Nova injeção mais potente contra obesidade vai chegar às farmácias
A expectativa é de que seja vendido entre 3.200 e 3.700 reais. A caneta vem com quatro doses, suficientes para um mês de tratamento
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Apontado como um medicamento mais “potente” no tratamento de diabetes tipo 2 e da obesidade, o Mounjaro (tirzepatida) chega as farmácias do País em junho.
O medicamento injetável, aplicado semanalmente, ainda não teve preço definido pela farmacêutica responsável por sua comercialização – a Eli Lilly –, no entanto, a expectativa é que seja vendido entre R$ 3.200 e R$ 3.700. A caneta vem com quatro doses, suficientes para um mês de tratamento.
No Brasil, a tirzepatida é aprovada, por enquanto, para diabetes tipo 2. No entanto, deve ser usada off-label (finalidade fora da bula) para obesidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, as duas indicações já estão aprovadas.
A endocrinologista Camila Pitanga Salim destacou que a diferença entre Ozempic ou Wegovy – já no mercado – e o Mounjaro está na sua composição. “O Ozempic e o Wegovy são compostos pela semaglutida que é um análogo de GLP-1. Já o Mounjaro tem como princípio ativo a tirzepatida que, além do GLP-1, também apresenta o agonista do GIP. Ele atua nos receptores dos dois hormônios intestinais simultaneamente”.
Ela destacou que ambas composições são indicadas para diabetes e de obesidade. “Porém, devido ao efeito adicional, a tirzepatida vem demonstrando maior potência no controle do diabetes e no percentual de peso perdido nos estudos clínicos realizados”.
A endocrinologista e professora Lusanere Cruz destaca que, além de potência maior, a tirzepatida ainda tem efeitos colaterais menores. “É um medicamento mais eficiente”.
A nutricionista Mahira Rezende enfatizou que, apesar dos efeitos no emagrecimento, não se pode acreditar que a medicação será solução definitiva para obesidade.
“Além do acompanhamento médico para uso, é preciso ter acompanhamento nutricional e manter atividade física para minimizar a perda de massa muscular”.
Segundo ela, o uso indiscriminado das “canetas emagrecedoras” tem provocado perda de peso acentuada, mas com perda da massa muscular seguida de fadiga, indisposição. “Se não houver mudança no estilo de vida, não há emagrecimento que se sustente”.
O que eles dizem
Ferramentas boas
“Toda essa nova classe de medicamentos vem mudando a história da obesidade e seu tratamento.
Hoje podemos falar que temos ferramentas muito boas para tratar a obesidade com medicamentos seguros e eficientes. Porém, só devem ser usados sob prescrição e acompanhamento médico e, assim como para todo tratamento de doença crônica, é necessário seguimento a longo prazo”.
Camila Pitanga Salim, endocrinologista
Sem efeito sozinho
“O Monjaro chega a ter uma perda 25% do peso corporal. Estamos falando de uma medicação que possibilita uma perda de peso semelhante à cirurgia bariátrica.
No entanto, nenhuma medicação sozinha – e nem a cirurgia bariátrica – faz com que a pessoa mantenha essa perda do peso, se ela não mantiver também a mudança de estilo de vida”.
Lusanere Cruz, endocrinologista
Mais uma arma
“Embora chegue ao mercado brasileiro com indicação na bula para diabetes, certamente será usado off-label para obesidade, uma vez que já tem liberação em outros órgãos pelo mundo, para esse tratamento.
Há grande expectativa de ter mais uma arma no arsenal terapêutico para a doença – que é multifatorial, crônica, incurável, porém controlada com medicamentos, com comportamento e, em alguns casos, com cirurgia”.
Roger Bongestab, cirurgião e nutrólogo
Tire suas dúvidas
1. Como age o Mounjaro?
A medicação – que tem como princípio ativo a tirzepatida – é considerada uma agonista de dois hormônios do intestino: do GLP-1 e do GIP (peptídeo inibidor gástrico). Dessa forma, a tirzepatida é considerada um duplo agonista.
Um agonista é uma substância capaz de se ligar a um receptor celular e ativá-lo para provocar uma resposta biológica. Nesse caso, a substância tem efeitos positivos para o controle dos níveis de açúcar no sangue e da saciedade.
2. Qual a diferença dele para Ozempic e Wegovy?
Apesar de ter ação semelhante, a semaglutida (substância do Ozempic e Wegovy) é análoga apenas do GLP-1, ou seja, de um dos hormônios.
3. Para que é aprovada?
O medicamento, no País, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em setembro de 2023, para tratamento de adultos com diabetes tipo 2. No entanto, não tinha chegado ao mercado ainda.
A aprovação para utilização no tratamento da obesidade ainda está em análise, mas deve ser usado Off Label (por indicação fora da bula).
Nos Estados Unidos, ele foi aprovado para tratamento da obesidade, com nome comercial de Zepbound.
4. Como é a aplicação?
A aplicação é subcutânea e semanal, e a dose é progressiva, que vai de 2,5 mg, até 5 mg, 7,5 mg, 10 mg, 12,5 mg, chegando a 15 mg.
O remédio pode provocar efeitos colaterais como hipoglicemia, náuseas e incômodos gastrointestinais, e seu uso deve ser feito com acompanhamento médico.
5. Quantos quilos é possível perder?
Isso varia para cada pessoa. Estudo feito pela farmacêutica mostrou que a tirzepatida levou a uma redução de 47% maior do que os medicamentos que usam a semaglutida.
Os resultados mostraram ainda que 31,6% dos participantes do primeiro grupo conseguiram eliminar pelo menos 25% do peso. O resultado foi alcançado por 16,1% daqueles no grupo da semaglutida.
No entanto, especialistas enfatizam que o acompanhamento médico, a adesão a mudanças de estilo de vida e ao seguimento reduzem as chances de novo ganho de peso.
6. Por quanto o medicamento será vendido?
Previsto para chegar ao mercado brasileiro em junho, o Mounjaro ainda não teve preço definido pela farmacêutica Eli Lilly.
A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) – que define o preço máximo ao consumidor – estabeleceu que o valor para o consumidor poderá variar de R$ 1.523,06 a R$ 4.067,81, a depender de imposto de cada estado e da dose por embalagem.
Segundo especialistas, os valores devem girar em torno de R$ 3.200 e R$ 3.700.
7. Medicamento precisa de prescrição médica?
A medicação deve ser usada com prescrição médica. Segundo especialistas, no entanto, a retenção de receita nas farmácias ainda não é obrigatória.
Há uma solicitação das sociedades médicas para maior controle da comercialização dessa classe de medicamentos, com finalidade de se evitar o uso indevido e indiscriminado da medicação.
8. Medicamento já é usado antes de chegar ao mercado?
Sim. Apesar de não ter chegado às farmácias brasileiras, por enquanto os brasileiros têm usado as medicações via importação das canetas.
Fonte: Agência Estado, Folhapress e especialistas consultados na reportagem.
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