Traficantes do ES usam até drones para vigiar a polícia
Bandidos também têm focado em outras tecnologias no Estado como estações de rádio e videomonitoramento para driblar policiais
Escute essa reportagem

Para “protegerem” suas bocas de fumo e não terem “prejuízos”, traficantes têm usado tecnologias para vigiar a polícia. O objetivo é driblar os órgãos de segurança por meio de sistemas modernos de videomonitoramento, estações de rádio e até drones.
LEIA TAMBÉM
Polícia faz operação em ferro-velho e três pessoas são detidas em Vila Velha
Chamado de estuprador, pai é espancado ao acompanhar filha para a escola
Homem em surto invade escola técnica na Serra
Fazendo uso de tecnologia de ponta, as organizações criminosas são ousadas e, em alguns casos, chegam a contratar profissionais que sabem operar estações de rádios comunicadores.
“Pegam essas pessoas que têm noção para fazer essa implementação de uma estação de rádio, por exemplo, e pagam determinados valores. Existe toda uma cadeia, que ainda está sendo investigada pela Polícia Civil”, disse o superintendente de Polícia Civil, delegado Fabrício Dutra.
Sobre o uso de câmeras no monitoramento das polícias, o delegado informou que essa já é uma realidade em cidades como Aracruz, São Mateus, Conceição da Barra, Pedro Canário e Jaguaré.
“Dependendo do faturamento, eles (traficantes) costumam colocar câmeras na entrada dos bairros, justamente para monitorar o trabalho das polícias e assim impedir as abordagens e a perda das drogas”, disse o delegado.
No caso de drones, Dutra disse que eles são usados em cidades como Aracruz, Linhares e São Mateus. “Utilizam nas comunidades mais altas. Usam não só para vigiar as polícias, mas para monitorar seus rivais”, disse.
Em Conceição da Barra, por exemplo, uma operação no último dia 25 prendeu seis pessoas que estavam envolvidas no tráfico de drogas da região e que estavam monitorando a polícia por meio de uma central.
Na região Noroeste do Espírito Santo, quatro dias depois da operação em Conceição da Barra, a Polícia Civil encontrou drones, controles remotos e duas câmeras de videomonitoramento em casas de moradores de Nova Venécia. Eles são suspeitos de instalarem câmeras para monitorar a polícia a pedido de traficantes.
Já na Grande Vitória, segundo policiais militares que atuam em regiões como Complexo da Penha e Jaburu, na capital, câmeras e rádios comunicadores são objetos de uso constante. Um militar revelou que a ousadia dos criminosos é tão grande que eles chegam a ameaçar os policiais por meio do rádio.
Apreensão
Durante operação em Nova Venécia, região Noroeste do Estado, foram apreendidos dois drones, dois controles remotos e duas câmeras de videomonitoramento, um cartão de memória e um aparelho celular.
A tecnologia era usada em apoio ao tráfico da região, para monitorar viaturas policiais nas entradas do bairro São Francisco. A operação aconteceu em casas que já eram investigadas, em cumprimento aos mandados expedidos pela Justiça.

Polícia conta com centro de inteligência e tecnologias
Os criminosos que estão monitorando a polícia por meio de câmeras, drones e rádios já são alvo de investigações da Polícia Civil. No Norte do Estado, por exemplo, o Centro de Inteligência e Análise Telemática (Ciat) já trabalha para a identificação de todos os pontos onde esses equipamentos estão instalados.
“O Ciat possui ferramentas inovadoras que nos auxiliam nas investigações. Inclusive, é por meio dessas ferramentas que conseguimos trabalhar em conjunto com outras unidades e informar se ali tem algo instalado. A polícia também conta com equipamentos tecnológicos”, disse o superintendente de Polícia Civil, delegado Fabrício Dutra.

Sobre a instalação de câmeras nas casas de moradores no Norte do Estado, o delegado frisou que nem todos os moradores são coniventes com o tráfico de drogas.
Além disso, segundo o delegado, em boa parte dos casos, os moradores são obrigados a aceitarem a instalação em suas casas, com medo de represálias. “Muitos moradores são pessoas simples, humildes, que acabam sendo ameaçadas se não fizerem o que os traficantes estão mandando”, ressaltou.
ANÁLISE
“Poder bélico dos bandidos é maior"
Emir Pinho, especialista em Segurança Pública e Privada

“A contrainteligência da bandidagem movimenta as mais avançadas tecnologias e artifícios. A indústria do crime se utiliza de todas as formas para se manter à frente ou razoavelmente preparada para não ser flagrada por ações dos órgãos de segurança.
Vale lembrar que o poder bélico e as capacidades financeiras e operacionais das organizações criminosas são maiores e mais rápidas que as reações do Estado.
As ferramentas para monitorar as polícias podem envolver câmeras de última geração, escutas criminosas e os mais diversos tipos de drones, com equipamentos de escuta e gravação.
É preciso que o Estado invista em equipamentos de detecção e incentivo para setores de tecnologia e inteligência das polícias.”
Comentários