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Política

“Políticos precisam ter mais amor pelo Brasil”, diz ex-prefeito

Com 105 anos de idade e atento à realidade do País, ele falou de sua época de administrador e defendeu investimento maior na Educação


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Imagem ilustrativa da imagem “Políticos precisam ter  mais amor pelo Brasil”, diz ex-prefeito
Fiorezi, com seu título, contou desafios de administrar na década de 1950 |  Foto: Acervo Pessoal

O ex-prefeito de Alegre Ary Fiorezi de Oliveira foi um dos responsáveis por dar início a uma série de investimentos na cidade ainda na década de 1950, quando estava à frente da prefeitura. Na época, ele conciliava o serviço público com uma mercearia na cidade, que existe até hoje.

Atualmente, Ary Fiorezi está com 105 anos e conversou com a reportagem de A Tribuna para contar detalhes de sua vida política e eventos como a recepção do ex-presidente Juscelino Kubitschek em Alegre.

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A Tribuna - Ary, o senhor foi prefeito de Alegre de 1954 a 1958. Como foi aquela época? Como era gerir a cidade?

Ary Fiorezi - O município era uma insignificância perto do que é hoje. Atualmente deve ser quatro vezes maior que na época. 

Naqueles tempos a prefeitura não tinha auxiliares, não havia vice-prefeito, era só o prefeito e a Câmara. Nem secretarias existiam, o prefeito que fazia tudo e precisava estar em toda parte, porque não tinha nenhum auxiliar, somente fiscais.

Quais eram suas principais tarefas como prefeito? Do que a cidade mais precisava naqueles tempos? 

Eu peguei uma fase muito difícil, porque o prefeito que me antecedeu, apesar de ter feito bastante pela cidade, fez algumas dívidas por conta de desapropriação de terrenos. Mesmo com essas dívidas, fizemos estradas maiores, inclusive uma que liga Alegre a Cachoeiro. Lembro que usamos um trator que a prefeitura havia adquirido. 

A necessidade de estradas era muito grande, então fizemos o que podíamos. Construímos uma média de 100 quilômetros de estradas. 

O primeiro telefone do município foi instalado na minha casa, por eu ser o prefeito. O número era 79 e era aquele aparelho de manivela. 

Todo mundo da rua tinha que vir à minha casa para fazer alguma ligação, então era uma época de muito compartihamento entre os cidadãos de Alegre.  

E quais eram as principais dificuldades na época?

A maior dificuldade é que a gente não tinha nenhum recurso do governo federal ou estadual. Hoje a prefeitura recebe uma quantia, na época não tinha isso, somente a renda do município mesmo. 

Foi uma fase um pouco dura, mas nós procuramos deixar uma marca na cidade como a construção das estradas. Também tivemos dificuldade com a questão da água, que na época era difícil de  chegar nos distritos. 

Lembro que, na época, o  menor distrito do município tinha ficado sem água. Eu fui para reconstituir o serviço e coincidentemente  encontrei uma nascente abaixo de um morro. Era água limpa. Nós canalizamos e essa água até hoje continua sendo usada do mesmo jeito, ela não secou. 

Além disso, ainda tive de comprar motores a diesel para vários distritos para auxiliar na geração de eletricidade para a cidade.

Mas a cidade era uma Alegre mais alegre do que hoje, não exisita carro, não tinha facilidade nas coisas de hoje. Havia mais convivência social do que hoje, porque com a questão do celular tudo passou a ser convivência através do aparelho, aí a pessoal foi reduzida.

As brincadeiras da mocidade, nos clubes da cidade são raras hoje. Era uma outra época.

O senhor se lembra de algum incidente marcante da época do seu mandato? 

Lembro de uma história que me orgulha bastante. Lembro que ia de bicicleta para a prefeitura, quando naquele dia um vereador me acusou de sonegar impostos. 

Chamaram a auditoria para fazer uma fiscalização, e eu pedi para que recebessem o auditor para mostrar os documentos, já que eu precisava trabalhar também na mercearia. Lembro que eu fui para o comércio e disse para me chamarem quando acabassem. 

Quando eu cheguei, o auditor disse que queria me cumprimentar pela lisura do trabalho e disse que queria que todas as prefeituras fossem iguais a de Alegre, então aquele fato me orgulhou muito e orgulha minhas filhas. Esse é o legado da dignidade.

Como o senhor vê a política? Qual a diferença de fazer política naquela época para hoje? 

Eu saí da política mais tarde. Quase me obrigaram a ser candidato em 1954. Na época o modo de fazer política era outro, tínhamos mais entusiasmo e fidelidade partidária. Depois que eu deixei a prefeitura continuei na política, sendo presidente de partido político. 

A gente tinha que fazer comícios em praça pública, pessoalmente. Então acho que nós tínhamos mais entusiasmo. Eu fico feliz porque os políticos ainda me procuram, porque alguns ainda acreditam na minha prosa (risos).

Imagem ilustrativa da imagem “Políticos precisam ter  mais amor pelo Brasil”, diz ex-prefeito
Ary Fiorezi discursando em seus tempos de prefeito, quando ele também participou da recepção ao então presidente Juscelino Kubitschek |  Foto: Acervo Pessoal

O senhor chegou a ter contato com algumas grandes personalidades políticas da época?

Os primeiros candidatos à presidência da República que vieram à Alegre fizeram isso  no período da minha gestão. Tive a oportunidade de receber, por exemplo, Juscelino Kubitschek, Ademar de Barros, Juarez Távora e Plínio Salgado. Como eu era o prefeito, ficava responsável pela continência da cidade a essa gente. 

Além disso, daqui do Estado, eu mantinha muito contato com o prefeito de Vila Velha na época, Antônio Gil Veloso. Como eu era prefeito de Alegre na mesma época do mandato dele em Vila Velha, a gente conversava bastante. Depois ficamos amigos. 

O senhor está com 105 anos . Como chegou tão bem a essa idade? Qual o segredo?  

Eu trabalho desde os seis anos de idade. Praticamente nunca tirei férias, fui empregado do meu pai, a minha carteira de trabalho foi assinada por ele, a gente tinha uma mercearia, que existe até hoje aqui em Alegre. Ela não é grande porque o comércio caiu muito, não é igual aqueles tempos do café, quando o dinheiro era mais farto. 

Então acho que o segredo da minha idade é porque eu sempre estive em atividade. Mas também acho que a longevidade é de família, já que eu tenho uma irmã que mora em Vitória e já tem 98 anos.  

Como o senhor chegou a Alegre? Nasceu no município?

Na verdade eu nasci na cidade de Pirapetinga, em Minas Gerais, e vim para Alegre com três anos. A minha mãe era italiana, nasceu lá e veio garota para o Brasil. Minha família é de imigrantes e vieram para o Brasil ainda no século XIX.

Como o senhor vê a política atual? 

Eu acho que o Brasil não merece o que vem acontecendo. Não sou melhor do que ninguém, mas acho que o País precisava de mais amor, mais seriedade, mais exemplos como o de Ruy Barbosa. Eu até fico emocionado. 

Hoje não temos grandes líderes políticos, então a gente vê que não é falta de capacidade, mas acho que há falta de amor. 

Eu guardo uma frase do Eduardo Gomes, quando ele foi candidato à presidência. Na época ele disse que se fosse eleito, queria que a pátria fosse a mãe carinhosa de todos os seus filhos.

Eu acho que o País podia estar em uma posição melhor perante ao mundo. Também é de extrema necessidade a gente melhorar a Educação do País. A política precisa olhar para isso.

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