Três meses depois daquele banho de mar
Se uma imagem vale mais do que mil palavras, as fotos de Jair Bolsonaro provocando aglomerações em Praia Grande (SP) nas suas férias de R$ 2,4 milhões são a síntese da conduta do Presidente na tragédia das 331 mil mortes por covid-19.
“Já dava para saber que chegaríamos a este ponto. Desde janeiro a gente está avisando: o que aconteceu em Manaus acontecerá no resto do Brasil”, diz a epidemiologista Ethel Maciel. Três meses depois do mergulho, a Baixada Santista conta seus mortos, e as projeções para o abril da pandemia no País são péssimas.
Vale... A ocupação de leitos de Covid-19 nos municípios da Baixada Santista está em torno de 80% e, em leitos de UTI, beirando os 90%, segundo dados oficiais. Na virada do ano, enquanto a ciência pedia restrições, Bolsonaro dizia que a pandemia estava no fim.
...lembrar. Em Praia Grande, onde Bolsonaro tomou o banho de mar, havia, até sexta-feira passada, quase 12.500 casos confirmados de Covid-19. Desde o dia 1º de janeiro, foram ao menos 119 mortes pela Covid na cidade, ante 313 de todo o ano passado.
CLICK. Jair Bolsonaro na Praia Grande: enquanto Presidente provocava aglomeração, banhistas gritavam “mito” e atacavam o governador de São Paulo, João Doria.
Tristeza. O vídeo do prefeito de Mongaguá, Márcio Melo Gomes (Republicanos), chorando a morte de familiares e defendendo medidas à restrição de circulação comoveu o País. As duas cidades são vizinhas.
Conta alta. Nas mesmas férias de R$ 2,4 milhões, segundo dados obtidos oficialmente pelo deputado Elias Vaz (PSB-GO), Jair Bolsonaro também provocou aglomerações no litoral de Santa Catarina. Sempre sem máscara, obviamente.
Conta outra. E a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência agora quer convencer o País de que o Presidente sempre adotou atitude responsável.
Em busca... A comissão da Covid-19 no Senado marcou para o dia 12 deste mês audiência pública na qual debaterá o uso de fábricas brasileiras de vacinas para animais na produção de imunizantes contra a Covid-19 destinados a humanos.
...de saída. Serão convidados o Instituto Butantan, a Fiocruz, os ministérios da Ciência e Tecnologia e Relações Exteriores e a Anvisa.
Prioridade. A possibilidade de utilização das plantas industriais de produção de vacinas para animais na confecção de imunizantes contra a Covid-19 para humanos foi apresentada a Bolsonaro, que pediu diretamente a Marcelo Queiroga prioridade no assunto.
Vazão. De acordo com o senador Wellington Fagundes (PL-MT), que tem sido um interlocutor dessa indústria, os laboratórios hoje usados para produzir vacinas para a pecuária, conseguem se adaptar e iniciar a produção de imunizantes contra a Covid-19 em 90 dias e podem chegar a 400 milhões de doses.
Celeridade. “Os órgãos responsáveis precisam dar uma resposta rápida, pessoas estão morrendo”, afirmou Fagundes.
Encosta... Mais um fator que contribuiu para a derrocada de Fernando Azevedo e Silva: Eduardo Pazuello foi chorar as pitangas no colo do Presidente: reclamou por ter sido chamado de volta para o Exército pelo então ministro.
...sua cabecinha. Segundo a Coluna apurou, o Presidente se emocionou.
Pronto, falei!
Em artigo sobre a conjuntura política
"Há que juntar as forças capazes de se contrapor a estrebuchamentos autoritários eventuais”.
Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República