Pessoas trans e a prevenção
Leitores do Jornal A Tribuna
O mês de outubro passou e as discussões sobre a Campanha Outubro Rosa começam a esfriar. Marcado há anos pela conscientização sobre o câncer de mama, o mês ainda falha em incluir uma parcela da população que também é atingida pela doença, mas que não tem tanta visibilidade nas campanhas: as pessoas trans.
De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de mama vitimou mais de 18 mil pessoas no Brasil em 2021.
A falta de informação sobre os riscos do câncer de mama nessa parcela da população que ainda é encarada como minoria pode fazer com que a doença se desenvolva e só seja diagnosticada em estágios mais avançados. Por isso a conscientização é essencial, ao mesmo tempo que é necessário facilitar o acesso à saúde, principalmente a pública.
As mulheres trans têm cerca de 45 vezes mais chances de desenvolver câncer de mama que os homens cisgêneros, que são aqueles que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído no nascimento. Isso acontece principalmente devido ao uso de hormônios, mas também há fatores genéticos. Desse modo, as mulheres trans devem considerar a mamografia e todos os protocolos de prevenção.
Todo uso de hormônio deve ser acompanhado de perto por um médico. Após cinco anos de terapia hormonal, a mamografia é recomendada duas vezes ao ano para mulheres trans e travestis.
Com maior exposição aos hormônios femininos, as mulheres trans podem ser acometidas pelo câncer de mama em faixas etárias mais jovens. A mamografia reduz em 45% o risco de morte.
Os homens trans, por sua vez, também devem fazer o controle e prevenção. A mastectomia estética, que é a retirada das mamas para a identificação de gênero, não elimina por completo o risco do câncer, pois preserva o tecido mamário ao redor dos mamilos. Neste caso não é necessária a mamografia, mas o exame de palpação deve ser realizado mensalmente. Se houver predisposição genética, o rastreio deve ser feito seguindo todos os protocolos.
Se diagnosticado a tempo, as chances de cura do câncer de mama podem chegar a 95%. Para isso, é preciso que a detecção seja precoce. É de extrema importância que os serviços de saúde estejam preparados para receber a população trans, sem julgamentos. Muitos não procuram um médico por receio do preconceito e acabam padecendo com a doença. A falta de acolhimento e o estigma em relação a esse grupo social podem ser fatais.
Além disso, também precisamos frisar a importância da prevenção do câncer de próstata e do colo do útero. Os homens trans, que não realizam a histerectomia, assim como as mulheres cis, devem fazer o papanicolau regularmente. E as mulheres trans, da mesma forma que os homens cis, devem realizar o exame de toque e o PSA para verificar a saúde da próstata sempre que necessário.
A população trans também precisa se conscientizar sobre os cuidados com a saúde. Sabemos que são inúmeros os desafios e obstáculos a serem superados na sociedade heteronormativa e patriarcal que vivemos, mas o amor próprio e o cuidado com o bem-estar deve ser colocado em primeiro lugar. Ame-se!
KITIA PERCIANO é médica oncologista do Núcleo especializado em Oncologia (Neon).
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