Pacientes de todas as idades buscam tratamentos para vencer a depressão
Especialistas afirmam que procura por tratamento nos consultórios tem crescido em todas as faixas etárias
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Buscar ajuda é o primeiro passo para superar a depressão, que atinge cerca de 600 mil pessoas no Estado. Especialistas têm observado que a procura por tratamento vem aumentando em todas as faixas etárias no Espírito Santo.
“É real. Temos um aumento da busca por tratamento em todas as idades. Isso reflete várias coisas, como maior entendimento do transtorno e aceitação, além da redução dos estigmas”, destaca o psiquiatra João Paulo Cirqueira.
No seu consultório, a psicóloga infantil Paula Santos também observa o aumento de casos. “Percebo isso no dia a dia. Muitos casos estão ligados a famílias desestruturadas e ao uso excessivo de redes sociais, internet e inteligência artificial”.
No outro extremo da vida, os idosos também têm buscado mais tratamento contra a depressão, que, muitas vezes, “é negligenciada e subdiagnosticada nessa fase da vida”, diz Rosiane Cazeli Barbosa, geriatra da Best Sênior.
Entre os fatores de risco, ela destaca aposentadoria, isolamento social, perda de entes queridos e doenças crônicas.
Levantamento da Vigitel, divulgado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em parceria com o Ministério da Saúde, reforça o que os especialistas observaram.
O número de adultos diagnosticados com depressão aumentou de 11,3% em 2020 para 14,2% em 2023, somente entre os beneficiários de planos de saúde.
No Espírito Santo, isso equivale a um salto de cerca de 129 mil adultos com diagnóstico em 2020 para 182 mil em 2023, aproximadamente; um aumento de 53 mil.
Apesar da alta na busca por tratamentos, ainda há muitas pessoas com depressão que não buscam ajuda.
“Elas permanecem com os sintomas sem procurar um especialista”, destaca a psiquiatra e médica do sono Laís Fardim.
Ela também alerta que a tendência é que o número de casos aumente nas próximas décadas. “É uma condição em parte associada a estressores ambientais como isolamento social, redução das conexões afetivas, estresse econômico e maus hábitos de estilo de vida”.
Na perspectiva da profissional, faltam estudos bem feitos capazes de mensurar o número real de casos de depressão na população.
Ana Carolina Ferreira escritora: “Escrever me ajudou a dar a volta por cima”

Ana Carolina Ferreira, 36, descobriu a depressão no fim do seu primeiro casamento. Conseguiu superá-la com ajuda da Bia, sua cadelinha, e de sua paixão: a escrita. Nesse ano, lançou um livro de ficção cujas personagens abordam temas como feminicídio, depressão, violência, entre outros.
A Tribuna Como você se sentia?
Ana Carolina Ferreira Eu engordei muito e não conseguia dormir. E quando você tem depressão não consegue ler um livro ou assistir um filme. Em quadro vegetativo, só fica dentro de casa.
O que te ajudou a estar bem hoje?
Eu amo escrever. Sempre que estou triste, coloco tudo no papel. Escrever foi o que me ajudou a dar a volta por cima. Hoje tenho um livro lançado que já está disponível em todas as plataformas.
A Bia, seu pet, também te ajudou a melhorar, certo?
Quando a ganhei, estava em depressão profunda. A Bia foi meu alicerce. Antes eu não conseguia levantar da cama, mas passei a levar ela para passear. Me ajudou muito.
Graus da doença
Segundo o Ministério da Saúde, a depressão é uma doença mental de elevada prevalência. Ela tende a ser crônica e recorrente, principalmente quando não é tratada. Há vários fatores de risco como estresse crônico e histórico familiar. O transtorno depressivo maior, assim como outras doenças, também tem graus: leve, moderado ou grave. Se for leve, pode gerar um prejuízo funcional e social que a pessoa consegue contornar com muito esforço. Nos casos moderados a grave, a pessoa não consegue.
Dificuldades

A recepcionista Roberta Ximenes, 27, faz tratamento há um ano e meio. “Desenvolvi por causa do ambiente de trabalho. Por cerca de seis meses eu relatava ao meu médico a dificuldade para dormir e comer, além do isolamento, mas a gente não conseguia identificar o motivo. A depressão se mascara muito. Meu conselho é procure um médico. Não brinque com isso, é muito sério”.
Sintomas
Sensação de tristeza
Pode haver a diminuição ou o aumento do apetite, com maior interesse por carboidratos e doces.
Humor depressivo
Falta de energia, preguiça ou cansaço
Dores e sintomas físicos difusos como mal-estar, cansaço, queixas digestivas, dor no peito, taquicardia, sudorese
Insônia ou sonolência
Tratamentos
Medicamentos
Para casos moderados e graves, o tratamento medicamentoso é necessário e indicado. Segundo o médico Francisco Tonelli, há novos tipos de medicamentos com menos efeitos colaterais atualmente. Nos casos leves, explica a psiquiatra Lais Fardim, as revisões de literatura mostram que é possível não usá-lo. No entanto, isso não significa a dispensa de acompanhamento profissional.
Psicoterapia e mudança de hábitos de vida
Indicada em todos os casos. A mudança de hábitos inclui prática de atividade física, parar de beber e fumar e até trocar de emprego.
Cetamina e terapia
A combinação tem mostrado resultados positivos no tratamento da depressão, segundo o psicoterapeuta Frank Ehrenfried. A cetamina é uma substância reconhecida por especialistas como uma alternativa eficaz para o cuidado da mente. “Pode promover alívio significativo em poucas horas ou dias”.
Eletroconvulsoterapia e estimulação magnética craniana.
Indolores, são indicadas para casos graves que não respondem a outros tratamentos.
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