Pacientes com mais de 50 anos buscam terapias para nova fase da vida
Adoecimento físico e emocional, aposentadoria, luto e mudanças familiares estão entre os motivos

A maturidade chega trazendo conquistas, mas também desafios que nem sempre são fáceis de enfrentar.
Por isso, cada vez mais pessoas acima dos 50 anos têm buscado apoio na terapia para lidar com questões como aposentadoria, doenças, ansiedade, rotina e autoestima.
Um desses casos é o da autônoma Rosana Alvarenga, de 60 anos, que, em 2020, procurou a terapia por estar enfrentando crises de ansiedade.
“Eu estava ansiosa, depressiva e não conseguia dormir direito. Tive várias crises de ansiedade e minha cardiologista me orientou a buscar ajuda”.
“Hoje já consigo me relacionar melhor com as pessoas e lidar melhor com os problemas. Minha psicóloga me ajudou bastante”, afirma Rosana, que, por incentivo do tratamento, começou até a costurar para fazer laços.
Psicóloga, mestra e doutoranda em Psicologia pela Ufes, Thays Hage analisa que esse aumento na procura de cuidado psicológico está ligado também ao processo de envelhecimento populacional.
“Com o maior número de pessoas idosas, é possível que a proporção de pessoas buscando terapia aumente”.
Um segundo ponto apontado por Thays diz respeito à diminuição do preconceito em relação à psicoterapia e ao aumento da conscientização sobre a importância dos cuidados em saúde mental ao longo do tempo, principalmente após os movimentos de reforma psiquiátrica e luta antimanicomial.
A terapeuta familiar sistêmica Ana Maria de Souza analisa que viver mais significa chegar aos 50 anos e fazer escolhas diferentes daquelas que foram feitas na juventude. “A terapia tem sido um recurso que proporciona essa possibilidade de escolha com mais leveza que anos atrás”.
Segundo a psicóloga Greyciara Gomes Amorim, especialista em Neuropsicologia, o público acima dos 50 anos está mais aberto ao cuidado emocional e entende que a psicoterapia é um investimento em qualidade de vida, algo mais evidente após a pandemia.
Ela destaca que ansiedade e depressão também são comuns nessa faixa etária, mas podem se manifestar de forma diferente como em preocupações excessivas com a saúde, insônia e desânimo.
“Muitas vezes esses sinais são confundidos com 'coisas da idade', o que atrasa o cuidado”, alerta.
Os motivos
Autoestima e envelhecimento
O impacto das mudanças físicas e sociais do envelhecimento é um dos fatores que levam à busca por terapia. Numa sociedade que hipervaloriza a juventude, muitas pessoas enfrentam dificuldades com autoestima e aceitação da própria imagem.
Ansiedade e depressão
Transtornos emocionais como ansiedade e depressão são comuns após os 50 anos, mas podem se manifestar de forma diferente, em sintomas como preocupações excessivas com a saúde, insônia, fadiga, dores no corpo ou desânimo. Muitas vezes, esses sinais são confundidos com “coisas da idade”, atrasando o cuidado adequado.
Autoconhecimento
Além de lidar com dificuldades, muitos buscam terapia como espaço de autoconhecimento, aprendizado e fortalecimento para enfrentar as limitações da idade.
É também um recurso para aprender a filtrar problemas familiares sem perder a própria identidade, encontrando novas formas de viver essa etapa com leveza e alegria.
Solidão e mudanças familiares
A chamada síndrome do ninho vazio – quando os filhos deixam a casa – costuma trazer sentimentos de solidão.
Além disso, mudanças nas configurações familiares e a necessidade de assumir novos papéis, como o de cuidador de netos ou pais idosos, podem gerar sobrecarga emocional.
Adoecimento físico e mental
Pessoas acima de 50 anos procuram psicoterapia também para lidar com diagnósticos de transtornos mentais, processos demenciais ou dificuldades em aceitar e conviver com doenças físicas – próprias ou de pessoas próximas. Essas situações frequentemente, segundo especialistas, despertam medo, insegurança e sentimentos de fragilidade.
Perdas e luto
A vivência de perdas nessa fase da vida é mais frequente: separações, falecimentos de cônjuges, familiares ou amigos. Esses momentos podem gerar sofrimento intenso e dificultar a retomada da vida cotidiana, levando à busca por acolhimento emocional.
Aposentadoria e perda de propósito
O fim da vida profissional pode ser acompanhado por uma sensação de vazio, perda de rotina e de propósito. A aposentadoria muitas vezes exige um processo de adaptação, em que a terapia pode ajudar a ressignificar essa nova etapa.
Ajuda profissional
“Nunca tive resistência em fazer terapia”
Há 10 anos uma servidora pública, de 74 anos, que preferiu não se identificar, contou que foi incentivada a procurar terapia para superar um problema pessoal que fez oscilar seu equilíbrio emocional.
“Nunca tive resistência em fazer terapia. Acho que quem está com problemas e consegue perceber isso, por si só ou através de uma rede de apoio, não deve ter medo de pedir ajuda de um profissional, pois é ele que irá auxiliar a entender, enfrentar e lidar com o conflito, sofrimento, ansiedade ou depressão”.
Ela, que começou com sessões semanais, depois quinzenais, hoje faz terapia uma vez por mês.
“A terapia me ajudou a me comunicar melhor e a encarar, sem receios, novos desafios. A gente é levado a se conhecer melhor, a se escutar e a procurar respostas. Com isso, conseguimos aceitar e lidar melhor com as nossas emoções”, afirma.
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