Mulher forte é aquela que busca ajuda para tratar a endometriose
Confira a coluna Tribuna Livre desta quarta-feira (12)
Leitores do Jornal A Tribuna
Foi lançado no Rio de Janeiro o documentário “Endometriose, a minha dor não é normal”, da cineasta Marcia Paraíso. A obra, que será exibida em escolas públicas de todo o País, chama a devida atenção para a endometriose, doença que impacta e incapacita milhões de mulheres em todo o mundo.
A discussão e o esclarecimento sobre a endometriose são urgentes, uma vez que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença atinge cerca de 190 milhões de mulheres em todo o globo, e 10% da população feminina brasileira em idade reprodutiva.
Porém, por se tratar de uma doença ligada ao sistema reprodutivo e à intimidade feminina, muitas vezes a endometriose não é um tema debatido com naturalidade. Por motivos culturais, as dores femininas não são levadas a sério e as queixas causadas pela endometriose podem ser vistas como “frescura”.
Aprendemos desde cedo sobre o funcionamento do corpo humano e suas características reprodutivas. Mesmo assim, o tabu relacionado às questões essencialmente femininas ainda existe.
A utilização de um documentário informativo em escolas públicas pode ser uma via alternativa para informar e educar. Mas é preciso ir além: deve-se ampliar o conhecimento sobre a doença na população em geral e no meio médico, principalmente para que o diagnóstico precoce seja feito sem depender somente do especialista.
Conhecendo sintomas e sinais, a própria paciente consegue procurar o serviço de saúde mais rápido. A doença se torna um problema maior quando a mulher não consegue um diagnóstico assertivo pela falta de especialistas qualificados para atendê-la.
Em média, a mulher demora oito anos para chegar ao diagnóstico da endometriose. Isso porque muitas vezes o médico não faz uma anamnese mais ampla. O especialista precisa ter uma visão geral da mulher. O médico especialista em endometriose precisa ser, antes de tudo, um ótimo clínico, porque precisa saber ouvir a paciente, fazer a anamnese direcionada e um exame físico ampliado. Para isso, precisa conhecer as doenças que podem acometer a mulher em paralelo à endometriose.
Dependendo do grau da doença, as dores causadas pela endometriose podem ser incapacitantes. Muitas mulheres acometidas pela enfermidade sequer conseguem trabalhar ou serem produtivas no período menstrual, seja pelas dores ou pelo desconforto devido ao fluxo intenso.
É importante que o diagnóstico seja feito assim que os primeiros sintomas apareçam. Quanto mais cedo a mulher tiver ciência de sua enfermidade, mais rápido ela poderá agir para eliminar as dores e as inconveniências causadas pela endometriose.
Além disso, é fundamental que exista diálogo aberto com aqueles que cercam a paciente: família, amigos, empregadores. Muitas mulheres precisam faltar ao trabalho, ou não conseguem cumprir os compromissos no período menstrual.
É essencial uma rede de apoio que entenda como a doença pode ser incapacitante. A paciente também precisa entender que sentir dor não é normal. A mulher forte é aquela que busca ajuda.
KARIN ROSSI é vice-presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Espírito Santo.
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