Febre do Oropouche vira surto em duas cidades no ES
Doença causada pelo mosquito maruim se espalhou por Iconha e Alfredo Chaves. Em todo o Estado, foram registrados 928 casos
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Com menos de 14 mil habitantes cada, Iconha e Alfredo Chaves, no Sul do Estado, enfrentam um surto de febre do Oropouche, doença transmitida pelo mosquito maruim.
De acordo com o boletim divulgado nesta quinta-feira (14) pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), em todo o Espírito Santo já foram registrados 928 casos desde o início deste ano.
Iconha passou de 96 para 194 casos confirmados em sete dias. Já Alfredo Chaves registrou 75 novos casos confirmados na última semana, totalizando 166.
Assistente de gestão no escritório do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) em Alfredo Chaves, Adriano Machado testou positivo para a doença no último dia 4. Por causa dos sintomas, ele chegou a desmaiar no trabalho.
“Comecei a sentir os sintomas em um domingo e na segunda-feira fui trabalhar. Na mesma manhã, desmaiei, fui para o pronto-socorro, tomei duas bolsas de soro e tive alta. Fiquei uma semana de atestado, com febre, dor no corpo, todos os sintomas, que no meu caso foram bem piores do que os da covid-19”, disse ele.
A coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Alfredo Chaves, Eveli Sinhorelli, revelou que o sistema que alimenta os dados da Sesa apresentou problemas e que, na cidade, os casos positivos foram contabilizados em 320 desde outubro.
“O sistema em Alfredo Chaves apresentou alguns erros, e não conseguimos enviar todos os dados a tempo. Somente hoje temos 320 casos confirmados desde outubro”, informou.
Segundo a clínica geral Márcia Dantas, a febre do Oropouche apresenta sintomas parecidos com os da dengue, o que pode dificultar o diagnóstico.
“A febre do Oropouche tem sintomas inespecíficos que lembram aqueles observados na dengue, como febre, dor de cabeça e dor muscular intensas, diarreia e náusea. Os sintomas, em geral, começam na primeira semana após o contato com o vírus e duram de dois a sete dias”.
Ainda segundo a médica, os casos devem ser notificados às secretarias de saúde das cidades, para que sejam adotadas as medidas de saúde pública necessárias ao controle do vetor e da transmissão da doença.
“É importante se hidratar e não se automedicar”
O diretor do Laboratório Central de Saúde Pública do Estado (Lacen), Rodrigo Ribeiro Rodrigues, falou sobre o aumento no número de casos da febre do Oropouche no Espírito Santo.
- A tribuna: Esses números de casos confirmados são motivo de preocupação?
Rodrigo Ribeiro: A doença não é considerada grave, e nenhuma morte foi confirmada no Espírito Santo até o momento. Não foram identificados, até agora, casos em que comorbidades ou idade avançada pudessem agravar os sintomas ou causar internações. Contudo, recomendamos que, caso o paciente apresente sintomas, procure uma unidade de saúde. É importante se hidratar e não se automedicar.
- E quais são os sintomas da febre do Oropouche?
São semelhantes aos da dengue, como febre, dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações, calafrios, náuseas e vômito, fotofobia e tontura.
- O que a Sesa tem feito para combater o aumento dos casos?
Orientamos os municípios e profissionais de saúde a emitir nota técnica sobre o manejo clínico e o acolhimento dos pacientes, além de informações sobre a doença e como evitar a proliferação do mosquito.
Febre de 40 graus
Moradora de Alfredo Chaves, a servidora pública Marluce Gaigher de Paula Bertoldi, de 42 anos, testou positivo para febre do Oropouche em agosto. Ela contou que apresentou febre de 40 graus e uma dor no corpo intensa.
“Um dia antes do Dia do Professor, comecei a apresentar os sintomas, mas a dor no corpo era algo fora do comum. Sem falar que cheguei a ter febre de 40 graus. Procurei o pronto-socorro, tomei soro e dipirona, mas foi bem ruim”, ressaltou.
“A sorte é que na minha casa só eu peguei, mas no meu bairro vários vizinhos testaram positivo, na verdade a cidade está em pânico. Agora é prevenir, e se positivar, se cuidar de acordo com as orientações do médico”.
Pronto-socorro
Enfermeira e diretora administrativa do Hospital Padre Humberto de Anchieta, Bárbara Simoni afirma que é essencial que qualquer pessoa com sintomas suspeitos, como febre alta, dor intensa no corpo, dores nas articulações e mal-estar procure o pronto-socorro.
“A febre do Oropouche apresenta sintomas semelhantes aos de outras doenças, como a dengue, o que torna o diagnóstico precoce essencial para confirmar a infecção e iniciar o tratamento adequado”, explicou.
“Procurar atendimento médico também ajuda a prevenir o agravamento e permite orientar o paciente quanto aos cuidados necessários, além de contribuir para controlar a disseminação da doença”, ressaltou Bárbara.
SAIBA MAIS
Cidades com maior número de infectados até quinta-feira (14)
1º Iconha: 194
2º Alfredo Chaves: 166
3º Laranja da Terra: 123
4º Anchieta: 83
5º Colatina: 50
Sintomas
- Febre alta repentina.
- Dor de cabeça intensa.
- Dores no corpo e nas articulações.
- Mal-estar geral.
- Náuseas e tonturas.
- Sensibilidade à luz (fotofobia).
- Em casos raros, pode causar sintomas neurológicos.
Transmissão
Transmitida pelo mosquito Culicoides paraensis, conhecido como maruim ou mosquito pólvora, que infecta a pessoa ao picá-la.
Formas de prevenção
- Usar repelentes regularmente, especialmente em áreas de surto.
- Colocar telas em portas e janelas para reduzir a entrada de mosquitos.
- Utilizar roupas compridas e claras, que oferecem maior proteção.
- Realizar a limpeza de locais onde há matérias orgânicas onde o mosquito possa se reproduzir.
- Em locais rurais, é necessário que os ambientes onde animais ficam sejam sempre limpos.
Fonte: Sesa.
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