Nova arma contra dengue pode estar em uma abelha brasileira
Estudiosos brasileiros identificaram composto com capacidade de eliminar 100% das larvas do Aedes aegypti em até 48 horas
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Uma pesquisa brasileira identificou um composto com alto poder larvicida contra o Aedes aegypti no própolis da mandaçaia (Melipona quadrifasciata), uma abelha nativa do Brasil e sem ferrão.
O estudo mostra que essa substância é capaz de eliminar até 100% das larvas do mosquito em até 48 horas. A descoberta foi feita por cientistas da USP, da UnB e de startups de Ribeirão Preto, e o resultado foi publicado na revista científica Rapid Communications in Mass Spectrometry, com apoio do Ministério da Saúde e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A substância ativa é um tipo de diterpeno, encontrado na resina do pinus (Pinus elliottii), árvore amplamente cultivada no Brasil. As mandaçaias usam essa resina para construir e proteger seus ninhos. Segundo os pesquisadores, o contato da resina com a saliva das abelhas altera sua estrutura química e potencializa a ação larvicida.
“As abelhas são conhecidas por recolher materiais na natureza para compor a colônia, que, em certos casos, podem atuar protegendo contra bactérias e fungos invasores”, destaca Norberto Peporine Lopes, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP).
“Fizemos uma série de análises na geoprópolis, que mistura resinas vegetais com partículas de terra ou argila na composição (a própolis tradicional é feita apenas com resinas, cera e secreções das abelhas). Observamos que o diterpeno presente nela era responsável pela atividade larvicida”, completa.
Nos testes realizados, o própolis tradicional da abelha europeia Apis mellifera teve efeito mínimo. Já a geoprópolis da mandaçaia matou 90% das larvas em 24 horas e 100% em 48 horas.
Mesmo outras abelhas nativas, como jataí e mirim, não mostraram o mesmo efeito. Isso reforça que a combinação entre a resina do pinus e o metabolismo da mandaçaia é o diferencial.
“Era sabido que a composição química da própolis é influenciada pelas resinas coletadas para a construção e proteção dos ninhos, assim como pela composição florística do ambiente, do bioma e de fatores sazonais”, frisou Luís Guilherme Pereira Feitosa, primeiro autor do artigo.
“Nesse caso, ficou claro que a resina do pinus, processada pela saliva das mandaçaias, é que proporciona a ação larvicida”, acrescenta.
Apesar do resultado promissor, o volume de própolis produzido por essas abelhas é pequeno. Por isso, os cientistas sugerem copiar o processo em laboratório.
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