Atendimentos de casos de infarto aumentam 70% em planos de saúde
O número passou de 9,2 mil para 15,5 mil registros, o que equivale a um salto de 20,5 para 35,1 casos por 100 mil beneficiários
Mais de 240 mil mortes registradas no Brasil no ano passado, pelo Portal da Transparência do Registro Civil, foram em decorrência de doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
Segundo o Ministério da Saúde, estima-se que apenas o infarto cause 300 mil eventos por ano no País, e que a cada cinco a sete casos ocorra uma morte.
Os dados refletem uma realidade também enfrentada por planos de saúde, que tiveram aumento de 70% em atendimentos de casos de infarto entre 2015 e 2024.
O número passou de 9,2 mil para 15,5 mil registros no setor, o que equivale a um salto de 20,5 para 35,1 casos por 100 mil beneficiários. O recorde ocorreu em 2023, com 19,2 mil casos absolutos, ou 44,1 por 100 mil beneficiários.
Os dados fazem parte do novo estudo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), “Tendências do Infarto Agudo do Miocárdio na Saúde Suplementar”, produzido em virtude do Dia Mundial do Coração, comemorado no dia 29 de setembro.
“Os números mostram um crescimento consistente e preocupante dos casos de infarto na saúde suplementar. Isso evidencia a necessidade de uma atuação mais firme na prevenção, especialmente no acompanhamento sistemático dos fatores de risco”, afirma José Cechin, superintendente executivo do IESS.
Um dado que chama atenção, de acordo com Felipe Delpino, nutricionista e pesquisador do IESS, responsável pelo estudo, é que pessoas com 60 anos ou mais tiveram 57 vezes mais infarto do que aqueles com menos de 40 anos.
Ele observa que, além dos hábitos alimentares – como maior consumo de alimentos ultraprocessados –, a população tem taxas mais baixas de atividade física, se desloca mais de carro e menos a pé ou de bicicleta.
“Além disso, há também o estresse, que está relacionado à saúde mental, e aumenta o risco de problemas cardiovasculares, principalmente infarto. São vários fatores, não é apenas um”, destaca.
O cardiologista Antônio Carlos Avanza Junior, professor titular do curso de Medicina da Universidade Vila Velha, aponta que, apesar da diminuição da mortalidade devido ao avanço da tecnologia e melhora de acesso ao serviço de saúde, a prevalência de infarto e AVC continua em ascensão linear.
“Além de hipertensão, sedentarismo e obesidade, ainda temos como fatores de risco o estresse, a dislipidemia (elevação de colesterol e triglicerídeos no sangue), tabagismo, diabetes e vários outros fatores não tradicionais”, aponta.
Exames periódicos

Há quatro anos, o tatuador e surfista Marcelo Venturini, de 50 anos, sofreu um evento cardiovascular quando estava realizando uma obra em sua casa, em Vila Velha.
Marcelo, que também gosta de tocar violão nas horas vagas, contou que sentiu uma sensação de fraqueza e desmaio. “A sensação foi piorando. Liguei para um amigo, que me levou ao hospital. Lá, tive duas paradas cardíacas”.
Marcelo relata que não tinha doenças prévias, apesar de seu pai já ter tido dois infartos. “Faço exames periódicos uma vez por ano”, contou.
Doenças cardiovasculares
As doenças cardiovasculares representam a principal causa de morte no Brasil, sendo responsáveis por aproximadamente 400 mil mortes anuais, com o infarto agudo do miocárdio figurando como a principal causa isolada de morte cardiovascular.
Estudo
O novo estudo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), “Tendências do Infarto Agudo do Miocárdio na Saúde Suplementar”, analisou a evolução dos casos de infarto agudo do miocárdio entre beneficiários de planos de saúde no período de 2015 a 2024.
Embora focados na saúde suplementar, que cobre cerca de 25% da população (aproximadamente 52 milhões de pessoas), os dados revelam uma tendência nacional de agravamento dos casos de doenças cardiovasculares.
Os casos de infarto agudo do miocárdio por 100 mil beneficiários aumentaram 70,8% no período, passando de 20,59 casos em 2015 para 35,16 em 2024, com pico de 44,12 casos em 2023.
Homens
Segundo o estudo, os homens apresentam risco superior às mulheres, com taxas 2 a 2,5 vezes maiores ao longo de todo o período analisado.
A diferença entre os sexos se mantém expressiva durante todo o período, com os homens apresentando taxas aproximadamente 80% superiores às das mulheres em 2024.
Idade
O risco de infarto aumenta drasticamente com a idade, sendo que pessoas com 60 anos ou mais têm até 57 vezes mais chances de ter infarto do que menores de 40 anos.
Motivos
Persistência de fatores de risco, como obesidade, hipertensão, sedentarismo e síndrome metabólica seguem em alta, influenciando o agravamento do quadro cardiovascular.
Prevenção
De acordo com o estudo, é preciso programas de prevenção primária intensivos, voltados à redução dos fatores de risco cardiovasculares; monitoramento contínuo da evolução desses fatores entre os beneficiários; políticas de incentivo a hábitos saudáveis e mudanças comportamentais sustentáveis.
Mudanças
Recentemente a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) atualizou as diretrizes para valores de pressão e níveis de colesterol. Entre os motivos para as mudanças está o fato da hipertensão arterial e o aumento do colesterol LDL serem fatores de risco para infarto e AVC.
Agora, quem apresenta pressão entre 12 por 8 e 13 por 9 já entra na faixa chamada de pré-hipertensão.
Quanto ao colesterol, a grande novidade é a criação da categoria de risco “extremo”, em que o LDL deve ser menor que 40 mg/dL . Houve mudança em outra categoria:
Baixo risco: menor que 115 mg/dL (antes era menor que 130 mg/dL).
Intermediário: menor que 100 mg/dL (sem alteração).
Alto: menor que 70 mg/dL (sem alteração).
Muito alto: menor que 50 mg/dL (sem alteração).
Fonte: IESS e SBC.
MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários