Professores e pais vão sugerir mudanças no ensino médio
O Ministério da Educação vai ouvir as sugestões em audiências públicas, oficinas de trabalho, seminários e pesquisas
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O Ministério da Educação (MEC) vai ouvir sugestões de famílias, professores e outros membros da comunidade escolar, em audiências públicas, oficinas de trabalho, seminários e pesquisas nacionais, sobre mudanças no novo ensino médio.
O novo ensino médio foi aprovado por lei em 2017, com o objetivo de tornar a etapa mais atrativa e evitar a evasão escolar. Com o novo modelo, parte das aulas é comum a todos os estudantes, mas outra é escolhida como itinerário, como Matemática ou ensino técnico.
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Há, contudo, diversas críticas sobre a nova política. O secretário de Estado da Educação, Vitor de Angelo, explica que a nova política de ensino médio provocou desdobramentos que nunca foram enfrentados.
Ele lamenta que apenas os estados deram encaminhamentos para as questões, quase sem apoio do governo federal. Para ele, o novo ensino médio tem pontos positivos, mas precisa de ajustes.
“O melhor não seria a revogação, mas, sim, o MEC assumir o papel coordenativo. É possível, por exemplo, aumentar a carga horária da formação geral básica e diminuir o itinerário formativo”.
O diretor de ensino da Escola Múltipla, Leonardo Gama, aponta que o novo ensino médio é positivo e a revogação também não é um caminho, embora seja preciso realizar alguns ajustes.
“A escola que se propõe a alterar o seu currículo deve estar preparada para o aumento de carga horária, a adequação da sua infraestrutura e formação dos seus professores”, ressaltou.
O vice-presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Estado do Espírito Santo (Sinepe-ES), Eduardo Gomes, alerta que há universos diferentes entre escolas públicas e privadas, além das diferenças regionais do País.
Para ele, as questões mais urgentes de ajustes são a preparação dos educadores e uma nova matriz para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
“A reforma curricular já aconteceu em diversos países do mundo. Em alguns, já está na décima edição. É uma construção que constantemente precisa de aperfeiçoamento”.
ALUNOS SE ADAPTAM ÀS TRANSFORMAÇÕES
Estudantes já vivem as mudanças do novo ensino médio. Aluna do curso técnico em Recursos Humanos, a estudante Yasmin Vieira Marçal Magre, de 15 anos, conta que está se adaptando às mudanças.
O sonho de Yasmin é fazer faculdade e ser policial. Entre as disciplinas eletivas, ela conta que escolheu “Jogos de tabuleiros modernos” e aprende, principalmente, matemática e raciocínio lógico.
“Com a disciplina de 'Jogos de tabuleiros', aprendo a jogar, a me relacionar, além de raciocínio lógico e matemática. Acho o novo ensino médio um pouco difícil, mas, com o tempo, vou me acostumando. Faço curso técnico em Recursos Humanos”, explicou a estudante.
Críticas para aulas de RPG e “brigadeiro caseiro”
Disciplinas com nomes fora do comum, como “Brigadeiro caseiro”, “O que rola por aí” e “RPG” já fazem parte do dia a dia de estudantes do ensino médio e têm recebido críticas de pais, estudantes e professores. Especialistas alertam, contudo, que as disciplinas podem trabalhar conhecimentos e habilidades curriculares.
O secretário de Estado da Educação, Vitor de Angelo, explica que as disciplinas desenvolvem competências, saberes e habilidades previstas no currículo do ensino médio, com interdisciplinaridade.
“Há uma escola na Serra, por exemplo, que tem uma disciplina sobre o ‘café’. Os estudantes aprendem História, espécies de plantas e a importância do café na economia do Estado. Às vezes, julgamos o livro pela capa”.
O vice-presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Estado do Espírito Santo (Sinepe-ES), Eduardo Gomes, faz a mesma análise. “O nome da disciplina é o menor dos problemas. Em culinária, por exemplo, é possível trabalhar temas culturais, Química e até História”.
SAIBA MAIS
Modelo
> A atual política de ensino médio foi aprovada por lei em 2017, com o objetivo de tornar a ensino mais atrativa e evitar a evasão escolar.
> Com o novo modelo, parte das aulas será comum a todos os estudantes do País, direcionada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Na outra parte da formação, os próprios alunos escolhem um itinerário formativo.
> Entre as opções está dar ênfase, por exemplo, às áreas de linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ao ensino técnico, a depender da capacidade das redes de ensino e de cada escola.
> A implementação ocorre de forma escalonada até 2024. Em 2022, as mudanças começaram pelo 1º ano do ensino médio, com a ampliação da carga horária para, pelo menos, cinco horas diárias.
> Em 2024, o ciclo de implementação termina, com os três anos do ensino médio.
Consulta
> O Ministério da Educação (MEC) abriu consulta pública, na última quinta-feira, para avaliação e reestruturação da política nacional de ensino médio. O prazo é de 90 dias para as manifestações, com possibilidade de prorrogação.
> O MEC irá ouvir sugestões de toda a comunidade escolar, em audiências públicas, oficinas de trabalho, seminários e pesquisas nacionais.
> A ideia é entender sobre a experiência de implementação do novo ensino médio nos 26 estados e no Distrito Federal.
> O objetivo da consulta é “abrir o diálogo com a sociedade civil, a comunidade escolar, os profissionais do magistério, as equipes técnicas dos sistemas de ensino, os estudantes, os pesquisadores e os especialistas do campo da educação para a coleta de subsídios para a tomada de decisão do Ministério da Educação acerca dos atos normativos que regulamentam o novo ensino médio”.
> A coordenação do processo de avaliação e restruturação da política nacional de ensino médio se reunirá pela primeira vez hoje, no Ministério da Educação, em Brasília.
Críticas
> Uma das principais críticas é de que o novo ensino médio fragiliza a formação dos estudantes com a redução de carga horária de disciplinas tradicionais, como sociologia, filosofia e biologia.
> Além disso, há críticas a disciplinas eletivas como “Brigadeiro caseiro”, “RPG” e “Jogos de tabuleiro”.
> Especialistas apontam que o novo ensino médio desconsidera as realidades estruturais do País e agrava desigualdades. Com o novo ensino médio, é preciso, ainda, definir uma nova matriz para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Fonte: MEC e especialistas consultados.
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