Proposta de Lemann e sócios para salvar a Americanas
Empresário lidera trio que propôs injeção de R$ 6 bilhões para garantir funcionamento da empresa. Dívidas totalizam R$ 43 bilhões
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Após a Americanas anunciar “inconsistência contábil” de R$ 20 bilhões e entrar com pedido de recuperação judicial, os sócios da empresa propuseram aplicar verbas para garantir o “bom funcionamento” do grupo. As dívidas totalizam R$ 43 bilhões.
Segundo o Estadão, os acionistas de referência da empresa (Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira) propuseram, durante uma reunião com bancos credores, injetar R$ 6 bilhões na companhia, com os bancos entrando com outra parte, convertendo parte da dívida em ações.
Ainda assim, alguns dos envolvidos consideram que há uma saída viável para a empresa: uma injeção de ao menos R$ 15 bilhões pelos acionistas de referência, que só teria retorno em longuíssimo prazo.
“Um dos objetivos principais (da recuperação judicial) é a própria manutenção de empregos, pagamento de impostos e a boa relação com seus fornecedores e credores e investidores de forma geral”, afirma, em nota, a Americanas.
Com 3.601 lojas espalhadas pelo País, a Americanas teve o pedido de recuperação judicial aceito na Justiça do Rio de Janeiro.
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Especialista em recuperações judiciais, o advogado Felipe Finamore explicou que a recuperação busca criar condições para que haja manutenção das atividades econômicas e da função social da empresa.
“Existem diferenças entre recuperação judicial e falência. A sociedade, de forma geral, não sabe como funciona esse instrumento. A recuperação é remédio processual adequado àquelas empresas que, embora viáveis, tenham sofrido algum desencontro do caixa”.
Este é considerado o quarto maior caso do País, ficando atrás das recuperações da Odebrecht (R$ 80 bilhões), Oi (R$ 65 bilhões) e Samarco (R$ 65 bilhões).
“Com base nas informações que se tornaram públicas, não se verifica a existência de uma ruptura de obrigações da empresa com fornecedores ou clientes. Verifica-se uma crise muito maior em relação aos investidores do que com os credores”, considera Finamore.
Advogado trabalhista, Guilherme Machado relatou que, nesse contexto, a comunicação interna com colaboradores ocorre da melhor forma. “Sendo o principal objetivo pagar os salários em dia, e muitas das vezes pedir o parcelamento do FGTS na Caixa e parcelamento do INSS na União”.
Fortuna de acionistas é maior que o triplo da dívida
Fortuna conjunta dos três principais controladores das Americanas S.A., no final de dezembro, somava R$ 159,85 bilhões. Isso significa, então, que o dinheiro de Jorge Paulo Lemann, Marcel Hermann Telles e Carlos Alberto da Veiga Sicupira cobre 3,6 vezes o rombo de R$ 43 bilhões da rede de varejo.
O tamanho do rombo era estimado há alguns dias. E foi oficializado, portanto, no conteúdo do pedido de recuperação judicial do Grupo Americanas apresentado à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro na tarda última quinta-feira.
No levantamento da Forbes para os maiores bilionários do Brasil, publicado no dia 23 de dezembro do ano passado, Paulo Lemann aparecia como o home mais rico do País, com R$ 72 bilhões.
Os outros dois principais controladores da companhia apareciam também no “Top 5”: Marcel Telles era o terceiro colocado, com uma fortuna de R$ 48 bilhões e Carlos Sicupira estava em quarto lugar, com R$ 39,85 bilhões.
Bolsa
A Bolsa de Valores Brasileira (B3) informou na tarde desta quinta (19) que a Americanas (AMER3) será excluída de 14 índices, incluindo a Ibovespa, após ter entrado com o pedido de recuperação judicial na última quinta-feira. A exclusão ocorrerá após o encerramento do pregão de hoje.
SAIBA MAIS
“Rombo” contábil
A Americanas percebeu que R$ 20 bilhões — referente aos primeiros nove meses de 2022 e anos anteriores — não haviam sido registrados de forma apropriada nos balanços corporativos da empresa.
Além de emitir comunicado informando a situação, o presidente da companhia, Sergio Rial, deixou o cargo nove dias depois de assumir.
O diretor financeiro da empresa, André Covre, também renunciou.
Impacto no mercado
As ações da empresa despencaram quase 80% na Bolsa na quinta-feira, depois do comunicado. Corretoras e casas de análise começam a mudar as recomendações sobre as ações da companhia. Santander, o BTG Pactual e o Bradesco são os mais impactados.
Investidores prejudicados
Não apenas investidores de renda variável foram impactados: muitas pessoas que tinham aplicações em fundos de renda fixa também tiveram variações negativas em suas aplicações.
Ação na Justiça
A Americanas entrou com pedido de recuperação judicial no Rio de Janeiro, que foi aprovado ontem. Ela terá, agora, 60 dias para apresentar um plano de recuperação e demonstrar sua viabilidade financeira.
Fonte: Pesquisa AT
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