Ciência explica o poder dos exercícios para a mente
Estudos mostram que a prática está associada à redução de sintomas de ansiedade, depressão e à melhora do sono
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De relatos pessoais a grandes estudos científicos, a relação entre exercício físico e saúde mental está cada vez mais evidente. Tanto que médicos já passaram a incluir atividades físicas como parte da “prescrição” para tratar ou prevenir transtornos mentais.
Um estudo brasileiro de larga escala, com dados de mais de 58 mil adultos, publicado no Journal of Affective Disorders, mostrou que qualquer nível de atividade física está associado à redução do risco de sintomas depressivos.
Segundo os autores, os efeitos positivos estão relacionados a respostas neuroendócrinas e inflamatórias tanto imediatas quanto de longo prazo, e a melhorias na arquitetura cerebral.
“Sempre escrevo na receita: fazer atividade física”, afirma o psiquiatra Fernando Furieri. Ele cita dois estudos relevantes: o primeiro, publicado no American Journal of Psychiatry, concluiu que a prática regular reduz o risco de depressão em até 26%. O segundo mostrou que os efeitos do exercício físico podem ser comparáveis aos dos antidepressivos em casos leves a moderados.
Mas ele destaca que os benefícios se estendem para além de pacientes com depressão. Segundo o psiquiatra, há benefícios para toda a saúde mental.
“A atividade física promove efeitos neurobiológicos importantes. Estimula a produção de substâncias como o BDNF, que favorece a formação de novos neurônios no hipocampo, região ligada à memória e às emoções”, explica Furieri.
Ele destaca ainda que a prática está associada à redução de sintomas de ansiedade, melhora do humor, do sono e da função cognitiva.
“Também atua na prevenção primária e secundária de transtornos mentais”, destaca.
A constatação também é comum na prática de quem trabalha com o corpo.
A professora de ioga Merinha Braga afirma que muitas alunas chegam ao seu estúdio indicadas por médicos — de psicólogos a ginecologistas.
“A ciência já comprovou que práticas como ioga, meditação e respiração consciente são grandes aliadas da saúde mental. Elas atuam diretamente no sistema nervoso autônomo, ativando o estado parassimpático – aquele que promove o descanso, a recuperação e a sensação de segurança interna”.
“Consegui diminuir meu remédio para depressão”
Nas paredes coloridas de um ginásio em Vitória, as pessoas se reúnem para fazer uma modalidade de escalada. Na maior parte do espaço, a subida ocorre sem cordas, usando mãos, pés e a mente. Embora o objetivo seja alcançar o topo, quem pratica encontra mais: uma comunidade, encorajamento e a oportunidade de cuidar da saúde mental, conta Luana Gava, 25 anos.
“É um desafio que faz a gente sentir aquela adrenalina gostosa. Se tornou minha válvula de escape. Escalando, consegui diminuir meu remédio para a depressão”, ressalta.
Profissional de Educação Física, Luana se formou há cinco anos. “Sempre fui uma pessoa muito ativa, fazia vôlei, skate e surfe. Mas quando comecei a trabalhar, deixei de fazer as coisas que gostava. Cheguei a ter burnout (síndrome do esgotamento profissional)”.
Há dois anos, Luana faz tratamento para depressão. “Encontrei a 'Toca Escalada' e me identifiquei muito com o esporte e com as pessoas daqui”.
Luana usa seu diagnóstico e sua experiência para dar um conselho. “No início é difícil por que, muitas vezes, você não quer ter contato com ninguém nos momentos de crise. Mas não deixe de buscar um esporte. Aqui onde escalo, é uma comunidade. As pessoas me encorajam e têm o mesmo objetivo que eu: fazer atividade física e ter saúde”.
Ajuda
Nem sempre o exercício físico é suficiente. Há momentos em que é preciso buscar ajuda profissional. Foi o que notou Stefanie Cole, 35, quando começou a fazer aulas de circo e escalada. “Mesmo fazendo algo que amo, ainda me sentia triste”. Ela explica que desenvolveu sintomas de pressão alta e ansiedade quando abandonou os hobbies – capoeira e escalada – para focar na carreira.
Saiba Mais
Atividade física protege a mente de crianças
Um estudo publicado no British Journal of Sports Medicine descobriu evidências de que fazer atividades físicas na infância pode diminuir as chances do surgimento de transtornos mentais.
Dados de mais de 16 mil famílias suecas com crianças foram coletados. Quando as crianças tinham 5, 8 e 11 anos, foram aplicados questionários perguntando sobre participação em esportes coletivos e prática de atividades físicas no geral.
Crianças que faziam exercício físico aos 11 anos apresentaram menos chance de desenvolver qualquer transtorno psiquiátrico até os 18 anos, segundo a pesquisa.
Na mesma idade, o estudo mostrou uma tendência de redução da depressão entre meninas e meninos.
Também protegeu meninos contra a ansiedade.
A participação em esportes organizados mostrou efeitos protetores para ansiedade e vício em meninos e meninas. Em meninos, também protegeu contra depressão.
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