Caso Vai de Bet: qual o estágio da investigação e como o Corinthians está envolvido
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O inquérito aberto pela Polícia Civil há quase um ano para investigar os desdobramentos do acordo de patrocínio entre Corinthians e a casa de apostas Vai de Bet está na iminência de ser concluído. O presidente Augusto Melo é esperado na delegacia para ser o último a prestar depoimento e dar sua versão sobre o caso. Depois disso, a investigação deve ser encerrada até maio.
A oitiva faz subir a pressão nos bastidores do clube menos de um mês depois do título paulista. Assim que terminar a investigação, caberá ao Ministério Público acatar as recomendações e formalizar denúncias contra os indiciados.
O CNPJ da Rede Media Social Ltda está no nome de Alex Fernando André, mais conhecido como Alex Cassundé, antigo membro da equipe de comunicação do presidente Augusto Melo. O contrato do Corinthians com a Vai de Bet previa o pagamento de 7% do montante líquido de cada parcela de patrocínio à intermediadora. Ou seja, 700 mil por mês ao longo de três anos, resultando em R$ 25,2 milhões ao fim do contrato.
O Estadão apurou que um dos caminhos que o dinheiro tomou após sair da Neoway é uma empresa ligada ao crime organizado.
Pedido negado
Augusto Melo tentou adiar seu depoimento, mas teve o pedido negado por Tiago Fernando Correia, delegado responsável pelo caso. De acordo com ele, caso o dirigente opte por não ir à delegacia existe a possibilidade de o inquérito ser finalizado mesmo sem a oitiva do mandatário.
Do ponto de vista jurídico, o gesto pode ser considerado uma autodefesa. Isso porque, na condição de investigado, o presidente corintiano não é obrigado a criar provas contra si mesmo. Da mesma forma que ele poderia comparecer a delegacia e ficar em silêncio. Em contrapartida, a polícia considera que já têm material suficiente para encerrar o inquérito.
O que diz Alex Cassundé
Apontado como intermediário no acordo, que supostamente teve envolvida uma empresa “laranja”, Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé, prestou depoimento à Polícia Civil em 25 de junho e negou que tenha cobrado por sua parte na negociação. Ele disse que não conhecia a empresa até perguntar por “dicas de como encontrar uma empresa de bet” ao ChatGPT, inteligência artificial generativa da OpenAI. Foi a partir da resposta, segundo ele, que encontrou a Vai de Bet e chegou ao contato de um sócio da casa de apostas.
O empresário alegou que foi o Corinthians que ofereceu R$ 25,2 milhões a ele por ter intermediado o negócio. O valor é o total de parcelas mensais de R$ 700 mil, que seriam pagos por três anos. Isso corresponde a 7% dos R$ 360 milhões acertados entre Vai de Bet e o clube, o que chegou a ser o maior acordo de patrocínio do futebol brasileiro.
“Foi bastante longo, bastante detalhado, porque foi perguntado toda história, tudo que ele participou no Corinthians”, afirmou o advogado Claudio Salgado, que representa Cassundé. O empresário, naquela época, cumpriu determinação judicial e entregou seu celular.
O empresário alegou que foi o Corinthians que ofereceu R$ 25,2 milhões a ele por ter intermediado o negócio. O valor é o total de parcelas mensais de R$ 700 mil, que seriam pagos por três anos. Isso corresponde a 7% dos R$ 360 milhões acertados entre Vai de Bet e o clube, o que chegou a ser o maior acordo de patrocínio do futebol brasileiro.
Corinthians é ‘potencial vítima’
O delegado do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), Tiago Fernando Correia, afirmou que o Corinthians é tratado como “potencial vítima” na investigação.
“Ao que tudo indica, o Corinthians é uma potencial vítima. É importante frisar que a investigação está direcionada a apurar eventual constituição ilícita, ilegal, da empresa Neoway”, declarou Tiago Fernando em entrevista ao programa “Mesa Redonda”, da TV Gazeta.
Depoimentos divergentes
O último depoimento dado no caso foi do ex-superintendente de marketing do Corinthians, Sérgio Moura. Ele confirmou que apresentou Cassundé a integrantes da diretoria do Corinthians. “Não restou dúvidas que em momento algum ele exigiu de má fé ou praticou crime. Não tivemos intercorrência no ato e tudo correu da melhor maneira possível. Isso será demonstrado lá na frente”, disse o advogado de Moura, José Roberto Rodrigues.
A fala de Moura diverge da versão de Cassundé e de Marcelo Mariano, ex-diretor administrativo do clube e que depôs na segunda-feira durante três horas - ele foi a primeira pessoa ligada à agremiação a falar com a Polícia Civil.
“Respondemos a todas as perguntas e ficou esclarecido e comprovada a absoluta inocência do senhor Marcelo Mariano de todos os fatos que estão sendo apurados”, afirmou Átila Machado, advogado de Mariano, em conversa com jornalistas na saída da delegacia. “O processo está em sigilo e não podemos declinar esses fatos específicos, mas podemos falar com tranquilidade e com responsabilidade que tudo foi respondido e esclarecida a inocência do senhor Marcelo.
Quem investiga o caso
O caso é investigado pelo Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC). Ao Estadão, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) limitou-se a afirmar que “diligências estão em andamento visando o esclarecimento dos fatos”. O Corinthians confirmou ter recebido a notificação e disse que vai colaborar com as investigações pois afirma ser “o maior interessado em esclarecer os fatos”.
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