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TRIBUNA LIVRE

Marian Rabelo: mulher e artista

Coluna foi publicada nesta quinta-feira (04)

José Cirillo | 04/01/2024, 10:47 h | Atualizado em 04/01/2024, 10:49
Tribuna Livre

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          Imagem ilustrativa da imagem Marian Rabelo: mulher e artista
Marian Rabelo, artista plástica capixaba, faleceu no domingo (31) |  Foto: Reprodução/Redes sociais

Pontos de luz vagam na escuridão. Velas ao longe iluminam a noite. Fervor religioso que move o homem. A “Procissão dos Homens” ou “Romaria Noturna dos Homens” (1975) evidencia que a sororidade sobe o penhasco. Fogaréu nas noites de fé. Incondicional crença nos desígnios do plano celestial que se move pela mão de uma mulher que não se viu presa nos grilhões do papel social tradicional para as mulheres nos meados do século XX.

Ela subverteu. Está eterna nas paredes do Convento da Penha. Está aos braços de Nossa Senhora, de onde Marian, muitas vezes desapercebidamente ao passantes e fiéis, conduz-lhes à fé na padroeira de nosso Estado.

Agora, com sua passagem, ela mesma é conduzida aos céus de um manto azul profundo que sempre pintou, levada pela Virgem, à qual se une como mulher para velar-nos aqui em baixo. Ela virou agora, no apagar de 2023, um ponto de luz, entre as luzes que representou. Segue sua saga, sua vida eterna, no fim de seu próprio calvário, o qual, somente pela crença em si mesma como mulher e artista, enfrentou. Calvário dela mesmo e de suas escolhas.

Mas, o Calvário de seu destino ela também materializou em uma das mais espetaculares e, certamente a maior obra de intervenção na natureza da arte capixaba. Subir com nosso corpo, sob o escaldante sol de Nova Venécia, é se deixar nos levar por Marian morro acima acompanhando os últimos momentos de Cristo em sua vida material, em uma via sacra em painéis de azulejo.

A “Via Sacra” (1979), de Marian Rabelo, deixou de ser mito e ficção para os que a conheciam. É uma obra gigantesca invisibilizada pela arrogância estética da academia que pouco tolerava sua trajetória independente.

Mesmo sendo filha de um jurista sensível às artes, duvidaram da sua capacidade como mulher de executar uma obra daquela envergadura. Seguiram anos acreditando que era fantasia da sua cabeça corrompida pelos valores da contemporaneidade. Somente 35 anos depois, a obra se tornou pública pelas mãos de Celante, Belo e Cirillo (Marian Rabelo e os azulejos murais, 2014).

Para seus contemporâneos do meio artístico, ouvi no lançamento de sua biografia artística, em 2014: “Pensávamos que era imaginação dela isto, ninguém nunca tinha visto”, diziam artistas e amigos. Na verdade, ninguém nunca fora à Fazenda Veloso, no calor de meio-dia, para subir o morro do calvário que Marian executara, como seu próprio calvário. O tempo relevou a artista.

Para mim, olhar pela primeira vez nos olhos daquela mulher, e no seu modo de circular pelo meio artístico, me evidenciou uma joia que precisava ser apenas desembaçada – ela era pronta, mas não vista.

Sua obra, como a da antiga fábrica da Atlantic Veneer (1968), tem a envergadura dos grandes muralistas no debate sobre arte social. É mais uma evidência do valor dessa mulher e da potência de sua obra, agora transformada em patrimônio cultural da Serra.

Marian Rabelo é patrimônio cultural capixaba. Suas obras, aquecidas pelo sol, acalentadas pela noite, são reservas da genialidade de uma mulher-artista à frente do seu tempo.

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