Stalking: crime de perseguição tem feito vítimas no ES
Conhecidos pelo termo “stalking”, são dezenas de casos investigados pela polícia, sobretudo de ex que não aceita o fim do relacionamento
Escute essa reportagem
Definido como perseguição reiterada, por qualquer meio, como a internet, que ameaça a integridade física e psicológica de alguém, interferindo na liberdade e na privacidade da vítima, o crime de stalking tem feito vítimas no Espírito Santo.
São dezenas de casos investigados pela polícia, sobretudo de homens e mulheres que têm denunciado que estão sendo perseguidos por ex que não aceitam o fim do relacionamento.
Mas para enquadrar como um caso de stalking, é necessário que a perseguição seja reiterada, causando, por exemplo, algum tipo de dano à vítima, como invadir sua intimidade, impedir seu deslocamento, ameaçar a integridade física e causar prejuízos psicológicos.
Titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), o delegado Brenno Andrade explica que o crime prevê pena de reclusão de seis meses a dois anos, e multa.
O delegado contou que entre as vítimas há também homens, apesar dos casos mais graves serem contra mulheres.
Em um dos casos investigados no ano passado, um servidor público foi vítima da ex, após um breve relacionamento. Ao por um ponto final na relação, a mulher começou a persegui-lo, enviando mensagens de WhatsApp. Ela chegou a pegar os dados pessoais da vítima e registrou um número de telefone em nome dele junto a uma operadora de telefonia.
“A partir daí ela começou a mandar mensagens no nome dele, perturbando a vida dele. Quando ele trouxe isso para a polícia, iniciamos as investigações e, para a nossa surpresa, descobrimos que os dados do telefone eram do próprio servidor público, stalkeando ele mesmo”, disse o delegado.
“Obviamente que identificamos a autora e o caso foi enviado para a Justiça. Pelo que fui informado foi feito um acordo com a vítima em juízo, cujos detalhes eu não tenho”, contou o delegado, que acredita que o número de vítimas seja bem maior, uma vez que nem todas as pessoas denunciam.
Ele aproveita para pedir que as vítimas não se calem e procurem a polícia. “Isso é importante para identificar os autores, cessar as perseguições e evitar que os stalkers façam novas vítimas”, orientou o delegado.
Entrevista com uma vítima: “Isso é um pesadelo”
Diferente de algumas pessoas que são perseguidas pelo ex, uma streamer (criadora de conteúdo digital), de 26 anos, é vítima de um stalker que cria perfis fakes nas redes sociais, mas ela não tem ideia de quem esteja tirando a sua paz.
À reportagem, a jovem contou nesta segunda-feira (20) que o stalker envia mensagem para o namorado inventando calúnias sobre ela, dizendo, por exemplo, que é garota de programa com objetivo de prejudicar a relação.
A Tribuna - Quando começou a ser perseguida nas redes sociais?
Streamer - "A primeira vez que isso aconteceu foi em 2013, quando eu tinha 15 anos, no meu primeiro namoro. Depois houve uma trégua, mas infelizmente em 2022 e neste ano as perseguições voltaram."
- O que ele fala sobre você para o seu namorado?
"Diz que eu traio, que saio com velhos e sou garota de programa. O discurso é sempre esse, sempre através de perfil fake."
- Como isso afeta ou afetou a sua vida, seus relacionamentos?
"Tive seis namorados no total e isso aconteceu em três deles. Nenhum relacionamento acabou por conta disso diretamente, mas que atrapalhava, atrapalhava. Pelas coisas pesadas que ele dizia, não tinha como passar batido."
- Suspeita de alguém? Já denunciou à polícia?
"Não consigo ter ideia de quem seja porque isso acontece não é de agora. Fica difícil saber quem possa ser, ou até mesmo ser mais de uma pessoa. Até agora não denunciei, mas caso isso volte a acontecer não vou mais me calar, vou procurar a polícia e levar as provas."
- Isso tira a sua paz?
"Com certeza. Antes mesmo disso acontecer nessa última relação, avisei meses antes, logo no início, que talvez poderia acontecer. Avisei antes para evitar transtorno. Ao receber mensagens do stalker, meu namorado questionou como essa pessoa sabia de tudo isso e a pessoa respondeu dizendo “apenas sei”, sem provas, sem nada. É um pesadelo."
Saiba mais
Stalker
Tem sido cada vez mais comum encontrar a palavra stalker nas redes sociais, geralmente usada para identificar alguém que acompanha o perfil e as postagens de determinada pessoa com frequência.
Mas o termo vai além e serve para definir um perseguidor obsessivo e que dispensa atenção exagerada a alguém, geralmente ex-namorados, noivos, maridos, companheiros.
A expressão stalking
O termo “stalking” começou a ser usado no fim da década de 1980 para identificar o comportamento obsessivo de alguns fãs para com os famosos.
O estado da Califórnia, nos Estados Unidos, foi o primeiro do mundo a aprovar uma medida legal contra a prática, em 1990. Depois, Canadá, Austrália, Inglaterra e outros países europeus tomaram medidas semelhantes.
Penas
Perseguição
O Artigo 147-A, do Código Penal, prevê pena reclusão, de seis meses a dois anos, e multa, a quem perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade.
Um caso nacional mostra que prisões acontecem, a exemplo da paciente Kawara Welch Ramos de Medeiros, detida em Minas Gerais, após ser acusada de perseguir um médico e sua família.
Denúncias à polícia no Estado
Os Registros de ocorrências citados abaixo referem-se a crimes contra a pessoa (ameaça e perseguição). Nesse universo, há crimes cometidos no mundo real e virtual, incluindo a ação de stalker (perseguidor).
2021: 353, sendo 141 na Grande Vitória
2022: 923, sendo 409 na Grande Vitória
2023: 1.160, sendo 542 na Grande Vitória
2024 (até abril): 462, sendo que 242 denúncias foram registradas na Grande Vitória
Onde denunciar
Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), que fica na avenida Marechal Campos, nº 1236, bairro Bonfim, Vitória. Horário: das 9 as 16h30, de segunda a sexta-feira.
Fonte: Polícia Civil e pesquisa A Tribuna
Jovem presa após enviar 1.300 mensagens em um dia
Após perseguir durante cinco anos um médico e sua família em Ituiutaba, cidade do Triângulo Mineiro, em Minas Gerais, uma mulher que se apresenta como artista plástica e modelo de 23 anos foi presa por stalking.
Em um dia, a jovem teria enviado 1.300 mensagens e fez mais de 500 ligações para ele. O nome e a especialidade do médico não foram divulgados.
Kawara Welch Ramos de Medeiros, que era paciente do médico, foi presa no dia 08 de maio. Sua defesa nega a prática de crimes.
A jovem teria começado a perseguir o médico em 2019, alegando estar apaixonada.
Após o especialista parar de atendê-la, ela teria começado a fazer ameaças e a ligar para os familiares do profissional.
O médico e sua esposa registraram 42 boletins de ocorrência por perturbação do sossego, ameaça e extorsão.
O médico relatou que Kawara o procurou para tratar uma depressão, mas depois tentou iniciar um relacionamento amoroso.
Diante da recusa, ela teria começado a enviar mensagens simulando enforcamento com uma corda no pescoço.
A stalker também ameaçou enviar conversas entre eles à esposa do médico.
MATÉRIAS RELACIONADAS:
MATÉRIAS RELACIONADAS:
Comentários