Médicos explicam porque AVC atinge cada vez mais jovens
Desde 2019, mortes pela doença já ultrapassam óbitos por infarto e atingem cerca de 10% das pessoas com menos de 55 anos
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Desde 2019, as mortes por acidente vascular cerebral (AVC) têm ultrapassado as por infarto. No ano passado, foram 111.839 mortes por AVC, contra 104.419 por infarto. Os dados são do Portal da Transparência de Registro Civil.
Um fator tem chamado a atenção dos médicos: o AVC tem acometido cada vez mais jovens. A incidência é de que 10% das pessoas com idade inferior a 55 anos sejam atingidas por ele. E por que isso tem acontecido?
Segundo especialistas, diversos fatores têm contribuído, incluindo sedentarismo, terapia hormonal e até o uso de anticoncepcional. O assunto foi discutido durante o 7 Simpósio Capixaba de AVC, que começou nesta quinta-feira (29) e se encerrou na sexta (30).
A neurologista Soo Yang Lee aponta que a prevalência dos casos em mais jovens afeta, principalmente, as mulheres, por conta do uso de anticoncepcionais.
“Muitas pessoas têm uma condição genética chamada trombofilia, que aumenta a chance de infarto cardíaco ou cerebral. Se a pessoa tem alguns hábitos como tabagismo, alcoolismo, uso de drogas e anticoncepcionais”.
A médica alerta ainda que o sedentarismo é o principal hábito de vida que pode levar a um AVC.
Segundo a neurologista e presidente da Sociedade Brasileira de AVC (SBACV), Maramélia Miranda, na população entre 18 e 55 anos, o AVC isquêmico é o tipo mais prevalente. Nesse tipo de AVC, há uma obstrução de uma artéria no cérebro e falta o sangue na região.
Maramélia explica que, na última década, os casos desse tipo aumentaram em torno de 60% a 70%, e que estudos mostraram que os jovens estão mais obesos e sedentários, desenvolvendo mais precocemente doenças cardiovasculares como hipertensão e colesterol alto”
“Temos ainda o uso de drogas ilícitas e de terapia hormonal. Hoje, o uso de terapia hormonal é muito comum e hormônio é um fator de risco para o AVC isquêmico em jovens. No hemorrágico, que geralmente é mais grave mas menos frequente, há rompimento do vaso. Se a pessoa é tratada rapidamente, tem menos chance de sequelas”, explica a médica.
O tratamento para o isquêmico é feito com remédio para dissolver o coágulo, o trombolítico, ou trombectomia, segundo explica a neurologista. “Já no hemorrágico, o objetivo é tratar todos os problemas que levam ao quadro, desde baixar a pressão arterial aos problemas de coagulação”.
Projeto em escolas públicas
Ainda este ano, um projeto de conscientização do AVC para estudantes do 3º ano do ensino fundamental será desenvolvido nas escolas públicas de Vila Velha em parceria com a Fundação Inova e a Organização Mundial de AVC.
A gerente de Ensino, Pesquisa e Inovação da Fundação iNOVA CApixaba, Ana Carolina Ramos, explica que têm sido demonstrado que mais de 50% das pessoas que têm AVC estão acompanhadas por uma criança.
Por isso, o projeto visa ensinar às crianças os sinais da doença, como alteração na fala, fraqueza - especialmente de um lado do corpo -, dor de cabeça súbita, como fazer a ligação para o Samu, como se portar ao fazer a ligação e como falar o endereço de suas residências.
“Muitas vezes, essas pessoas não vão para o atendimento adequado, indo para uma unidade básica de saúde, em vez de ligar para o Samu (192) e ser deslocada para o hospital. O conteúdo será trabalhado durante cinco semanas com os professores. O intuito é ampliar para outros municípios”.
O projeto faz parte do Programa Angels, iniciativa internacional da Boehringer Ingelheim, em que as crianças recebem material didático após o treinamento.
Estado registra 20 casos de AVC todo dia, diz Sesa
O Espírito Santo atende, todos os dias, 20 casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC), sendo 7 mil por ano. Os números foram apresentados pelo secretário de Estado da Saúde, Miguel Duarte, durante o 7º Simpósio Capixaba de AVC.
“Cerca de 75% dos casos no Espírito Santo são de AVCs isquêmicos, ou seja, 15. Desses, 10 não chegam para a janela de atendimento (de 4 a 5 horas) para a realização da trombólise (procedimento que utiliza medicação para dissolver um coágulo). E apenas dois são pacientes potenciais para a trombectomia mecânica, com janela de até oito horas”.
Desde 2012, a trombectomia, para AVC isquêmico, é realizada no Hospital Estadual Central (HEC), em Vitória, referência no tratamento de AVC.
“A trombectomia é o cateterismo cerebral, por via mecânica, para a retirada desse coágulo que está entupindo a artéria. O procedimento, geralmente, é realizado por uma artéria da virilha. Subimos até o cérebro, identificamos onde está essa artéria obstruída, retiramos o coágulo e restabelecemos o fluxo sanguíneo”, explica o diretor-técnico do HEC, Marcelo Torres.
A coordenadora do Simpósio e gerente de Ensino, Pesquisa e Inovação na Fundação a gerente de Ensino, Pesquisa e Inovação na Fundação iNOVA Capixaba, Ana Carolina Ramos, destaca que, apesar de o Estado ser referência nacional para o tratamento agudo, ainda é preciso aprimorar a prevenção e reabilitação.
“Apenas 40% dos pacientes que tiveram AVC retornam em três meses para fazer a terapia na Ufes. Isso é pouco. Para sobrevivência, a pessoa precisa de qualidade de vida, porque, às vezes, ela fica com sequelas, precisa sair do mercado de trabalho e a família acaba tendo de deslocar atenção”.
Entre os pontos abordados durante o evento estavam também os tratamentos pós-AVC, conforme pontuou a neurologista Soo Yang Lee. Ela destacou que o grande desafio é conseguir reabilitar os pacientes, já que ainda há dificuldade em reverter sequelas.
“Hoje, temos a neuromodulação cerebral (tentando regenerar neurônios que foram lesados) e o uso de canabidiol (melhorando padrão de sono, dor e rigidez muscular) como auxiliar no processo de reabilitação”.
O que dizem os especialistas
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