações repassadas por um corregedor presente no Recife.
“Ao ingerir bebida alcoólica, você não pode estar portando arma de fogo. O que existe é, no caso da embriaguez, você não pode está portando arma de fog, porque pode fazer uso errado daquele armamento que você está portando. Obrigatoriamente, no caso desse, você pode responder a sanções, tanto administrativas quanto sanções penais”, afirmou o corregedor, o delegado Fábio Rebelo.
DEFESA DA VÍTIMA DIZ QUE VERSÃO DO DELEGADO NÃO É A MESMA DAS IMAGENS
A Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Pernambuco (Adeppe) divulgou nota afirmando que o delegado Luiz Alberto Braga agiu em legítima defesa ao atirar no comerciante Emmanuel Pedro Gonçalves Apory, de 26 anos, durante uma festa em Fernando de Noronha, na madrugada da segunda-feira (5). Segundo a entidade, o delegado estava de plantão e, por isso, tinha autorização para portar arma.
A versão é contestada pela defesa de Emmanuel. O advogado Anderson Flexa afirma que o delegado deveria ter acionado a Polícia Militar caso tivesse presenciado alguma irregularidade. “Se ele acreditava que havia assédio, deveria ter chamado a PM para registrar flagrante. Em vez disso, agiu por conta própria, o que não condiz com a conduta esperada de um agente público”, declarou.
Para o advogado, há incoerências entre a nota da Adeppe e os fatos. “Se for necessário, vamos cobrar da associação uma manifestação mais fiel ao que realmente ocorreu, e não uma nota alinhada apenas à versão do delegado. O nosso compromisso é com a verdade”, disse.
Emmanuel, segundo o advogado, não percebeu que estava diante de um policial armado. “Ele só viu a arma quando já tinha sido atingido. O delegado sacou do lado direito, e a arma ficou escondida. O primeiro contato visual foi com o disparo na perna”, relatou Flexa.
O advogado também questiona a forma como a abordagem foi conduzida. De acordo com ele, o delegado não se identificou como delegado na abordagem. “Não houve identificação. Ele não se apresentou como delegado, só falava para Emmanuel parar de ‘dar em cima’ da mulher. Chegou empurrando, dando tapas. Isso é conduta policial ou abuso de autoridade? Precisa ser investigado.”
A defesa anunciou ainda que adotará medidas nas esferas cível, criminal e administrativa contra o delegado.
DELEGADO É OUVIDO POR TRÊS HORAS NO RECIFE
Ao deixar Fernando de Noronha rumo ao Recife, o delegado Luiz Alberto Braga e sua namorada foram alvo de protestos de moradores, que gritavam palavras de ordem e cobravam justiça.
Já na capital, ele foi ouvido por mais de três horas no Grupo de Operações Especiais (GOE), pela equipe da Força Tarefa de Homicídios, comandada pelo delegado Sérgio Ricardo. A saída do local foi feita por uma porta alternativa.
Nem o delegado, que foi deixado em liberdade, nem sua defesa deram declarações à imprensa. Quem falou pelo policial foi a Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Pernambuco (ADEPPE).
Fontes ouvidas pela TV Tribuna PE indicam que Luiz Alberto foi afastado das funções até o esclarecimento dos fatos.
ADEPPE DIZ QUE COMERCIANTE TENTOU DESARMAR DELEGADO
A Adeppe afirmou que o delegado Luiz Alberto Braga agiu em legítima defesa ao atirar na perna do comerciante Emmanuel Apory, durante uma abordagem em Fernando de Noronha. Segundo a associação, o policial foi agredido após tentar conter importunações contra sua companheira e reagiu com um único disparo, “com o menor dano possível”.
"Mesmo ciente da condição funcional do delegado e do fato de ele portar arma de fogo, o agressor deu início a violentas agressões físicas, demonstrando a intenção de desarmá-lo", diz um trecho da nota.
A ADEPPE não se pronuniciou sobre a abordagem equivocada do delegado, que, pelas imagens, está de bermuda e sandálias e não mostra o distintivo.
VEJA NOTA OFICIAL DA ADEPPE
A Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Pernambuco (ADEPPE) vem a público manifestar seu posicionamento em defesa da conduta de um delegado associado, envolvido em um episódio ocorrido recentemente na Ilha de Fernando de Noronha, no qual atuou em legítima defesa, diante de agressões injustas e atual.
No momento do fato, o delegado identificou-se como policial ao agressor, recolhendo sua arma ao coldre logo em seguida — gesto que evidencia sua intenção de evitar qualquer confronto.
A abordagem ocorreu em razão do comportamento reiterado de perseguição/importunação contra sua companheira.
Mesmo ciente da condição funcional do delegado e do fato de ele portar arma de fogo, o agressor deu início a violentas agressões físicas, demonstrando a intenção de desarmá-lo — o que configurava grave risco à integridade física do agente e de outras pessoas presentes.
Diante da agressão injusta e atual, o delegado reagiu com um único disparo, atingindo a perna do agressor, com o objetivo de cessar a agressão e preservar vidas.
A escolha do local do disparo demonstra o preparo técnico e o equilíbrio emocional do policial, que agiu para neutralizar a ameaça com o menor dano possível, impedindo que sua arma fosse subtraída.
É importante esclarecer que o delegado não havia consumido bebida alcoólica e, tão logo controlada a situação, apresentou-se espontaneamente ao delegado da Polícia Federal, única autoridade policial disponível na localidade naquele momento.
O próprio delegado sugeriu e foi encaminhado via ofício ao IML onde realizará:
* Exame de sangue, para comprovar a ausência de ingestão alcoólica;
* Exame de corpo de delito, a fim de atestar as lesões sofridas durante a agressão que motivou a reação legítima.
Recife, 5 de maio de 2025
VEJA MATÉRIA COMPLETA EXIBIDA NO JORNAL DA TRIBUNA 1ª EDIÇÃO
Comentários