Médicos afirmam que sono ajuda a ter coração saudável
Qualidade do sono passou a integrar uma lista de fatores de risco para problemas cardíacos
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Comer de forma saudável, praticar atividade física, não fumar, evitar o estresse e o sedentarismo são algumas das formas para evitar doenças cardiovasculares.
Se você segue essa cartilha, mas não dorme bem, pode estar correndo risco de ter uma doença do coração. Isso porque, segundo médicos, o sono é essencial para a saúde do coração.
A qualidade do sono, inclusive, passou a integrar uma lista de fatores de risco para problemas do coração e do cérebro. A última atualização desta lista, da Associação Americana do Coração, havia sido feita 12 anos atrás.
A médica especialista em Medicina do Sono e pneumologista Jessica Polese explica que essa atualização é um grande avanço, já que agora a cardiologia passa a procurar mais pelos distúrbios do sono como fatores que colaboram ou estão causando hipertensão.
“Quando a pessoa tem um distúrbio do sono, que a faz despertar várias vezes, é como se ela acordasse de manhã cedo. Isso eleva a pressão arterial e a frequência cardíaca, ocasionando uma descarga de catecolamina, além de desregular a produção de cortisol (hormônio que ajuda a controlar o estresse)”.
“No final, o indivíduo acorda cansado e com a pressão alta. Não raro, a hipertensão só é noturna, porque durante o sono é o período em que ele tem mais pico de catecolamina e descarga dos hormônios de estresse”, destaca a médica.
Segundo a pneumologista, muitas vezes o paciente nem é obeso ou apresenta outros fatores de risco para a hipertensão, apenas o distúrbio do sono, como a apneia (parada momentânea da respiração durante o sono). Jessica pontua que essas alterações podem aumentar os níveis de colesterol e glicose no sangue, elevando o risco de diabetes.
O cardiologista Diogo Barreto ressalta que a apneia do sono é fator de risco para hipertensão resistente de difícil controle, arritmias e até mesmo para a morte súbita.
“Os infartos e os acidentes vasculares cerebrais (AVC) são mais comuns em pessoas que não dormem bem, pelo fato de a pressão ficar mais alta e não ter o descenso noturno (redução de 10% da pressão arterial durante o sono)”.
De acordo com Diogo, durante a avaliação do paciente, os cardiologistas investigam também questões sobre o sono. “Perguntamos se a pessoa dorme bem e quantas horas dorme. Além disso, perguntamos para o acompanhante também se a pessoa ronca”.
“Tenho insônia”
A auxiliar de serviços gerais Claudiceia dos Santos, 57 anos, trabalhou durante 15 anos à noite. Há 11 anos descobriu a hipertensão e, em 2020, durante a pandemia, começou a ter insônia.
“Passei 15 anos dormindo uma noite sim e outra não. Poucos anos depois descobri a hipertensão e agora faço uso de remédio contínuo”.
“Com a pandemia passei a trabalhar ao dia e agora tenho dificuldades para dormir”, conta.
Para tratar a insônia, além de acompanhamento médico, ela também faz uso de chás naturais, além de exercícios físicos.
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Atualização
- Após mais de 12 anos sem atualização de critérios, a Associação Americana do Coração (AHA) passou a recomendar o sono de qualidade como item essencial para a saúde do coração e do cérebro.
- Apesar de o sono já ser considerado um fator importante para a saúde como um todo, ele estava na lista “complementar” e não “essencial”.
- A documentação oficial dos critérios da associação já incluía outros sete fatores essenciais dos cuidados da saúde do coração: exposição à nicotina, atividade física, alimentação, peso, glicemia, colesterol e pressão arterial.
Prevenção
- De acordo com a AHA, os estudos determinaram que mais de 80% dos eventos que afetam coração e cérebro podem ser evitados por um estilo de vida saudável e dentro disso está uma boa noite de sono.
Horas de sono
- A sugestão da entidade é de que os adultos tenham entre 7 e 9 horas diárias de sono ininterruptas para manter uma boa saúde cardiovascular.
Distúrbios do sono
- Os distúrbios do sono mais comuns são a insônia, a apneia obstrutiva do sono, a síndrome das pernas inquietas e o bruxismo.
- Na apneia do sono, por exemplo, há paradas respiratórias durante o sono. Assim, a pressão arterial e a frequência cardíaca aumentam, além dos vasos ficarem mais estreitos por conta da baixa oxigenação no sangue, podendo ocasionar doenças como hipertensão arterial e arritmias.
- Em indivíduos já em tratamento de doenças do coração e hipertensão arterial, a apneia do sono não tratada pode contribuir para a piora da função do coração e aumentar o risco de morte. O tratamento da apneia é multifatorial, podendo ser usado o gerador de pressão positiva contínua na via áerea (CPAP) ou, em alguns casos, a cirurgia.
Fonte: Médicos consultados, Agência Einstein e pesquisa AT.
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