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Coronavírus

“Um dos maiores desafios da minha profissão”, diz médica sobre o coronavírus


Médica intensivista e coordenadora de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Eliana Caser conta que, em função da pandemia do coronavírus, as equipes estão se preparando para o maior desafio de saúde da história. Para ela, um dos maiores da sua profissão.

Imagem ilustrativa da imagem “Um dos maiores desafios da minha profissão”, diz médica sobre o coronavírus
Médica Eliana Caser disse que, por causa do coronavírus, vai haver escassez de tudo, incluindo recursos humanos |  Foto: Kadidja Fernandes/AT

“Nunca vivemos nada parecido. Como estamos na linha de frente, é muito desafiador. Nunca mais seremos os mesmos”.

Com uma larga experiência como intensivista, cerca de 30 anos, e liderando uma equipe de 70 profissionais, Eliana Caser afirma que as pessoas que podem e devem manter o distanciamento social e seguir a orientação do governo do Estado.

“Abril será o mês de maior desafio para o capixaba. Peço para que as pessoas fiquem em casa, o quanto conseguirem. As medidas de isolamento tomadas pelo governo do Estado estão corretas”.

A Tribuna – É o maior desafio da sua carreira?

Eliana Caser – Eu estou muito preocupada pelo que está por vir. Estamos readequando todos os processos de trabalho, fluxo. Realizando treinamentos. Sabe aquela guerra que você tem de se preparar? Está tudo muito complicado para todo o sistema de saúde.

Estou me preparando para um dos maiores desafios da minha profissão, mas não sou a única. As equipes estão se preparando para o maior desafio de saúde da história. Nunca vivemos nada parecido. Como estamos na linha de frente, é muito desafiador. Nunca mais seremos os mesmos. A rápida disseminação e o alto contágio faz com que a demanda acabe sendo maior que a oferta.

Essa ainda não é a realidade no Estado, pois ainda não faltam leitos, certo?

Não, mas essa onda vai chegar a partir da semana que vem. Ainda não tem muita procura, mas isso é inevitável. Vai haver escassez de tudo, incluindo escassez de recursos humanos, porque os profissionais da saúde também irão adoecer em função dessa doença.

Olha os outros países, que são muito melhores em sistema de saúde do que o nosso, olha a loucura que está Nova Iorque, os Estados Unidos, a própria Itália, Madri, você imagina o que aconteceu lá. Falência, colapso. Nenhum sistema de saúde aguenta essa demanda aumentada, não tem fôlego.

Como a transmissão já é comunitária, por exemplo, qualquer paciente que chegar ao pronto-socorro com insuficiência respiratória pode ser positivo para Covid-19. Antigamente, quando vinha algum paciente idoso, a gente achava que era pneumonia comum.

Hoje você faz uma tomografia, mas ela não fecha o diagnóstico. Você não tem um exame para confirmar esses casos graves. A gente quer fazer, mas ainda não temos a resposta rápida.

Então, o que acontece?

Nós tratamos como suspeito porque esses doentes idosos e crônicos descompensam doença de base por um vírus e a gente tem que colocá-los em isolamento por segurança, por causa da equipe, por causa dos outros pacientes.

Nesse isolamento, a gente trata como se fosse Covid-19. Só depois que sai o resultado, que geralmente você vai ficar sabendo que não é. Mas nem todo problema respiratório é Covid. É importante fazermos sempre o diagnóstico diferencial.

Um paciente grave pode demorar quando tempo para se recuperar?

É uma doença de impacto rápido, que dissemina rápido, você aumenta a demanda dos serviços de saúde e aí de 10 que internam, dois vão para a UTI.

Esses pacientes graves que vão para a UTI, ele não libera logo o leito. Ele vai ficar lá durante três, quarto semanas internado em ventilação mecânica. Então, ele não saindo de lá, como é que eu vou rodar leito para outros pacientes? A taxa de ocupação vai estar alta e eu vou ter uma baixa rotatividade de doentes de leito.

Por isso é essencial o hospital de campanha, não é?

Isso. É o que a gente chama de intervalo de substituição. Eu não vou ter vaga para colocar os pacientes porque aquele doente está demorando muito para se recuperar, para sair do ventilador mecânico.

Esses que vão ficar mais graves, eles vão ficar entubados, em ventilação mecânica e vão ficar muito mais tempo ocupando a vaga da UTI. Por isso pode existir falta de leitos de UTI na rede pública de saúde.

O hospital faz um plano de contingência em relação a leitos de UTI e também hospital de campanha para prestar assistência aos pacientes graves.

Como se trata essa doença?

Para esse vírus específico não tem tratamento. Existem só projetos de pesquisa. Existem vários medicamentos que podem estar implicados na redução da replicação viral. Não tem uma resposta ainda. A população não deve sair comprando remédio na farmácia. O tratamento é de suporte.

Quando o doente chega ao hospital ele vai usar níveis de suplementação de oxigênio. Em casos leves, no nasal; nos casos moderados usa através de uma máscara e, nos graves, vai ter que entubar e colocar no ventilador mecânico para fazer o papel do pulmão.

E os profissionais da saúde, como estão?

Um artigo científico publicado em 23 de março quando foi aplicado um questionário em 1.257 profissionais de saúde na China (Wuhan) que atuaram na linha de frente em pacientes com coronavírus, demonstrou que enfermeiros e médicos apresentaram maior risco de depressão, ansiedade, insônia. Então, isso é a repercussão que nós vamos vivenciando depois. As equipes ficam ansiosas.

Mesmo assim a equipe de saúde mantém a linha de frente, que é a nossa função. A nossa especialidade trabalha com riscos. Precisamos de equilíbrio, treinar as equipes, estamos treinando por duas semanas médicos, enfermeiros, fisioterapeutas. Foram treinamentos sobre EPI adequado para esse enfrentamento, entubação segura...

Como os pacientes com coronavírus estão?

Dos pacientes que passaram até o momento pela UTI, a maioria é de casos moderados.

Qual é o recado que deixa para a população?

Abril será mês de maior desafio para o capixaba. Peço para que as pessoas fiquem em casa, o quanto conseguirem. As medidas de isolamento tomadas pelo governo do Estado estão corretas. Se ficar todo mundo doente de vez, vai sobrecarregar todos os hospitais. Não tem como atender a todos.

Com a sua experiência, quando vamos voltar à normalidade?

Sinceramente, até julho eu acho que nós não vamos voltar. Depois vamos continuar tendo casos de coronavírus, mas no nível mais estável. Esse ano não vai ser ano de viagem, de festas, vai ser um ano de recessão, um ano muito difícil.

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