“Mounjaro fake” vendido a partir de R$ 150 e médicos fazem alerta
Médicos alertam para os riscos das ampolas manipuladas ou importadas. Vendas só devem ser feita com prescrição médica
O anúncio em grupos do WhatsApp e redes sociais chama a atenção: “resultados impressionantes”, “versátil e eficaz”, “fórmula superconcentrada” e “melhor preço”. Trata-se da venda de uma suposta ampola de tirzepatida, usada para emagrecimento.
Em um mercado ilegal de venda, doses de 2,5mg do “Mounjaro fake” têm sido comercializadas e aplicadas em clínicas de estética e até salões de beleza por valores a partir de R$ 150. Médicos, no entanto, fazem um alerta para os riscos da prática.
O Mounjaro, da farmacêutica Lilly, é o único medicamento à base de tirzepatida aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no País. A comercialização também só deve ser feita com prescrição e retenção da receita.
No entanto, a substância tem sido facilmente encontrada em ampolas manipuladas ou importadas, em especial do Paraguai.
Sociedades médicas enviaram, no final de novembro, uma carta aberta à Anvisa para solicitar a suspensão cautelar da fabricação, comercialização e prescrição de versões manipuladas.
Entre os argumentos do pedido está o “risco sanitário iminente”, caracterizado por produção irregular, ausência de controle de qualidade e comercialização clandestina das substâncias.
A endocrinologista e atual presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia no Espírito Santo (SBEM-ES), Maria Amélia Sobreira Gomes Julião, classificou essa venda como “problema gravíssimo”.
“Não sabemos a real composição desses produtos que se dizem tirzepatida. Não sabemos a qualidade, a tecnologia, se o produto é estéril e seguro para ser injetado. Esse manipulado pode ser uma bomba-relógio para a saúde pública”.
Ela ressaltou que isso ganhou uma escala “gigantesca”. “Esses produtos são vendidos em consultórios, locais de estética e academias. Estão vendendo sem receita médica”.
A endocrinologista Camila Salim ressaltou que medicamentos sem procedência não têm a garantia de eficácia e de segurança. “Não têm certificação, não passaram por estudos clínicos e não têm equivalência comprovada com a substância original”.
O cirurgião e nutrólogo Roger Bongestab salientou a preocupação crescente com a venda da tirzepatida sem controle.
“Mesmo a manipulação precisa de receita médica. É preciso ter cuidado, pois emagrecer não é perder peso. É perder gordura. O que temos visto são pessoas ‘derretendo’ por usarem medicação em doses não recomendadas. Então perdem massa magra”.
Saiba mais
Mounjaro
O Mounjaro é composto pela tirzepatida, um medicamento aprovado no País pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para duas indicações:
Melhorar o controle glicêmico de adultos com diabetes mellitus tipo 2, em conjunto com dieta e exercícios.
Recentemente também foi aprovado para controle do peso, em conjunto à dieta de baixa caloria e aumento de atividade física, em adultos com obesidade ou com sobrepeso na presença de pelo menos uma doença associada (por exemplo, hipertensão, colesterol alto, apneia obstrutiva do sono, doença cardiovascular, e pré-diabetes).
O Mounjaro é comercializado pela farmacêutica Eli Lilly, que tem a patente legal até por volta de 2036.
Como age no organismo
A tirzepatida funciona imitando a ação de dois hormônios intestinais naturais: o GLP-1 e o GIP. Essa ação combinada ajuda a regular a produção de insulina, diminuir a produção de glicose pelo fígado e reduzir o apetite e promover a sensação de saciedade, o que contribui para a perda de peso.
Mercado “paralelo”
Com a promessa de emagrecimento rápido, o mercado irregular da tirzepatida cresceu de forma desenfreada no último ano, sendo vendida em ampolas nas redes sociais ou aplicadas em clínicas de estética, consultórios e até em salões de beleza.
O problema é que, na maioria das vezes, a aplicação não se dá com a caneta original, vendida em farmácias.
São formulações manipuladas em larga escala ou importadas, por exemplo, do Paraguai.
Além disso, a medicação precisa de receita retida pelas farmácias para serem vendidas.
Tirzepatida Importada
Uma das origens mais comuns da tirzepatida importada que chega ao Brasil é o Paraguai – onde existem “fábricas” produzindo essa substância em larga escala.
Um dos problemas apontados pelos médicos é que não existe um órgão fiscalizador como Anvisa ou FDA (Estados Unidos) para avaliar sua segurança e composição.
No Brasil, a Anvisa já proibiu a importação desses produtos recentemente, também vendidos em ampolas.
Outro problema dos importados é o acondicionamento para chegarem ao Brasil, já que produtos entram ilegalmente, sem qualquer garantia de resfriamento no trajeto.
Manipulados
A manipulação no Brasil é permitida em circunstâncias restritas e específicas, para atender necessidades médicas individuais, a partir de prescrição.
Ou seja, o médico tem que prescrever a tirzepatida em receita carbonada e, para ser manipulada, a dose tem que ser diferente das doses existentes do medicamento original.
O remédio não pode ser oferecido em pronta entrega, com estoques nem ser produzido em escala industrial, como tem sido visto.
Além disso, médicos ressaltam que a produção da tirzepatida exige tecnologia avançada, controles de qualidade rigorosos e testes físico-químicos e analíticos sofisticados para monitorar impurezas biologicamente ativas.
Riscos
No caso dos manipulados em larga escala e importados, médicos apontam que não há como saber a real composição desses produtos que se dizem tirzepatida.
Não há qualquer garantia da qualidade desses produtos. Segundo médicos, há riscos de complicações que vão desde alergias, lesões intestinais, entre outras.
Por não serem conhecidas as substâncias, eles alertam para consequências no futuro, de potencializar alguma doença, como pancreatite, doenças autoimunes ou outras.
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