Nas relações, os opostos dificilmente se atraem
O físico francês Charles Augustin de Coulomb, por meio de um aparato experimental chamado balança de torção, determinou uma das leis da Física mais importantes sobre eletricidade e magnetismo que preconiza que cargas de sinais iguais tendem a se repelir e sinais contrários, por sua vez, tendem a se atrair.
Na psicologia e na lida cotidiana no consultório, no entanto, observa-se que tal lei, no que tange aos relacionamentos interpessoais, parece ser contrária – indivíduos com valores similares tendem a se atrair e pessoas com valores diferentes tendem a se repelir.
No livro “A revolta de Atlas”, cuja primeira tradução brasileira do título foi “Quem é John Galt?”, a escritora russa naturalizada americana Ayn Rand apregoou que “O amor é a nossa resposta aos nossos valores mais elevados – e não pode ser outra coisa”. Ou seja, o amor de cada qual nada mais é do que o resultado de seus valores subjetivos mais caros.
Frequentemente, pacientes relatam estar convivendo ou se relacionando com alguém totalmente diferente de si mesmos, o que, na constatação prática, não necessariamente representa a verdade.
É óbvio que as pessoas são diferentes, têm gostos diferentes, querem coisas diferentes, mas tais pressupostos não devem ser confundidos com valores diferentes.
Por exemplo, um casal talvez divirja no tocante ao gosto musical, aos ambientes que cada qual aprecia, à bebida preferida, ao tipo de diversão escolhida etc. No entanto, há alguns valores superiores compartilhados que possibilitou tal atração, tais como família, justiça, educação, solidariedade, humildade e responsabilidade.
Na década de 1960, o psicólogo americano Donn Byrne foi um dos primeiros a estudar as similaridades entre as relações interpessoais. À época, a sua pesquisa mostrou que as pessoas se sentiam mais atraídas àquelas que possuíam valores semelhantes aos seus e que quanto maior a similaridade, maior a atração.
Em um estudo mais recente, em 2016, pesquisadores da Universidade de Wellesley, no estado de Massachusetts, e da Universidade de Kansas entrevistaram 1.523 casais para determinar o tamanho do papel das similitudes nos relacionamentos. Eles encontraram semelhanças em 86% das variáveis dos casos.
De acordo com as psicólogas americanas Ellen Berscheid e Elaine Walster, há várias hipóteses que explicam as razões pelas quais os indivíduos com valores correspondentes se atraem – corroboração que a pessoa não está sozinha em suas crenças, prevenção dos comportamentos futuros do indivíduo com o qual se está relacionando e oportunidade de ação prévia, maior facilidade nas negociações interpessoais, autopreservação no que concerne à Weltanschauung (visão de mundo) entre outras.
Em vista disso, a probabilidade é alta de o indivíduo cercar-se de pessoas com valores semelhantes aos seus ainda que possa parecer justo o oposto. Nas relações, os opostos dificilmente se atraem e reconhecer as similaridades é, com certeza, mais benéfico que destacar as diferenças.
MARA TELMA GOMES MARTINS é psicóloga com especialização em Gestão de Pessoas e Terapia Cognitiva Comportamental.