“Montanhas de lixo” vão parar no meio da rua em Cariacica
Material foi retirado da casa de uma idosa, considerada pelos filhos como acumuladora, e lotou oito caminhões cedidos pela prefeitura
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Restos de construção e de móveis, roupas, papelão, plásticos, sacolas. No último domingo (12), esses e mais tipos de materiais foram parar no meio da rua Polivalente, no bairro Morada de Santa Fé, em Cariacica.
As “montanhas de lixo” foram retiradas da casa de uma senhora de 65 anos, e o motivo para isso não é trivial: a idosa é acumuladora, segundo a família. O lixo só pôde ser retirado de sua casa porque ela ficou doente, no último dia 27.
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Enquanto estava internada no hospital, filhos e vizinhos aproveitaram para fazer a limpeza. “Ela é acumuladora. Tudo o que vê na rua, acha que vai servir. E a gente não consegue intervir”, disse um dos filhos da idosa, que não quis se identificar.
O homem afirmou que a retirada foi combinada com pessoas ligadas à prefeitura. O lixo, que foi removido da casa no último final de semana, deveria ficar na parte da calçada, e ontem, segunda-feira, a prefeitura faria a limpeza.
No entanto, pessoas, como moradores de rua, passaram a revirar o material, levando-o para o meio da rua. Assim, a sujeira no local incomodou moradores, como uma comerciante que possui um estabelecimento na região.
Ela, que não sabia da situação da senhora, pediu à prefeitura de Cariacica a remoção do material. “Apenas solicitei à prefeitura, a título de urgência, a retirada do lixo, porque estava impedindo o acesso ao meu comércio”, contou.
O órgão respondeu à solicitação, dando início aos trabalhos às 15 horas, com término à meia-noite, contando com o processo completo de destino do conteúdo até o aterro sanitário. Por nota, a Secretaria de Serviços de Cariacica (Semserv) informou que retirou oito caminhões de lixo.
Multa
Secretário de Serviços, Marcos Aranda afirmou que jogar lixo em via pública é crime, estando a infração prevista no Código Ambiental Municipal Decreto 76/2019, com multa podendo chegar de R$ 1.000 a R$ 50 mil, se a pessoa for pega em flagrante.
“A gente vem trabalhando para manter a cidade limpa e organizada. Isso não depende somente do poder público, mas dos moradores também. E é claro, é preciso analisar se a pessoa tem algum problema de saúde”, disse Marcos Aranda.
Entrevista | “Ela saiu do hospital, mas não sabe o que aconteceu”, diz filho da idosa
Para entender o que aconteceu no último final de semana, na rua Polivalente, em Morada de Santa Fé, Cariacica, A Tribuna conversou com o filho da moradora da casa onde aconteceu a limpeza.
A Tribuna – Como funcionou a limpeza da casa?
Filho da idosa – Minha mãe ficou doente no último dia 27 e precisou ser internada. Aproveitamos esse tempo para fazer a limpeza no imóvel. Já tínhamos limpado antes, no dia 7. Neste final de semana, fizemos outra limpeza. Começamos às 7 horas de sábado e finalizamos às 17 horas.
Neste final de semana, o lixo se espalhou, correto?
O lixo foi depositado na calçada, mas moradores de rua e vendedores de material reciclável acabaram espalhando o lixo para o meio da via, o que incomodou algumas pessoas. Muitos vizinhos foram empáticos e entenderam a situação.
Quem limpou a casa?
Diversas pessoas. Dois dos três filhos e diversos amigos auxiliaram.
Sua mãe está melhor? Ela sabe que a casa foi limpa?
Ela está melhor, saiu do hospital na última quinta-feira e está na casa de um familiar. E não, ela não sabe o que está acontecendo. Não sabe que o lixo foi retirado de sua casa.
Alguma parte desse lixo pode ser reciclada?
A gente já fez doação. Já chamamos umas três, cinco pessoas que trabalham com materiais recicláveis para entrar na casa. Muita gente já pegou bastante coisa para vender no ferro-velho. Graças a Deus estamos conseguindo ajudar outras famílias. Já doei geladeira, porta de correr... Não quero nem ver isso, apenas limpar o quintal.
Especialista explica quando acúmulo é sinal de doença
“Eles guardam de tudo: latas, molas, parafusos, jornais velhos. A pessoa não consegue jogar fora, dá um sofrimento muito grande”, disse Jairo Navarro, médico psiquiatra e psiquiatra forense, sobre o Transtorno de Acumulação Compulsiva.
A doença cerebral, que é do espectro do TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), faz com que as pessoas acumulem objetos, sejam eles úteis ou não, e não consigam jogar o lixo fora.
Jairo Navarro explicou que não existe idade para ter essa doença, podendo atingir crianças e também idosos. “Tem criança que acumula figurinha, caderno velho, resto de lápis. É mais comum em adulto, mas pode acontecer em qualquer idade”.
Segundo Jairo Navarro, é importante dar atenção para a acumulação com idosos, pois isso pode ser um sintoma de um quadro demencial, mesmo sendo raro.
O médico também explicou que o transtorno de acumulação compulsiva não tem cura. No entanto, a doença possui tratamento, com o uso de medicamentos e psicoterapia, que podem ajudar bastante na questão da acumulação.
O especialista comentou que a pessoa que possui essa doença pode chegar a causar incômodo aos vizinhos, mesmo não sendo de maneira intencional. “A pessoa pode acumular muito lixo, o que dá parasitas e acaba infestando o local com rato e barata”, ressaltou.
Por outro lado, ele também afirmou que é necessário ter empatia.
“A gente tenta pedir para que as pessoas tenham um pouco de empatia e entendam a situação porque aquilo se trata de uma doença, não é intencional”, frisou.
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