Aprovado novo remédio de maconha medicinal
Medicamento é indicado para tratar autismo severo, ansiedade, insônia, dor crônica, Alzheimer, Parkinson, entre outras doenças
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Um novo produto à base de cannabis sativa, a maconha, para fins medicinais foi aprovado esta semana pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser fabricado no Brasil. Trata-se do o Canabidiol Ease Labs 100 mg/ml.
O remédio será fabricado pela Ease Labs Laboratório Farmacêutico sob a forma de solução oral. Além do canabidiol (CBD) na medida de 100 mg/ml, o medicamento não deve conter mais que 0,2% de tetrahidrocanabinol (THC).
“É inegável que é o futuro, mas tem que haver um equilíbrio, sempre como terapia de apoio. Ela não substitui o tratamento convencional”, afirma a neurologista e professora de Neurologia da Multivix Soo Yang Lee.
A venda do medicamento será feita em farmácias e drogarias, com prescrição médica, por meio de receita especial do tipo B, de cor azul.
As indicações, segundo especialistas são para tratar o autismo severo, ansiedade, insônia, epilepsias de difícil controle, dor crônica, doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson, entre outras.
O geriatra e diretor técnico da Clínica MedSativa, Edson de Sousa Ribeiro Júnior, destaca a melhora no caso dos pacientes idosos. “Há melhora na memória, as ideias persecutórias, os sintomas da demência”, destaca.
O médico explica como há melhoria nos tratamentos oncológicos. “Muitas vezes, a terapia canábica entra como apoio. Em vez de aumentar a quantidade de opioide, associa o canabidiol, fazendo com que a dose do opioide seja reduzida, assim como seus efeitos colaterais”, afirma.
O geriatra destaca que o CBD não vicia. A substância responsável por causar o vício é o THC, mas na quantidade utilizada para fins medicinais não é suficiente para causar dependência.
O neurologista pediátrico da Clínica Medsativa Rodrigo Corcino destaca que a medicação é segura.
“Os medicamentos à base de canabidiol são muito bons, superseguros. Tem ampla gama de possibilidade de uso. No caso do autismo severo, diminui a agressividade, tem mais demonstrações de afeto, melhora a fala”, destaca.
Os especialistas observam que o canabidiol leva em média dois meses para começar a fazer efeito.
Mães relatam melhora de filhos com autismo
Duas mães e dois relatos semelhantes: o canabidiol que, segundo elas, trouxe qualidade de vida para os filhos e para a família.
Em Domingos Martins, Região Serrana, a dona de casa Cristiane Benewitz Strey, 36, percebeu os primeiros sinais de autismo no filho Emanuel Benewitz Strey, 5, quando ele tinha 1 ano e 3 meses.
“Para mim, estava tudo certo. Quando ele foi para a escola, me chamaram porque as crianças da mesma idade falavam e ele não. Passei por nove médicos, e terapia nenhuma para ele funcionava”, afirma Cristiane.
Ela contou que, após consulta com o neurologista pediátrico Rodrigo Corcino, iniciou a terapia com canabidiol na criança. “Hoje meu filho não grita de desespero, ele chorava noite e dia. Ele foi melhorando cada dia mais”, conta. Segundo a dona de casa, a medicação que Emanuel usa é importada dos Estados Unidos e custa R$ 2.150 (R$ 1.900 + R$ 250 de frete).
“Hoje ele frequenta escola, começou a medicação em abril deste ano. Eu compro o canabidiol com doações”, conta Cristina, que entrou com processo na União para conseguir a medicação gratuita.
Em Vila Velha, a engenheira civil Selma Schmidt Dias, 40 anos, teve o diagnóstico do filho Lucas Schmidt Barcellos Dias, 3 anos, confirmado quando ele tinha 1 ano e 7 meses.
“Ele não dava tchau, não batia palmas, não olhava nos olhos, abria e fechava gavetas, demorava a dormir, andava nas pontas dos pés”, conta a mãe.
“Após iniciar o tratamento com canabidiol, ele passou a dormir a noite toda. As terapeutas disseram que ele começou a soltar mais as mãos e a acompanhando as músicas”, afirma Selma.
Saiba mais
Maconha
O canabidiol (CBD) é um medicamento derivado da cannabis sativa, a maconha, que é capaz de atuar no tratamento de diversas doenças. Não causa dependência.
Tetrahidrocanabinol (THC): responsável pelos efeitos psicoativos e neurotóxicos. Causa dependência, mas na quantidade utilizada para fins medicinais não é suficiente para causar vício.
Tratamentos
> Autismo severo
> Ansiedade e insônia
> Epilepsias de difícil controle
> Dor crônica
> Fibromialgia
> Doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson, entre outras.
As terapias com canabidiol sempre entram como terapia de apoio. Não substituem o tratamento convencional.
Não há receptores em uma área do cérebro chamada Tronco Cerebral para o canabidiol. Então, ele não terá possíveis efeitos colaterais ou reações adversas como a depressão respiratória, causada pelo uso de opioides.
Compra
A medicação nacional é mais cara que a importada, pois é proibido por lei plantar maconha no Brasil. Os laboratórios importam os insumos já na forma de CBD e TCH.
Anvisa
Procurada, a Anvisa informou que a resolução RDC 327/2019 prevê uma regularização temporária para os produtos autorizados, de modo que possam ser prescritos em condições clínicas de ausência de alternativas terapêuticas, em conformidade com os princípios da ética médica, e comercializados de forma segura enquanto estão sendo concluídos os estudos clínicos.
Trata-se de um modelo alternativo, convergente às melhores práticas internacionais para que seja legitimado o uso desses produtos para fins medicinais.
Até o momento existem 23 produtos de cannabis autorizados pela Anvisa no Brasil e que podem ser comercializados em farmácias.
A regulamentação para esta categoria foi aprovada em dezembro de 2019 e o primeiro produto foi autorizado em abril de 2020.
A produção em território nacional deve ser feita com insumos importados.
Para os produtos autorizados não existe necessidade de solicitação à Anvisa. Os produtos podem estar disponíveis no varejo farmacêutico para acesso direto pelo paciente e mediante receita médica.
Fonte: Especialistas consultados e Anvisa.
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