Messias procura líderes do Senado, divide evangélicos e encara oposição
Horas depois de seu nome ter sido oficializado, Messias ligou para líderes para marcar reuniões na próxima semana
O advogado-geral da União, Jorge Messias, já começou a procurar líderes do Senado para marcar conversas e diminuir resistência à sua indicação para a vaga no STF (Supremo Tribunal Federal), oficializada na quinta-feira (21) pelo presidente Lula (PT).
Membro da Igreja Batista e diácono de uma congregação em Brasília, ele conta com apoio importante da parte do mundo evangélico, apesar da resistência das alas mais ligadas ao bolsonarismo. Mas o maior empecilho é o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) —que não apenas é contrário à indicação como tem dito a interlocutores que trabalhará contra.
Horas depois de seu nome ter sido oficializado, Messias ligou para líderes para marcar reuniões na próxima semana, em especial para quem demonstrou resistência à sua indicação.
Um deles foi o líder do MDB, Eduardo Braga (AM). "Ninguém do governo me procurou sobre esse tema. Quem me ligou foi o próprio Messias. Tenho boa relação com ele. Não perguntou nada, pediu para falar pessoalmente. Estarei em Brasília na próxima semana, ele tem que me procurar."
Braga, assim como Alcolumbre, preferia que Lula tivesse indicado o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a vaga. Ele evitou fazer previsões de placares ou prazos, mas admitiu que a situação para o AGU não é fácil na Casa. "O mar não está para peixe", resumiu.
Outro líder falou, reservadamente, que sem o apoio de Alcolumbre ou de Pacheco, Messias não conseguirá chegar nos 41 votos necessários do plenário. Há uma queixa entre senadores sobre uma dificuldade na interlocução com o governo, que foi agravada com a decisão de Lula de preterir Pacheco.
Além do próprio Messias, integrantes da articulação do governo começaram a fazer telefonemas e a buscar senadores para conversas, em especial os de oposição. Eles reconhecem a dificuldade, mas dizem que poderá ser ultrapassada.
Um auxiliar palaciano reconheceu que a pauta-bomba anunciada pelo presidente do Senado após a indicação de Messias é retaliação, mas disse que o PL Antifacção, por exemplo, teve a indicação de um relator que não era de oposição, o que foi um alívio para o Planalto. Alessandro Vieira (Cidadania-SE) é considerado equilibrado por governistas.
Lideranças evangélicas nos estados, sobretudo ligadas à Assembleia de Deus, também entraram no circuito para pedir votos pelo "irmão", como o chamam nas conversas com os parlamentares.
Na avaliação de governistas que atuam pelo nome do AGU na Casa, esse movimento é especialmente importante devido à proximidade com as eleições no ano que vem. O apoio das igrejas é considerado vital para a campanha de parlamentares.
O bispo Samuel Ferreira, por exemplo, presidente da Assembleia de Deus do Brás, publicou uma foto nas redes sociais de quando esteve recentemente no Planalto com Lula e Messias e comemorou a indicação. "Lula, muito obrigada. Messias, Deus é contigo. Parabéns, mas a luta continua", escreveu.
Já o presidente do Republicanos e deputado federal Marcos Pereira (SP) disse que Messias preenche os requisitos exigidos pela Constituição. "E tenho certeza que será um grande ministro, dignificando o tribunal", afirmou. O líder do partido no Senado, Mecias de Jesus (RR), foi um dos primeiros a declarar apoio ao AGU, destacando valores como a "defesa da família e dos princípios cristãos".
Messias também já procurou o senador Carlos Viana (Podemos-MG), presidente da bancada evangélica no Senado, para pedir apoio à sua indicação.
Em outra frente, o ministro do STF, André Mendonça, indicado por Jair Bolsonaro (PL) como "terrivelmente evangélico", parabenizou a indicação e disse que buscará diálogo no Senado por ele. Em 2021, ele foi aprovado após Alcolumbre fazer da sua nomeação um cabo de guerra com o Planalto e segurá-la por quatro meses.
É da prerrogativa do presidente do Senado enviar a indicação para sabatina na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), assim como cabe ao presidente da República indicar quem quiser. De acordo com a assessoria, Alcolumbre disse que "analisará os próximos passos, dentro das prerrogativas do Senado Federal — cada um dentro das suas próprias prerrogativas".
Procurado, o presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA), disse não haver prazo ainda para análise e que, apesar de apoiar Messias, depende do encaminhamento de Alcolumbre. "Pauto para votar dentro de um prazo que seja aceitável, inclusive para que o indicado possa percorrer gabinetes. Minha parte é regimental", disse.
À coluna Painel a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) disse querer que o Senado analise ainda neste ano o nome de Messias.
Inicialmente, Alcolumbre disse a aliados que deixaria Messias sem sabatina até 2026, seguindo o que fez com Mendonça em 2021. Mas a avaliação é de que a estratégia pode agora mudar, acelerando os procedimentos, não dando tempo de o indicado buscar votos. Hoje, senadores acreditam que ele não tem os apoios necessários.
Para um auxiliar palaciano, seria até melhor para Messias se a sabatina ficasse para o ano que vem, porque daria mais tempo de distensionar o clima com os senadores.
Além das críticas de interlocução, há também já uma importante parcela da Casa que faz flagrante oposição ao governo e a Messias. Ele não é unanimidade entre os evangélicos, sobretudo entre os mais bolsonaristas.
Jorge Seif (PL-SC), por exemplo, disse que "a fé cristã não serve como escudo para práticas incompatíveis com o Evangelho". O tom de que Messias não pode ser visto como um defensor da Bíblia porque é petista e amigo de Lula será utilizado por esses parlamentares críticos à sua atuação.
"Com a indicação de Jorge Messias para o STF, caso ele seja aprovado pelo Senado, serão mais 30 anos de um esquerdista petista julgando e atrasando o Brasil com seus valores de esquerda", disse o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ).
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