Fotógrafo morre esfaqueado em apartamento e detido alega legítima defesa
Os envolvidos tiveram uma briga no local que começou por motivo passional
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A Polícia Civil de São Paulo soltou um homem que confessou ter assassinado o fotojornalista Felipe Ary de Souza, 25, conhecido como Terremoto, esfaqueado durante uma suposta briga dentro do apartamento do agressor, na avenida Ipiranga, centro de São Paulo, na quarta-feira (8).
Detido pela Polícia Militar neste domingo (12), o suspeito, de 23 anos, declarou ter agido em legítima defesa e foi liberado após prestar depoimento. Uma testemunha, porém, contesta a versão dele.
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O caso chegou ao conhecimento dos investigadores após o porteiro do prédio acionar a PM. Os agentes que atenderam a ocorrência arrombaram a porta do imóvel, que estava trancada, e socorreram a vítima até a Santa Casa, onde morreu.
Segundo o delegado Alexandre Dias, do 3º DP (Campos Elíseos), a briga que levou à morte do jovem ocorreu por motivo banal.
Além dos dois homens, estavam no apartamento a namorada do suspeito e uma quarta pessoa, que prestou depoimento nesta segunda (13).
"Minha mulher começou a conversar com o Terremoto. Ela perguntou para o Terremoto se ele ficaria comigo, desde que ela não tivesse como ficar sabendo. O Terremoto respondeu que sim. Eu abordei o Terremoto sobre isso, perguntei para ele [se] também ficaria com ela, desde que eu não tivesse como ficar sabendo. Ele falou que ficaria, sim", contou o suspeito, em áudio publicado nas redes sociais.
A resposta teria incomodado o dono do imóvel.
"Eu fui para cima dele dentro de casa. Eu fui na porrada. Só que o Terremoto, por ser mais forte, mais gordão, conseguiu levar a melhor, ele conseguiu me derrubar no chão, ele conseguiu me enforcar. Só que no meio da confusão tinha uma faca que caiu no chão. Eu furei ele com a faca e ele me soltou. Ele pegou uma faca e me furou também", relatou.
À polícia o suspeito fez relato semelhante. Disse ainda que, ao fim da briga, trancou o apartamento com a vítima dentro e foi buscar ajuda. O suspeito afirmou ter pedido para que o porteiro acionasse socorro para o fotógrafo.
De acordo com o delegado, o suspeito possui uma lesão típica de defesa na mão, uma mordida na orelha e dois ferimentos na região torácica, feitos com arma branca.
Testemunha contesta versão
De acordo com a testemunha ouvida nesta segunda, o suspeito disse que ele e a namorada tinham consumido clonazepam, um ansiolítico controlado, e bebidas alcoólicas. Em razão disso, o dono do apartamento teria tido pequenos surtos, com comportamento agressivo, e dizia que alguém queria matá-lo.
Na versão da testemunha para a conversa que iniciou a briga, Terremoto respondeu que não era "talarico" -gíria para pessoa que se relaciona com outra já comprometida--, mas o suspeito rebateu, duvidando. Na discussão, o suspeito deu um soco no rosto da vítima, que revidou, o derrubou no chão e o imobilizou.
Ao sentir que algo grave poderia acontecer, a testemunha tentava sair do apartamento quando viu o suspeito pegar uma faca e ir em direção a Terremoto, que estava de costas. A testemunha contou que deixou o local às pressas e pediu para o porteiro acionar a polícia.
"O relato da testemunha ouvida na data de hoje revela que o rapaz que tirou a vida do Felipe [Souza] não agiu em legítima defesa, pois partiram dele todas as iniciativas de agressão física. Felipe foi atingido pelas costas de maneira covarde, tentou se defender e não conseguiu, perdeu a vida por um motivo fútil", disse à Folha de S.Paulo a advogada Maira Pinheiro, que representa a família de Souza.
O delegado Dias disse que aguarda laudo, relatos de testemunhas e imagens de câmeras de segurança para concluir a investigação.
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