O poder terapêutico da música
Dr. João Evangelista
Na casa dos meus pais havia um abacateiro que amava música clássica. Bastava eu sentar ao piano, ele esticava seus galhos para, através da janela, me ouvir tocar. Beethoven fortalecia suas raízes. Schubert o fazia florir.
Chopin amadurecia seus frutos. Esta observação parece desafiar a lógica, mas na vida há o conhecido conhecido, o conhecido desconhecido e o desconhecido desconhecido. Existem coisas que não sabemos que não sabemos.
O ritmo é um dos componentes essenciais da música, designando a variação da duração de sons com o tempo, colocando-se como definição de movimento ordenado.
Portanto, tudo aquilo que vive é subordinado às leis do tempo e movimento. A melodia cantada pelos vasos sanguíneos navega pela harmonia do corpo e embala o ritmo do coração.
Arte e ciência caminham unidas, desde épocas primevas, demonstrando o poder estimulador da música.
O ser humano nasce com o ritmo da respiração de sua mãe. Esse movimento, em sua ordenação de contração e descontração, traz o entendimento pulsátil para o feto em formação, juntamente com a canção de ninar e como essa o embala desde o seu nascimento.
Música é comunicação. Através dela, cria-se a ponte por onde transitam nossas memórias, profundas e superficiais.
A música sempre acompanhou a humanidade, dando sentido aos momentos e às épocas, refletindo os sentimentos e sonorizando a realidade. Tendo como amálgama a razão e a emoção, a música vincula a capacidade do ser humano de criar e recriar.
O paciente, através da musicoterapia, pode ser estimulado a penetrar em instâncias psíquicas, onde, muitas vezes, a palavra não consegue alcançar; ou seja, devido ao acometimento por doenças e deficiências, a linguagem verbal já não intervém com poder de penetração. Em situações de dificuldade de comunicação oral, é a partir da música que transmitimos nossos sentimentos.
A vida, como a música, pertence ao tempo, esse período que marca o corpo e constrói a memória.
Canções de embalar, músicas de escola, brinquedos sonoros, hinos cívicos e canções de amor formam o esqueleto que dá estrutura ao nosso ser. A melodia que pertence à infância de um idoso pode ser a ponte que liga às infâncias de várias gerações.
O poder de associação que a linguagem musical proporciona ativa centros cerebrais. A música alcança onde a palavra não consegue chegar. Na emoção gerada por uma canção pode estar a conexão do passado com o presente.
O tratamento musicoterápico estimula áreas encefálicas ainda não comprometidas por doenças. A música é uma das linguagens arcaicas, e uma das últimas formas de comunicação a serem lesadas por enfermidade cerebrais.
As canções de nossas vidas traçam rotas e caminham juntas com a nossa existência, traduzindo nossas vivências. Essas melodias nos pertencem. Fomos nós que as construímos com cada sorriso e cada lágrima.
A música consegue chegar onde a palavra já não mais alcança. Afinal, nós ouvimos música para nos escutar nela.
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