240 mil no ES sofrem com doença relacionada à saúde mental
Veja sinais e opções de tratamento para a depressão
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Podendo ser desencadeada por diversos fatores, médicos alertam que a depressão tem se tornado cada vez mais comum. No Espírito Santo, a doença afeta cerca de 240 mil pessoas.
Essa é uma projeção com base em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estima que 5,8% da população brasileira têm depressão.
Lícia Colodete, presidente da Associação Psiquiátrica do Espírito Santo (Apes), contou que a pandemia elevou drasticamente a incidência de transtornos mentais no mundo inteiro e ainda não conseguimos retornar aos índices pré-pandêmicos.
“Este cenário que vemos hoje já era previsto e foi alertado, mas infelizmente a saúde mental nunca foi levada a sério. No Brasil, apenas 2% do orçamento da saúde é destinado à saúde mental”.
Lícia Colodete citou que as mulheres são mais afetadas. “Os idosos são o grupo etário mais suscetível. Porém, observamos aumento significativo do transtorno em adultos jovens”.
A psiquiatra Letícia Mameri tem observado aumento de pacientes que não tinham muito o hábito de buscar ajuda, a exemplo de homens, crianças e adolescentes.
“A depressão é uma doença como qualquer outra e precisa ser tratada”, disse.
O psiquiatra João Paulo Cirqueira salienta que o estresse do mundo moderno, com exigências profissionais e sociais intensas, também contribui para esse aumento.
“Vale ressaltar que a maior conscientização sobre saúde mental e o avanço no diagnóstico também ajudam a identificar mais casos do que no passado”, disse Letícia.
A psiquiatra Francislainy Dal’Col também percebe aumento na busca por tratamento. “Cada dia aparece mais pessoas com depressão em meu consultório, especialmente ansiedade associada à depressão”.
“A fé pode ser um fator positivo no enfrentamento da depressão, desde que acompanhada do tratamento adequado, como psicoterapia e, quando necessário, medicação. A espiritualidade pode oferecer conforto, propósito e suporte emocional, mas não substitui a abordagem médica”.
Exercício físico como o melhor remédio
“Eu não queria sair de casa, só ficava na cama e sentia que não estava legal. Eu vivia de pijama o dia inteiro. As pessoas diziam: 'levanta'; 'é preguiça', 'você precisa procurar uma igreja'. Não tinha ânimo para nada”.
O desabafo é da dona de casa Carla Loureiro do Nascimento, de 48 anos, que há nove anos descobriu que estava com depressão.
Ela diz que não sabe quais foram os gatilhos para a doença, mas falou sobre alguns momentos marcantes. “Eu trabalhava como assistente administrativa de faturamento e sofria pressão na hora do faturamento. Em 2016, a minha mãe faleceu”.
Carla contou que procurou um psiquiatra, que detectou a depressão.
Junto com medicação, ela encontrou nos exercícios físicos uma forma de ajudar a vencer a doença. “Há três anos entrei na academia, onde encontrei acolhimento. Cheguei a ficar lá das 6h à 11 horas, fazia ioga, alongamento e exercício. Também amo correr. Participei de 27 provas e ganhei nove troféus. É o melhor remédio para a depressão”.
SAIBA MAIS
Sinais
> A depressão é uma síndrome complexa e pode se apresentar de maneiras diversas, como enfatizou a presidente da Associação Psiquiátrica do Espírito Santo (Apes), Lícia Colodete.
> Mas comumente é observada uma perda de interesse pela vida, fadiga, baixa autoestima, sentimentos de desesperança, de vazio existencial.
> Irritabilidade e alterações no padrão do sono e do apetite também são comuns.
> Nem sempre o paciente demonstra apatia e tristeza, mas há quase sempre uma tendência ao isolamento, evitando situações anteriormente prazerosas.
Tratamento
> Geralmente envolve uma combinação de abordagens, como ressalta o psiquiatra João Paulo Cirqueira.
> As psicoterapias são eficazes para ajudar na reestruturação dos pensamentos e na melhora do bem-estar emocional.
> As medicações avançaram muito nas últimas décadas, possibilitando não só melhores respostas terapêuticas, mas também redução dos efeitos colaterais e ampliação do perfil de segurança.
> O tipo de medicação e a duração do tratamento, no entanto, são ajustados de acordo com cada paciente.
Estilo de vida
> Mudanças no estilo de vida, como aumento da atividade física e práticas de higiene do sono, são benéficas no manejo da depressão.
> O tratamento é individualizado e pode variar de pessoa para pessoa, mas, quando seguido corretamente, proporciona melhora significativa na qualidade de vida.
Cura definitiva?
> Há pessoas que apresentam um único episódio depressivo ao longo da vida e ficam curadas, como assegurou a médica Lícia Colodete.
> No entanto, muitas vezes a doença se manifesta de maneira recorrente, necessitando de acompanhamento ao longo de toda vida.
Onde buscar ajuda?
Vitória
> A porta de entrada para acompanhamento em saúde mental é a unidade básica de saúde.
> Após avaliação, se for indicado, o paciente será encaminhado para consulta ambulatorial com especialista (psiquiatra) no Centro Municipal de Especialidades (CME), onde os casos mais graves têm prioridade no atendimento.
> Nos próximos dias, a oferta de consultas com psiquiatra será ampliada, passando de 3.220 consultas ano para 37.321.
> Além da consulta ambulatorial com psiquiatra, Vitória conta com o Centro de Atenção Psicossocial, para casos de transtorno mental grave.
Vila Velha
> O acesso aos serviços de saúde mental é realizado por meio da demanda espontânea diretamente na unidade de saúde mais próxima.
> Após a avaliação, a equipe multiprofissional definirá o tipo de atendimento, considerando a gravidade e a complexidade do quadro clínico.
> Em geral, são priorizados os atendimentos em grupo, que permitem o compartilhamento de experiências e o desenvolvimento de habilidades sociais. No entanto, em casos específicos, pode ser indicada a terapia individual, apoio do ambulatório de saúde mental ou nos casos graves e persistentes o serviço do CAPS.
Serra
> A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) dispõe de atendimentos individuais ou em grupo, realizados por equipes multidisciplinares nas unidades regionais de saúde.
> Essa Rede de Atenção Psicossocial atende os casos com questões de saúde mental como ansiedade, depressão, e uso abusivo de drogas.
> Lá, o usuário passa por acolhimento e avaliação, realizando o agendamento dos atendimentos.
> Para acessar esses serviços, os moradores podem procurar a unidade de saúde mais próxima (UBS Boa Vista, URS Valparaíso, URS Feu Rosa, URS Jacaraípe, UBS Nova Almeida, URS Serra Sede, URS Serra Dourada e URS Novo Horizonte), de segunda a sexta, das 7h às 18h.
> Como forma de atendimento ambulatorial, há psiquiatra no Ambulatório Municipal de Especialidade (Ames), com agendamento via regulação pelas Unidades de Saúde.
Cariacica
> O município possui equipes de programa de saúde mental formada por uma equipe multidisciplinar.
> A porta de entrada são as Unidades Básicas de Saúde (UBS), o Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSI), o Programa Municipal de Álcool e outras Drogas (Promad), Consultório na Rua e Unidades de Pronto Atendimento.
> Para receber o atendimento, o paciente deve se direcionar à unidade de referência. Lá, será acolhido e referenciado ao programa adequado.
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