Violência na escola e violência da escola
Coluna foi publicada nesta sexta-feira (25)
Leitores do Jornal A Tribuna
Os noticiários destacam, com perplexidade genuína e um tanto de sensacionalismo comercial, os casos de violência na escola, quando jovens e, às vezes, adultos, invadem o espaço escolar e ferem e matam. É como se um campo sagrado e inviolável tivesse sido rompido por forças estranhas, bárbaras, atingindo crianças e jovens que, até então, viviam em completa convivência pacífica e segura.
Durante alguns dias, a sociedade e as autoridades discutem o que fazer para evitar os ataques. A mesma solução é apresentada com sinais trocados. Por exemplo: desarmar a população versus armar os professores e funcionários da escola. Ou então: aumentar a pena dos adultos que praticam esse tipo de violência versus diminuir a maioridade penal para atingir os jovens que a praticam. E por aí vai. O fato é que, a cada ataque e a cada tristeza infinita que as vítimas evocam aos que ficam, a pergunta se repete: por que isso ocorre?
Um caminho possível é o de compreender a violência na escola como uma interface da violência da escola. Os que agem atacando alunos e professores, muitas vezes buscam descarregar criminosamente suas frustrações e sofrimentos adquiridos durante seu período escolar. São frequentes os casos de jovens que sofreram bullying voltarem sua ira contra os colegas, provocando as tragédias. Há uma violência que vem da escola, que fermenta lá, que contamina e que, por vezes, provoca reações intempestivas e mortais.
Além do bullying – que é uma expressão da incapacidade de a escola formular adequadamente políticas e práticas de reconhecimento das diferenças, capazes de anular ou enfraquecer os efeitos da educação preconceituosa que a criança traz de casa - a própria lógica de um ensino desumanizado, focado em conteúdos e provas, disciplina e competição, tornam a vida de alunos, imaturos e desorientados, em uma caixa de pressão insustentável. As vezes o ambiente tornar-se de opressão e de medo.
Muitas autoridades propõem tornar as escolas espaços de repressão, com militares circulando e com a espontaneidade e a abertura para o diferente cerceadas por marchas e gritos de ordem. Uma escola embaçada por um simulacro de disciplina que não é mais do que um amordaçamento, enquanto os adultos lavam as mãos de suas responsabilidades.
A violência na escola não é resultado só da violência da escola, mas transformá-la em um espaço de invenção e de solidariedade, de reconhecimento pelo diferente e de compreensão da singularidade, seria um passo importante para acabar com uma das fontes intensas de rancor e desejo de vingança, combustível da maioria das histórias que acompanhamos cada vez mais amiúde.
Fazer o que está ao nosso alcance é encarar essa tarefa de reinvenção - o que implica aceitar que falhamos ao prometer às crianças um futuro melhor quando não somos ainda capazes de garantir a eles, na escola, um presente razoável, em termos de ambiente, acolhimento e aprendizado para a pluralidade e paz. E que não somos ainda capazes de protegê-los de seus próprios medos e rancores.
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Tribuna Livre,por Leitores do Jornal A Tribuna