Brasil vai exigir mais casas de idosos e menos creches
Preocupação de especialistas se deve ao crescimento da população com mais de 60 anos, que passou de 11% para 15% no Estado
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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, recentemente, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios onde revela que, no Espírito Santo, em 10 anos, a população idosa passou de 11% para 15%.
Para o geriatra João Senger, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do Rio Grande do Sul, esse aumento de idosos, que ocorre em quase todo o País, mostra que o Brasil precisará de mais instituições para idosos e menos creches.
O médico analisa que a diminuição do índice de natalidade, em função de casais tendo cada vez menos filhos e outros optando por não ter; e o aumento de farmácias nas cidades, visto que as pessoas idosas são as que mais fazem uso de medicamentos, por serem mais suscetíveis a múltiplas enfermidades; são indicativos para a criação de novas instituições.
“Esses dados sugerem que, em um futuro próximo, teremos menos necessidade de tantas creches, embora ainda hoje em falta; assim como menos vagas em escolas do ensino infantil e fundamental. Isso requer que nós, como sociedade, tenhamos que nos preocupar com a criação de ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos)”.
Segundo o geriatra, “é fundamental que a sociedade esteja atenta ao fato de que não somos mais um País jovem”.
“Precisamos de políticas públicas voltadas às pessoas idosas, um segmento que necessita de maiores cuidados de saúde e que ocupa mais leitos em hospitais”, destaca.
O médico reforça que as necessidades são ainda mais amplas, sendo necessário também uma sociedade mais inclusiva com cidades amigas do idoso, oferecendo acessibilidade, segurança e condições de lazer.
Instituições
Atualmente, o Estado conta com 101 ILPIs, localizadas em 37 cidades, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
Do total, quatro instituições são públicas, 35 sem fins lucrativos e 62 particulares. Em 2022, essas instituições abrigavam um total de 2.321 idosos.
Em relação ao acesso à internação nas ILPIs públicas, de acordo com a Sesa, a orientação é que a família procure o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) mais próximo de sua casa para receber os direcionamentos necessários.
Custo com tratamento é elevado
Envelhecer não é barato. O custo com saúde é um dos que mais encarecem a conta dos idosos, segundo especialistas. Para quem ainda tem uma doença, como as síndromes demenciais, o valor pode ser ainda mais elevado.
Apesar de não ter uma pesquisa recente sobre o valor médio gasto com pacientes com demências, uma pesquisa feita pela Universidade de São Paulo (USP), em 2018, mostrou que no estágio já avançado da doença o custo ultrapassava R$ 5 mil por mês.
“O tratamento da doença de Alzheimer é muito caro, pois envolve custos relacionados a medicamentos e a cuidados multidisciplinares, como consultas médicas, fonoterapia, fisioterapia, psicoterapia, entre outros”, aponta o neurologista José Antonio Fiorot Júnior.
Apesar de o custo com medicamento ser alto, o médico explica que esse valor pode ser reduzido, uma vez que os quatro principais medicamentos com aprovação na Anvisa para tratamento do Alzheimer são fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
No Estado, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), as Farmácias Cidadãs Estaduais atendem, atualmente, 4.012 pacientes ativos com medicamentos para tratamento de Alzheimer.
O geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, seccional do Espírito Santo (SBGG-ES), Alexandre Constantino de Santana, observa ainda que o custo para tratar as pessoas idosas com alguma síndrome demencial tende a se elevar, pois, além dos medicamentos, os gastos indiretos com cuidadores ou instituição de longa permanência para idosos (ILPI) podem ser tão elevados a ponto de algumas famílias abrirem mão de emprego para poder cuidar do familiar em casa por conta própria.
O geriatra Roni Mukamal ressalta ainda que, além dos custos diretos e indiretos, como cuidadores, há ainda o impacto na sociedade. “Infelizmente, o Brasil carece de uma política pública para prevenir, combater e atuar nas demências”.
Os números
5 mil reais
é o custo médio, mensal, de um paciente com demência
4 mil
recebem medicamentos contra Alzheimer pelo Estado
Profissão de cuidador é uma das que mais cresce
O aumento no número de pessoas idosas também se reflete na procura por cuidadores profissionais. Segundo especialistas, esta é uma das profissões em alta no mercado.
“A demanda por cuidadores vem crescendo e o número de idosos com dependência funcional também, então eles vão precisar desses profissionais”, destaca o geriatra Roni Mukamal.
O médico explica que hoje existem os cuidadores informais, um familiar ou vizinho, e há também os profissionais. “Essa demanda vai crescer muito e vamos precisar discutir bastante como cuidar e apoiar esses idosos que têm algum grau de dependência ou muita dependência”, observa o médico.
A neurologista Soo Yang Lee aponta ainda que, além de a profissão de cuidador ser uma área em crescimento exponencial, a demanda por clínicas para idosos também tem aumentado. “Muitas têm boa infraestrutura, com atividades recreacionais, fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional”.
O gerente de Educação Profissional do Senac-ES em Vitória, Bruno Emilio Pereira, observa que existe uma grande oportunidade de formar mais profissionais voltados para o cuidado.
“Além das competências relacionadas ao cuidado, esse profissional também precisa ter uma boa autonomia digital, já que a pessoa idosa precisa lidar com a tecnologia, que ela desconhece”.
Bruno destaca que para se tornar cuidador não é obrigatório ter formação na área de saúde, mas é preciso saber ler as receitas, nomes dos medicamentos e orientar os idosos sobre sua medicação.
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