Psiquiatra: “Estilo de vida é principal arma contra a depressão”
Ter um estilo de vida saudável, entretanto, não significa que a pessoa não vai desenvolver depressão ao longo da vida
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Alimentação saudável, nutrir bons relacionamentos, aprender novas habilidades, fazer exercício físico regularmente e cultivar a espiritualidade. Todos esses são bons hábitos de vida que podem ajudar a prevenir a depressão, segundo o psiquiatra Fernando Tonelli.
“Estilo de vida é a principal arma contra a doença. A depressão tem crescido, principalmente, entre crianças, adolescentes e jovens”.
Além disso, adiciona o psiquiatra Vicente Ramatis, é importante evitar álcool e outros tipos de droga. O primeiro, explica, é uma droga depressora do sistema nervoso central, ou seja, é fator causador e desencadeador de depressão.
“Ele é gatilho para quem tem pré-disposição. Maconha é outro fator que desencadeia o transtorno depressivo, assim como o de ansiedade”.
Ter um estilo de vida saudável, entretanto, não significa que a pessoa não vai desenvolver depressão ao longo da vida. Por quê? Para entender, primeiro é preciso saber a origem do transtorno.
Ele ocorre a partir da interação entre três grandes grupos de fatores, explica a psiquiatra Francislainy Dal'Col. Eles são: biológicos, como predisposição genética e alterações neuroquímicas; psicológicos, relacionados à história de vida, traços de personalidade e forma de lidar com emoções; e os fatores ambientais, como perdas, sobrecarga, traumas ou situações de estresse prolongado.
Esse último grupo de fatores é o que pode ser prevenido, acrescenta a psiquiatra Lais Fardim.
“O componente genético a gente não consegue prevenir. Estudos, por exemplo, mostram que parentes de primeiro grau de uma pessoa com diagnóstico depressivo têm maior chance de desenvolver ao longo da vida”.
O problema, segundo a especialista, é que não há profissionais especializados para atender a toda a demanda.
“Não é suficiente. Por isso, há uma tendência do sistema público de saúde (SUS) de capacitar médicos de família para atender transtornos leves”.
Para sanar essa demanda, o governo do Estado encontrou outra alternativa: possibilitar atendimento on-line de psiquiatria infantil e adulto para a população. A porta de entrada para as teleconsultas são as unidades de saúde dos municípios.
Mas isso não resolve todos os problemas. Tratamentos para casos graves, adiciona Laís, como a eletroconvulsoterapia, não estão disponíveis no SUS.
“Muitos pacientes com quadros graves acabam tendo sua melhora limitada por que não têm condições de adquirir essas modalidades de tratamento”.
Hábitos de vida que funcionam como antídotos da depressão
Alimentação
É a base para qualquer outra ação no combate à depressão. Tenha uma alimentação balanceada, rica em frutas e verduras. A falta de vitamina D, por exemplo, pode desencadear a chamada depressão sazonal, comum em países frios com longos períodos sem sol. Além disso, é importante evitar alimentos ultraprocessados. Pesquisas recentes mostram que eles também afetam a saúde mental.
Hobbies
Podem ser ferramentas eficazes para auxiliar a lidar com a depressão. Atividades intelectuais, como ler livros ou escutar música, ajudam a lidar com os sintomas da depressão, segundo o psiquiatra Fernando Tonelli. Aprender uma nova habilidade, como tocar um instrumento musical, fazer artesanato ou explorar as artes plásticas, também traz benefícios — em qualquer idade.
Conexões sociais
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde, pessoas solitárias têm o dobro de chances de desenvolver depressão, e uma em cada seis pessoas no mundo se considera solitária. Estabelecer laços sociais, sair com amigos, conversar com a família ou participar de atividades em grupo é essencial. E isso vai além do contato virtual; o olho no olho ainda faz diferença.
Exercício físico
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde, pessoas solitárias têm o dobro de chances de desenvolver depressão. Outro dado é que uma em cada seis pessoas no mundo se considera solitária. Especialistas recomendam estabelecer laços sociais, sair com amigos, conversar com a família ou participar de atividades em grupo. Isso é essencial para a prevenção.
Mulheres sofrem mais
Estudos indicam que a depressão é mais comum entre as mulheres, observa a psiquiatra Laís Fardim. “Os estudos de prevalência, que mostram quantos casos existem em determinada população, reforçam essa tendência”.
Segundo a médica, dois fatores ajudam a entender essa diferença: de um lado, a sobrecarga enfrentada pelas mulheres; de outro, a resistência masculina em buscar ajuda.
Uma pesquisa da organização social Think Olga apontou que sete em cada 10 diagnósticos de depressão e ansiedade são em mulheres.
Já o relatório Vigitel Brasil, da Agência Nacional de Saúde Suplementar, mostrou que, em 2023, 18% das mulheres declararam diagnóstico médico de depressão, contra apenas 8% dos homens.
“Os estudos acreditam que o primeiro fator é a pressão cultural a qual a mulher é exposta. Hoje em dia, espera-se que ela faça sua jornada de trabalho e depois uma nova jornada: administrando filhos, conflitos familiares e casa. Isso gera uma sobrecarga”.
O segundo fator são as expectativas sobre os homens. “Socialmente é mais aceito que mulheres, em relação aos homens, se mostrem fragilizadas em função de depressão e busquem ajuda. São conceitos que discordo, mas ainda vemos acontecer”.
Em seu consultório, o psiquiatra da Unimed Vicente Ramatis observa que mais pacientes mulheres buscam tratamento. “O homem demora mais a pedir ajuda e a assumir o tratamento”.
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