Ex-aluna do Ifes é única capixaba com nota 1.000: “Venci o bullying na escola”
Samantha Britto, 20, fez o exame nacional pela 3ª vez e busca vaga por Medicina. Ela tem deficiência auditiva e quer inspirar jovens
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O sonho de ser médica está cada vez mais perto para a estudante Samantha Britto de Souza, 20. Diagnosticada com deficiência auditiva desde os 5 anos e que usa aparelho auditivo desde o 7, a jovem foi a única capixaba (nasceu em Vila Velha) a alcançar a nota 1.000 na Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2022.
Ex-aluna do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), no Campus Itapina, em Colatina, a estudante mora atualmente em Governador Valadares, em Minas Gerais. A caminhada até a nota máxima não foi fácil: Samantha fez três edições da prova.
“Em 2020, tirei 840 pontos. Um ano depois, 960. Agora, com muita persistência, o 1.000 veio. Eu fazia, pelo menos, uma redação por semana e, nos feriados, escrevia cerca de cinco redações. Fiquei longe das redes sociais e cuidei da minha saúde mental, do sono e da alimentação”, conta ela.
Com o resultado das 12 horas de estudo diárias, Samantha conta que não ousa desacreditar mais de si mesma e representa, hoje, a quebra de um tabu para muitos brasileiros.
“Minha conquista da nota máxima na Redação do Enem significa a quebra de um tabu de que a comunidade surda não consegue aprender a Língua Portuguesa. Um exemplo de motivação tanto aos ouvintes quanto aos surdos, bem como o reconhecimento de minha potência máxima”.
A estudante já foi aprovada em Medicina Veterinária na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Fonoaudiologia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e em Medicina na Universidade do Vale do Rio Doce, com bolsa integral.
Neste ano, a expectativa da capixaba é ser convocada para uma vaga de Medicina.
A conquista da nota 1.000 criou, inclusive, um novo e nobre objetivo de vida para a trajetória de Samantha: inspirar outros jovens brasileiros.
“Diante da minha nota máxima em Redação, apesar de eu ter uma deficiência auditiva, quero servir de inspiração a todos os jovens da pátria verde-amarela, tanto ouvintes quanto surdos e deficientes auditivos, a fim de quebrar o limite de que (eles) não conseguem avançar na busca pelo conhecimento”.
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“Venci o bullying na vida escolar”, diz Samantha Britto
A Tribuna - Qual foi sua reação ao ver que tirou nota mil na Redação?
Samantha Britto - "Me senti tão brilhante, que chorei tanto. Tremi muito de emoção, agradeci a Deus, ao meu pai adotivo, Haroldo de Carvalho Filho, à minha “mãe”, Sirley de Souza Dias (avó), ao cursinho Ibituruna Top, e também ao Ifes (Campus de Itapina)".
Qual é a importância da organização para conquistar bons resultados?
"Organização é fundamental: criar um cronograma e métodos de estudos, a fim de que o estudante consiga avançar e conquistar seus objetivos. Manter a organização, ficar longe das redes sociais e de tudo que atrapalhe os estudos são excelentes dicas para o foco constante".
Com que idade você descobriu a deficiência auditiva?
"Com 5 anos. Meus tios me levaram ao otorrinolaringologista, daí foi diagnosticada a minha deficiência auditiva. Tive o acesso aos aparelhos auditivos a partir dos 7 anos. Antes disso, as pessoas não entendiam o que eu falava e vice-versa, e eu ficava bastante nervosa".
Você teve um bom ensino médio? Fez diferença?
"Sim! Isso fez uma diferença enorme para mim. Aprendi técnicas de estudos com mapas mentais, por exemplo. Sofri bullying, mas a equipe da escola, aliada ao professor Thiago Boldrini, interveio no problema. Aproveitei as oportunidades em aplicar monitorias, participei bastante dos trabalhos, seminários, eventos e, apesar do ritmo exigente, fui me tornando cada vez mais responsável, organizada e comprometida nos estudos".
Quais obstáculos você enfrentou na sua vida escolar?
"Venci o bullying. Eu ficava com a autoestima muito baixa, mas procurava ajuda de pessoas que me deram apoio. Sempre tive fé em Deus de que as coisas iriam melhorar, e foi o que aconteceu. Enfrentava problemas familiares e com moradia, mas tive o apoio de quem me amam e aproveitei isso. Foquei na minha persistência e superei os desafios. Ademais, só Deus e eu sabemos quão terrível foi a tempestade que enfrentei".
País tem 32 pontuações máximas
Um levantamento da equipe do Portal Nacional da Educação contabilizou, até meados de fevereiro, apenas 32 redações nota 1.000 no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em todo o País. Apenas 14 estados brasileiros e o Distrito Federal (DF) registraram estudantes com a conquista.
O Espírito Santo não está incluído entre os locais do levantamento, isto porque a estudante Samantha Souza, 20, nascida em Vila Velha e ex-aluna do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), Campus Itapina, em Colatina, realizou o Enem 2022 em Minas Gerais.
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), são avaliadas cinco competências na Redação do Enem, com 200 pontos, cada.
O professor de Língua Portuguesa e Redação do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) do Campus Itapina, Sérgio Braguínia, explica que uma das principais dificuldades dos estudantes é atender à normal culta de escrita da Língua Portuguesa.
“Aquilo que o aluno teve dificuldade ao longo de todo o aprendizado escolar, como o uso de conjunções, de pronomes relativos e a pontuação adequada, acaba diminuindo a nota. É preciso, ainda, apresentar argumentos adequados e propor devidamente uma intervenção ao problema. Todo erro gramatical desconta nota”.
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