FALA, DOUTORA!: Dormir bem pode aumentar 5 anos de vida
Pesquisa indica que quem dorme melhor vive mais, tendo menos doenças neurológicas, cardiovasculares e psiquiátricas
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Quem não gostaria de viver mais, não é mesmo? Atividades físicas, alimentação saudável e controle do estresse estão entre os pilares para isso. Só que, além deles, se você quer viver mais, melhor começar a cuidar do seu descanso noturno.
A pneumologista e especialista em Medicina do Sono Jessica Polese esteve no Tribuna Lab e afirmou que o sono desempenha um papel crucial na saúde e na longevidade, tanto que pesquisas recentes apontam que dormir bem pode aumentar cinco anos de vida.
“Há pesquisas falando sobre mortalidade e tempo de vida. Pacientes que dormem mal, morrem mais cedo. Temos uma média de cinco anos de diferença”, explicou a especialista, que é a atual presidente da Associação Brasileira do Sono/Regional Espírito Santo.
Um sono de qualidade, de acordo com a médica, envolve dormir entre sete e oito horas (para um adulto), dormir em um ambiente agradável, evitar se expor à luminosidade e a refeições pesadas antes de se deitar e, além disso, é preciso acordar descansado.
A Tribuna - Como o sono afeta diretamente no processo de envelhecimento?
Jessica Polese - Durante o sono, a nível de sistema nervoso, acontece uma verdadeira limpeza. Tem um sistema chamado de glinfático (função parecida ao do sistema linfático periférico), como se ele “lavasse” todas as substâncias que ficam no cérebro.
Durante o sono é a hora que revitalizamos as células, de uma maneira geral. Quem dorme mal, seja por quantidade insuficiente de horas ou por qualidade ruim, haverá um comprometimento na limpeza e revitalização dos tecidos.
Temos evidenciado uma relação entre o sono ruim com os processos demenciais (como Alzheimer), com a piora dos distúrbios psiquiátricos, com o funcionamento neurológico, de uma maneira geral. As pesquisas têm mostrado que a base dos problemas neurológicos tem relação com o sono.
Quanto podemos envelhecer dormindo mal?
Há pesquisas falando sobre mortalidade e tempo de vida. Pacientes que dormem mal, morrem mais cedo. Temos uma média de cinco anos de diferença. Pelas pesquisas, quem dorme melhor vive um pouco mais, tendo menos doenças, principalmente as cardiovasculares, neurológicas e psiquiátricas.
Ou seja, quem dorme mal morre cinco anos mais cedo, quem dorme bem ganharia mais cinco anos, mas isso é pesquisa de qualidade do sono.
Dormindo mal estou mais suscetível a doenças infecciosas?
Há pesquisas bem sérias sobre a relação de imunidade e sono. Tiveram algumas pesquisas sobre “pega” de vacina. Evidenciou-se que a imunidade, depois de vacinar, estava muito dependente da noite dormida. Os indivíduos que dormiam mal tinham menor desenvolvimento de resposta imune para a vacina aplicada. Isso mostra que nosso processo de imunidade pode ser alterado se dormimos mal. Vemos que a imunidade cai, quase de imediato, quando temos um sono ruim. Imagine isso de forma crônica.
Por outro lado, nos pacientes com doenças autoimunes e reumáticas, como artrose, artrite e fibromialgia, o sono ruim causa mais dor. Esses pacientes que dormem mal sentem mais dor.
Também há relação entre sono e emagrecimento?
Sim. Quando dormimos mal, produzimos muito cortisol, hormônio do estresse, que aumenta o apetite e, consequentemente, o peso. Outra situação é que quem não dorme à noite, tem tendência a comer. Além de sentirem mais fome durante a noite, há mais fome por carboidratos.
Quem dorme bem tem mais facilidade de emagrecer. Não é à toa que pacientes com apneia de sono, quando começam a se tratar, começam a emagrecer, porque dormem melhor e têm mais disposição de fazer atividades físicas.
É possível recuperar noites mal dormidas?
Sono perdido é perdido. Sem um sono de qualidade é como se a gente fosse uma máquina trabalhando sem reparo, sem óleo, sem lubrificação. Mas sempre é hora de tentarmos fazer melhor. É abrir mão de algumas coisas para dormir bem, principalmente dos estímulos dos eletrônicos, como o celular.
Existe uma quantidade ideal de horas para dormir?
É muito individual, mas um adulto jovem e ativo tem de se permitir dormir, pelo menos, sete horas. Mas, às vezes, ele vai precisar de mais horas. As crianças, quanto mais novas, mais tempo elas precisam de sono.
Como melhorar o sono?
É preciso ter uma rotina: antes de dormir, diminuir os estímulos de tela; reduzir a quantidade de líquidos, comer refeições leves e até duas horas antes, evitar as atividades físicas próximo da hora de dormir e também evitar as bebidas estimulantes, como o café.
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