Mais de duas mil cirurgias bariátricas todo ano no ES
Procedimento pode ser realizado geralmente a partir dos 16 anos, explicam especialistas. Atualmente, ele é feito por vídeo ou robô
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Das mais de 40 milhões de mortes anuais atribuídas a doenças crônicas não transmissíveis, 5 milhões são influenciadas pelo sobrepeso e obesidade. É o que mostra levantamento feito pela Federação Mundial da Obesidade (WOF, na sigla em inglês) e divulgado no Atlas da Obesidade Mundial neste mês.
Entre as alternativas de tratamento está a cirurgia bariátrica. Estimativa feita por especialistas da área no Estado aponta que, em média, mais de 2 mil cirurgias são feitas por ano no Espírito Santo. E a procura tende a aumentar, até mesmo entre os adolescentes.
O aumento entre o público adolescente se justifica: o próprio levantamento da WOF, com base nas tendências atuais, aponta que até 2035, mais de 750 milhões de crianças (com idade entre 5 e 19 anos) deverão viver com sobrepeso e obesidade.
Há uma grande procura de cirurgia por adolescentes, obesos mórbidos, porque a obesidade está sendo cada vez mais comum na infância, explica o cirurgião do aparelho digestivo Gustavo Peixoto, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
“Assim que o paciente tiver uma capacidade de autocuidado, uma consciência do que é a cirurgia, do pós-operatório, já tiver a idade óssea consolidada, pubarca nos homens e menarca nas mulheres, ele já pode fazer cirurgia bariátrica. Geralmente, começa a fazer a partir de 16 anos”, ressalta.
Gustavo destaca que, ano após ano, existe uma tendência de aumento da bariátrica, devido ao aumento da obesidade e à melhora dos desfechos por meio da cirurgia, que antes era aberta e hoje é por vídeo ou por robô.
A cirurgiã Diandria Bertollo aponta que para a realização das cirurgias, os casos são sempre avaliados de forma individualizada, onde equipe multidisciplinar atua na avaliação de indicar ou não a cirurgia. “O que deve ser sempre levado em conta por esses pacientes é buscar equipe médica habilitada e com experiência comprovada, para que sua avaliação seja feita de forma correta”.
O cirurgião bariátrico e nutrólogo Roger Bongestab alerta que a obesidade é uma doença que não tem cura.
“Nem a cirurgia cura e nem as medicações. Todos os procedimentos são feitos de forma a controlar a doença e, principalmente, melhorar a qualidade de vida, aumentar a sobrevida do paciente, diminuindo as complicações advindas da síndrome metabólica”, destaca.
Cantora surpreende com 47 quilos
A forma física da cantora Maiara, da dupla com Maraisa, chamou atenção nos últimos dias nas redes sociais. Pesando 47 quilos, internautas chegaram a questionar a magreza da cantora, sugerindo até que ela pudesse estar doente.
Maiara veio a público e revelou ter feito vários procedimentos com o intuito de emagrecer, como bariátrica, lipoaspiração e a colocação de um balão intragástrico.
Disse ainda que estava lutando contra o aumento de peso e quase precisou passar por uma nova cirurgia bariátrica.
“Desde criança sempre fui acima do peso. É uma questão genética, de família. Com a obesidade existem outros problemas de saúde, que são pressão alta, diabetes. Hoje devo estar com 47 quilos, mas já cheguei a pesar 85 quilos”, revelou a cantora.
“A cirurgia ajuda, mas não resolve a vida. Há cinco anos passei por uma lipo e coloquei silicone, porque tive sobra de pele. Cheguei a 62 quilos. Mas há um ano engordei de novo e parei no 75 quilos. Coloquei balão e tentei de tudo”.
Maiara contou que agora o foco é perder gordura e ganhar massa muscular, sendo acompanhada por médicos e educador físico. “Estou na melhor fase da minha vida”, afirmou.
O cirurgião do aparelho digestivo Gustavo Peixoto, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), destaca que existe muito preconceito não só com a cirurgia bariátrica, mas também com a obesidade.
“No País, a obesidade, muitas vezes, não é vista como uma doença, que aumenta os custos da saúde, faz com que as pessoas tenham infarto, derrame e câncer. Muitas vezes, é atribuído ao indivíduo a obesidade. E sabemos que não é só isso”, destaca o médico.
Gustavo diz ainda que quando a pessoa faz a bariátrica, há um emagrecimento expressivo e é normal que a pessoa queira fazer uma plástica reparadora. “Isso é normal, é previsto pelo SUS e é previsto também pelas normas da Agência Nacional da Saúde Suplementar”
Pacientes encaram nova operação
Nem todos os pacientes que se submetem a uma cirurgia bariátrica conseguem manter o processo de emagrecimento.
O País realiza, em média, 100 mil cirurgias por ano, segundo o cirurgião do aparelho digestivo Gustavo Peixoto, sendo que de 8% a 10% dessas cirurgias são revisionais, ou seja, uma segunda bariátrica.
O cirurgião bariátrico Roger Bongestab explica que quem faz bariátrica pode ter um efeito sanfona. “O efeito sanfona é nada mais do que uma manifestação chamada de recidiva do peso. Por ser uma doença crônica incurável, ela fica em latência, ou seja, o peso diminui, mas quando o paciente tem hábitos errados, ele volta a subir”.
Segundo o médico, pacientes bariátricos têm, às vezes, necessidade de medicações, mesmo no pós-operatório, para poder manter o peso controlado. Roger ressalta que é preciso atenção aos pacientes bariátricos, já que a perda de peso pode envolver perda de músculo, de gordura, de ossos e de água.
Pacientes devem ter em mente, segundo a cirurgiã Diandria Bertollo, que hábitos saudáveis, como adoção de dietas adequadas e atividade física regulares, são sempre fatores determinantes para bons resultados quanto à perda de peso.
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