Ex-dependente conta como superou o vício: "Eu bebia perfume e álcool de limpeza"
Após perder familiares e enfrentar recaídas graves, mulher encontra apoio no tratamento público
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No final da adolescência, entre 17 e 18 anos, a saladeira Jackeline Lopes Batista dos Santos, hoje com 48 anos, começou a beber. O motivo: “Eu era uma menina muito tímida e queria muito me enturmar. A bebida me deixava mais alegre e eu me 'soltava' mais”.
Mas o que era apenas aos fins de semana, tornou-se um hábito diário. Hoje, ela está em tratamento no Centro de Acolhimento e Atenção Integral sobre Drogas (CAAD) de Vitória, da Rede Abraço.
Para quem busca vencer o vício e lidar com questões de saúde mental, a porta de entrada se dá pela atenção primária, ou seja, pelas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) dos municípios. No Estado também existem 45 Centros de Atenção Psicossocial (Caps).
A Tribuna - Com que idade você começou a beber?
Jackeline Lopes - Entre 17 e 18 anos. Bebia por curtição. Eu ficava mais alegre, me soltava mais e isso influenciou. Antes, porém, eu era contra a bebida. Era atleta, gostava de vôlei, mas na adolescência senti a necessidade de entrar em um padrão da turma.
Quando você percebeu que a bebida se tornou dependência?
Depois dos 30 anos. Eu perdi um filho durante a gestação, não tive mais filhos; perdi meu pai, mãe e um irmão, tive decepção amorosa, relacionamento abusivo, tudo isso foi piorando.
Quando viu que precisava de ajuda?
Já teve situação de eu passar 15 dias bebendo direto. E mesmo não tendo mais a bebida, eu bebia perfume, álcool de limpeza e leite de rosa. Na manhã seguinte começava a beber cerveja ainda na padaria. Eu gastava meu dinheiro guardado ou comprava fiado.
Na última recaída, no final do ano, estava de férias. Comecei a beber antes do Natal e minha família me encontrou no dia 14 de janeiro, caída no chão. Foi o pior momento que passei em todas as recaídas que tive.
Você sabia que precisava de ajuda?
Sim. Aceitei que precisava de ajuda. Ia chegar a um ponto que eu iria para rua, vender meu corpo e usar outros entorpecentes. Moro sozinha, mas minha família me acolheu. Minha irmã me levou para a casa dela. Fui em uma psiquiatra particular que me afastou do meu trabalho e me indicou o CAAD. Estou aqui e há quatro meses não uso nenhum tipo de álcool, graças ao apoio que recebo aqui. A aceitação é o primeiro passo. Não conseguimos sozinhos.
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