Prefeito decreta lockdown em cidade capixaba: “As pessoas não estão parando”
“Você sabe o que é se sentir impotente? É assim que estou me sentindo”. O desabafo é do prefeito de Água Doce do Norte, Paulo Márcio Leite Ribeiro (PSB), ao relatar que decretou lockdown na cidade porque os moradores não estão seguindo a recomendação de ficar em casa e assim impedir a expansão do novo coronavírus.
A partir desta terça-feira (19) até domingo (24), nenhum estabelecimento comercial na cidade está autorizado a atender clientes, apenas a fazer entregas em domicílio. Nem mesmo supermercados ou farmácias estão liberados. E as pessoas estão orientadas a não ir para as ruas.
“Quem sair vai ser parado e questionado o que está fazendo na rua. Criamos uma equipe, formada por secretários, para auxiliar nessa fiscalização. Os moradores serão aconselhados a voltar para casa. Há uma semana não tínhamos nenhum caso, mas agora já estamos com 11 casos e uma morte”, informou Paulo Márcio.
Ele acrescentou: "Já desligamos toda iluminação da praça, carros de som passam mandando todo mundo para casa, o alto falante da Igreja Católica também alerta, mas não estão respeitando, por isso tomamos a decisão do lockdown".
Apenas os postos de combustíveis e as repartições públicas podem funcionar. “Isso porque os carros que atendem a saúde precisam estar com gasolina para circular. Já as repartições vão atuar apenas com serviço interno, sem atendimento público”, explicou. Os postos de combustíveis não poderão vender bebidas alcoólicas.
O índice de isolamento social em Água Doce é até considerado alto (70,7%), sendo que a média estadual é de 56,6%. “Mas essa não é a realidade nossa. O que estamos vendo na cidade é muita gente na rua. Hoje, por exemplo, o supermercado estava cheio, não tinha carrinho para pegar”, disse.
“Elas não obedecem”
“As pessoas não estão parando em casa. Elas não obedecem. Estamos com muitos moradores ainda achando que esse vírus é brincadeira e há relatos de pessoas com suspeita da doença circulando pela cidade. Vão nas casas dos parentes, andam nas ruas... É uma sensação de impotência porque, por mais que peçamos, não estão obedecendo”, declarou Paulo Márcio.
Água Doce do Norte teve até esta segunda-feira (18) 11 casos confirmados de Covid-19 e teve a primeira morte registrada neste domingo (17). A taxa de letalidade é de 9,09%, uma das mais altas do Estado. A vítima fatal era um agricultor de 76 anos, que morava na Sede do município. Estava internado no Hospital de Barra de São Francisco e tratava de câncer.
Segundo o prefeito, três moradores da cidade estão internados em estado grave em hospital de Colatina, sendo que um deles é paciente que faz hemodiálise. “Temos dois pacientes de hemodiálise que estão com coronavírus, um está na UTI em Colatina e outro está em casa”, disse.
Cidade não tem hospital
Paulo Márcio disse que Água Doce do Norte não possui hospital e todos os casos suspeitos eram levados para o Hospital de Barra de São Francisco, que fica a 30 minutos da cidade.
No entanto, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), segundo ele, mudou a orientação e agora todos os pacientes têm que ser encaminhados para o Hospital Silvio Avidos, em Colatina, localizado a duas horas de distância. "Mesmo assim, estamos com dificuldade de conseguir vaga em Colatina. Na última vez que precisamos, neste fim de semana, ficamos de sexta até a madrugada de segunda para conseguir. A informação é de que o hospital em Colatina está lotado para esses casos".
“E tem também o fato de que é longe e, se a pessoa estiver muito mal, como aconteceu neste final de semana com um caso nosso, vamos levar para Barra de São Francisco. Mas o hospital de lá está muito complicado. Eu, particularmente, se passar mal, morro em casa, mas não quero ir para lá. Aquele hospital precisa desinfectar completamente”, relatou.
O prefeito denunciou que em Barra de São Francisco há muitos casos de profissionais de saúde infectados com Covid-19. De fato, observando os dados divulgados nesta segunda pela Sesa sobre a doença, o município possui 43 casos confirmados, sendo 21 deles de profissionais de saúde, praticamente metade. Uma morte já foi registrada.
A reportagem tentou contato com a Prefeitura de Barra de São Francisco, mas não conseguiu falar com nenhum representante, nem mesmo com o prefeito.
Leia mais: Mais uma cidade capixaba decreta lockdown
Comentários