Automutilação: uma realidade mais frequente do que se imagina
Cláudio Miranda, terapeuta de Família e Psicopedagogo Clínico
Imagine você ser chamado na escola e a pedagoga te comunicar que seu filho está se cortando, se automutilando, se ferindo. Você, como pai, mãe ou avós, já passou por uma situação dessas? É muito desconfortável.
Os primeiros pensamentos que vêm à mente são: Onde foi que eu errei? Tenho dado o melhor de mim como pai e como mãe.
Outros questionamentos são levantados, do tipo: “Por que ele está fazendo isso”? “Ele tem tudo que precisa”.
Alguns poderão dizer: “Ele está fazendo isso para chamar a atenção”. “Dá uma surra nele que ele para”. E você? O que você diria sobre isso se alguém próximo a você estivesse se cortando e se automutilando?
Isso tem sido muito frequente e na maioria das vezes ele aparece lá na escola que é um local de convívio social intenso.
A automutilação é apenas uma das formas e demonstrações de que a saúde mental do adolescente não anda bem. Ouço com frequência os pais dizerem: “Meu Deus, como eu não percebi isso?”.
É muito comum surgir nos pais e cuidadores um sentimento de culpa muito grande e se sentirem fracassados como cuidadores dos filhos.
No momento em que se busca ajuda terapêutica para o filho, é importante os pais serem ajudados também.
Pode-se dizer que o estresse e as ansiedades da atualidade são um dos disparadores do problema vivenciado por crianças e adolescentes.
Podemos considerar também que os filhos, na atualidade, têm sido criados de tal forma que estão mais frágeis e não têm ferramentas psíquicas para lidar com suas perdas e dificuldades cotidianas.
Uma comunicação familiar ruim pode ser uma das causas da existência desse mal. Um relacionamento familiar empobrecido poderá agravar ainda mais o problema quando ele for identificado.
Muitos pais ficam com vergonha de estar passando por aquela situação. Se a automutilação tem uma ligação estreita com a dificuldade de comunicação entre pais e filhos e com a fragilidade das relações interpessoais dos adolescentes com seus cuidadores nesse momento, os pais precisarão aprender estratégias saudáveis de lidar com os filhos.
Muitas vezes esse problema passa despercebido pela família e também pela escola, que são os locais de intenso convívio e interação.
Então, além da família, a escola poderá aprender formas saudáveis de identificação desse e de outros problemas emocionais de seus alunos.
Dessa forma, a escola poderá trabalhar a saúde mental de seus alunos com técnicas e dinâmicas muito simples diluídas ao longo do ano.
Pelo contato diário com os alunos, os professores acabam assimilando de uma forma generalizada o perfil comportamental de seus alunos.
Quando sugiro isso, não estou dizendo que a escola vá se tornar uma clínica, mas pode ser um espaço com profissionais atentos à dinâmica dos alunos com seus colegas.
Ao se perceber algum problema, os pais daquele aluno poderão ser comunicados para os devidos encaminhamentos terapêuticos.
A automutilação precisa de um olhar profissional para avaliar todo o contexto em que ela acontece. Se alguém faz algo “para chamar a atenção”, é porque é de atenção que essa pessoa necessita.
Cláudio Miranda é terapeuta individual e familiar, psicopedagogo clínico, pós-graduado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP
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