Cid fez 99 tentativas para acessar email da Presidência após ter conta bloqueada
O login de Mauro Cid foi bloqueado em 15 de março deste ano
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O tenente-coronel Mauro Cid, um dos principais auxiliares do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tentou acessar seu email funcional mesmo após o governo Lula (PT) bloquear a conta do militar.
Planilha entregue pela Casa Civil à CPI do 8 de janeiro, obtida pela Folha de S.Paulo, mostra 99 tentativas de acesso após 15 de março, quando o login de Cid foi bloqueado. O último registro é de 17 de março, às 11h16.
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O governo Lula também informou à comissão que o email funcional de Cid foi acessado mais de 500 vezes em 2023, quando Bolsonaro já havia deixado a Presidência.
O documento da Casa Civil mostra que o usuário maurocbc (iniciais de Mauro César Barbosa Cid) teve 99 tentativas em três dias pelo mesmo motivo: "Conta desativada, expirada ou bloqueada".
As informações foram levantadas depois que a CPI questionou a Presidência sobre "quando ocorreram acessos ao email no período após 31/12/2022 e o nome dos eventuais responsáveis pelo login".
A Casa Civil respondeu que, durante esse período, "constam registros de validação das credenciais do agente público mencionado na requisição [Cid], realizadas por meio dos servidores de rede que disponibilizam o acesso via internet ao serviço de correio eletrônico".
Antes do bloqueio do email, o militar chegou a receber mensagens com os roteiros de viagem de Lula e da equipe de segurança do atual presidente.
O documento entregue à CPI --um relatório de logins do mesmo usuário-- mostra todos os registros de autenticação do email funcional de Cid em 2023. A informação é gerada quando são validados dados do usuário, como nome e senha, para acessar o email.
O registro de autenticação também pode ser gerado, por exemplo, se o computador for ligado com a página do email aberta, o que pode explicar logins em um curto espaço de tempo ou até no mesmo segundo.
Como chefe dos ajudantes de ordens de Bolsonaro, Cid utilizava o email com domínio "presidencia.gov.br". Neste endereço, o militar recebia mensagens sobre atividades de rotina da Presidência e organizava viagens de Bolsonaro.
Emails entregues à CPI também sugerem que o militar tentou vender por quase R$ 300 mil um relógio recebido como presente em viagem oficial.
As mensagens recebidas por Cid em 2023 mostram nomes dos responsáveis pela coordenação da segurança de eventos com a presença de Lula.
Os emails enviados pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) também apresentam dados sobre atividades da equipe que faz o reconhecimento do local das agendas do petista.
Como revelou a Folha de S.Paulo, a Casa Civil reconheceu que cortou o acesso de Cid ao email funcional "com atraso". O ministério afirmou à CPI que estava com número insuficiente de funcionários para desativar rapidamente o login de mais de 1.000 servidores exonerados após o fim do governo Bolsonaro.
Cid foi preso em maio de forma preventiva no âmbito da investigação em torno da falsificação do cartão de vacinação dele, da esposa, da filha mais nova de Bolsonaro, Laura, e do próprio ex-presidente. Ele está detido no Batalhão de Polícia do Exército de Brasília.
O militar é figura central de investigações do Supremo Tribunal Federal (STF) e em outras instâncias envolvendo Bolsonaro, incluindo a que apura o caso das joias enviadas ao ex-presidente por autoridades da Arábia Saudita.
Além de Cid, o militar Osmar Crivelatti recebeu emails com roteiros de viagens de Lula até o mês passado. Ele é ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e foi um dos escolhidos para a equipe de assistentes a que o ex-presidente tem direito.
Procurada, a defesa de Cid não se manifestou até a publicação deste texto.
A Casa Civil disse em nota que "a desativação de contas de emails de ex-servidores da Presidência da República está sendo automatizada, para que não dependa mais da ação humana". "Com isso, serão evitadas possíveis inconsistências", declarou.
Questionado sobre os emails enviados no governo Lula a Cid e outros auxiliares de Bolsonaro, o GSI afirmou que vai instaurar "sindicância para apurar os fatos". "Os militares citados [que teriam enviado os emails a ex-assessores de Bolsonaro] foram afastados do trabalho e serão desligados da Presidência", disse ainda a pasta.
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