“Receita” para formar superbebês é perigosa, alertam médicos
Especialistas chamam a atenção para riscos de nova moda em que grávidas usam suplementos para que filhos nasçam com QI acima da média

Não basta ter um bebê saudável. A nova moda agora é fazer crianças “nascerem com alto QI”. Essa promessa ganhou força nas redes sociais nos últimos meses: gestantes se submetendo a suplementações, sem indicação médica, com a esperança de que os filhos nasçam com a inteligência acima da média.
No “procedimento”, as gestantes recebem – por via oral ou de forma injetável – uma espécie de “receita”, composta de vitaminas e aminoácidos, para formar um “superbebê”, mais inteligente. A prática, porém, é perigosa e não recomendada pelos médicos.
O ginecologista e obstetra Coridon Franco, especialista em medicina fetal pela Febrasgo e professor assistente da disciplina Saúde da Mulher da Emescam, alerta que, como não há nenhum protocolo, nenhuma diretriz robusta que orienta a suplementação vitamínica ou qualquer outro suplemento injetável em gestante, “não faz sentido utilizar algo que não tem evidência científica”.
Segundo o médico, as suplementações indicadas para a gestante geralmente são ferro – preferencialmente por via oral –, ácido fólico e cálcio. “Agora, esses protocolos que prometem 'superbebês' não têm nenhuma validação científica”.
O pediatra Rodrigo Aboudib, 1º secretário da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), ressalta que é preciso escolher o que olhar e o que seguir nas redes sociais, tendo um “profundo senso crítico com essas 'teorias'”.
“Toda gestante deve fazer um acompanhamento cuidadoso de sua gestação, com um profissional de sua confiança, que irá seguir os protocolos já amplamente conhecidos que possam garantir uma gestação tranquila e segura para o binômio mãe e filho”, destaca.
Sandra Albano Scherrer Lopes, coordenadora médica da Pediatria, Maternidade, Pronto-Socorro e Utin do Hospital Santa Rita, esclarece que suplementação é importante até mesmo antes de a mulher engravidar, mas tudo “devidamente quantificado”.
“É preciso que a mulher faça exames antes de suplementar. Depois de engravidar, o cuidado é redobrado. Suplementar com base em QI não tem comprovação científica. Isso pode ser perigoso, porque algumas vitaminas, em excesso, podem causar alterações neurológicas. O ferro, por exemplo, em excesso, em uma situação que a mãe está em vigência de uma infecção bacteriana, é alimento para bactérias”, alerta.
Pré-natal em dia
“Acompanhamento”

A advogada de Direito Médico Tamires da Mata, 33, grávida de 24 semanas de sua filha Laura, faz acompanhamento com uma nutricionista materno-infantil, que ajusta sua alimentação e suplementação conforme seus exames.
“Minha obstetra solicita periodicamente os exames de sangue. Como gestante, eu sei como é natural buscar o melhor para o bebê, mas, como advogada da área, reforço que o caminho mais seguro é sempre um pré-natal baseado em evidências, alimentação equilibrada, exames de rotina e acompanhamento próximo do profissional que cuida de cada gestação”.
Saiba mais
Prática não possui evidência científica
O que é o “protocolo superbebê”
Nas redes sociais, têm circulado promessas de que gestantes poderiam formar “superbebês” com uso de injetáveis, vitaminas em altas doses e protocolos de suplementação padronizados.
Esses métodos, apresentados como “receitas milagrosas”, alegam estimular inteligência e maior desempenho futuro da criança.
O que a ciência diz
A Febrasgo e médicos ainda alertam que tais práticas não possuem respaldo em evidências científicas robustas, nem estão incluídas em diretrizes clínicas reconhecidas.
A adoção indiscriminada de suplementos e substâncias injetáveis na gestação, fora de indicações clínicas comprovadas, pode representar riscos sérios à saúde materna e fetal.
Segundo especialistas, a medicina atual trabalha com suplementação individualizada, baseada em exames laboratoriais da gestante.
Suplementos recomendados
De acordo com os especialistas, os suplementos comprovadamente indicados para gestantes são:
ácido fólico (ou folato, por melhor absorção), essencial já no período de tentativa de engravidar.
Ferro, geralmente prescrito no primeiro trimestre, via oral. A versão injetável só é usada quando a paciente não tolera a via oral.
Cálcio e vitamina D, em casos específicos, conforme necessidade. Todo o restante deve ser avaliado caso a caso, conforme exames e acompanhamento médico.
Riscos do excesso de vitaminas
Especialistas alertam que hipervitaminose pode ser tão prejudicial quanto a deficiência. Exemplo: vitamina A em excesso pode causar alterações neurológicas e até neurotoxicidade.
O ferro, se suplementado sem critério, pode alimentar bactérias em casos de infecção. Doses elevadas de vitaminas ou minerais podem sobrecarregar fígado, rins e outros órgãos, trazendo riscos tanto para a mãe quanto para o bebê.
O que os especialistas recomendam
Acompanhamento médico e nutricional individualizado, desde o planejamento da gestação.
Fonte: Especialistas consultados e Febrasgo.
Comentários