Quadrilha recruta jovens nas baladas para tráfico internacional de drogas
Polícia Federal investiga quadrilha que oferece dinheiro a jovens para que eles levem drogas para a Europa, Oriente Médio e Ásia
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É na balada que jovens do Estado são recrutados para enviar drogas escondidas nas bagagens para a Europa, Oriente Médio e Ásia.
Integrantes de uma quadrilha internacional de tráfico de drogas, eles se infiltram em festas particulares e abertas, inclusive raves, e se aproximam dos seus alvos: jovens de classe média e baixa.
A proposta não é feita de imediato, como explica o superintendente Regional da Polícia Federal no Espírito Santo, Eugênio Ricas, que desde 2020, junto com agentes federais, monitora os rastros dessa quadrilha.
Primeiro, os traficantes conversam, bebem e até usam drogas juntos com os jovens. No decorrer da festa, fazem a proposta, que é levar cocaína para o exterior. O valor oferecido depende do destino, variando de R$ 5 mil a R$ 15 mil.
No processo de convencimento, eles dizem que já enviaram dezenas de pessoas e garantem que a polícia não “pega”. “Acreditando em dinheiro fácil, os jovens, especialmente aqueles que têm dívidas com drogas, ou os que querem ostentar roupas e bolsas de marca, financiar festas, regadas a bebidas e drogas, acabam caindo no conto do vigário”, disse Ricas.
Os passos dessa quadrilha vêm sendo monitorados desde 2020, quando duas capixabas, de 20 e 22 anos, e um paranaense foram presos no Aeroporto Internacional de Doha, Catar, no Oriente Médio, transportando cerca de 10 quilos de cocaína em suas bagagens, em um voo que deixou o Brasil com destino a Bangkok, na Tailândia.
Isso foi o gatilho para que fossem estabelecidas medidas de cooperação internacional visando obter junto ao General Directorate of Drug Enforcement – autoridade responsável pela ação policial naquele país –, todas as provas produzidas em território catari que pudessem ajudar a identificar os envolvidos no recrutamento de jovens no Estado e em outras localidades do Brasil.
Na quarta-feira (05), foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão: dois em Vila Velha e três em Santa Catarina. No Estado, um homem de 30 anos foi preso, com drogas. Os alvos são envolvidos no aliciamento, aquisição de passagens aéreas, preparação de malas com fundos falsos, designação de rotas, obtenção de documentação, e outras ações.
Entenda o caso | Capixabas levariam cocaína à Tailândia
A operação
A Polícia Federal deflagrou ontem a Operação Qatar (Catar), com o objetivo de obter novos elementos de prova para desmantelar por completo um grupo criminoso dedicado ao tráfico internacional de drogas que recrutava jovens no Espírito Santo e outros estados brasileiros para enviar cocaína para a Europa, Oriente Médio e Ásia.
Recrutamento
Investigações da Polícia Federal apontam que os jovens, entre eles capixabas, são recrutados em festas particulares e abertas, até mesmo com venda de ingressos.
Início da investigação
A investigação teve início com a prisão de duas capixabas e um paranaense no Aeroporto Internacional de Doha, Catar, transportando cerca de 10 quilos de cocaína em suas bagagens, em um voo que deixou o Brasil com destino a Bangkok, na Tailândia.
A partir desse momento, foram estabelecidas medidas de cooperação internacional visando obter junto ao General Directorate of Drug Enforcement, autoridade responsável pela ação policial naquele país, todas as provas produzidas em território catari que pudessem ajudar a determinar os envolvidos no recrutamento de jovens (mulas) no Espírito Santo e em outras localidades do Brasil atuantes no tráfico internacional de drogas.
Mandados
Na quarta (05), foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão, sendo dois em Vila Velha (Novo México e Ilha dos Ayres) e três em Santa Catarina, expedidos pela Justiça Federal de Vitória.
Os principais alvos da ação de ontem são os envolvidos diretamente no aliciamento dos jovens, na aquisição de passagens aéreas, preparação de malas com fundos falsos, designação de rotas, obtenção de documentação, dentre outras medidas necessárias para a manutenção do esquema criminoso.
Prisão no Estado
Em um dos endereços alvo de busca e apreensão, em Novo México, foi encontrado aproximadamente um litro de uma substância que, naquele momento não se sabia o que era, bem como frascos menores contendo a mesma substância.
O material foi levado para a superintendência para perícia química que confirmou tratar-se de solvente controlado, que é utilizado como droga em boates e shows, resultando na prisão em flagrante de um homem de 30 anos, por tráfico de drogas.
Também foram apreendidos telefones, computadores e anotações, material que será periciado.
Até cofre em Santa Catarina
Na cidade catarinense de Balneário Camboriú, alvo do cumprimento de mandados de busca e apreensão e onde os chefes da quadrilha moram, foi encontrado a chave de um box de aluguel.
Policiais foram até o local onde encontraram um cofre que continha dinheiro em espécie, joias e muitas escrituras de imóveis em nomes de terceiros, possivelmente, derivadas de ações de lavagem de dinheiro.
Ao todo, foram apreendidos R$ 90 mil, 350 gramas de ouro e várias escrituras de imóveis que podem ter sido comprados no esquema de lavagem de dinheiro.
Fonte: Polícia Federal.
Condenação poderia ter sido a pena de morte
Em 2021, os três jovens presos no Aeroporto Internacional de Doha, no Catar, incluindo duas capixabas, foram condenados a 10 anos de prisão no Oriente Médio. Os nomes não foram divulgados.
No entanto, se eles tivessem chegado ao destino e presos, que era a Tailândia, poderiam ter sido condenados a pena de morte.
O superintendente Regional da Polícia Federal no Espírito Santo, Eugênio Ricas, mandou um recado para quem recebe um convite para levar drogas para o exterior.
“A Polícia Federal orienta que aquelas pessoas que recebem promessa de dinheiro fácil para transportar droga ou para praticar qualquer outro tipo de licitude, não caiam nessa. O resultado pode ser muito tempo na prisão ou até mesmo a pena de morte. No Oriente Médio são 10 anos presos. Diferentemente do Brasil, lá não tem progressão de regime, as cadeias não têm visita. É uma aposta que não vale a pena”.
Com as medidas cumpridas ontem, a Polícia Federal acredita que todos os integrantes do grupo criminoso envolvidos no recrutamento das mulas capixabas presas em Doha foram identificados e agora ficarão à disposição da Justiça Federal para responderem ao processo criminal. No entanto, Ricas disse que novas prisões não estão descartadas.
O superintendente orienta que quem for aliciado, que não ceda à tentação, mesmo se tiver endividado. Ele pede ainda que, se possível, a polícia seja informada. Denúncias podem ser passadas para o e-mail da Polícia Federal [email protected]. Outro canal é ligar para o telefone 190, da Polícia Militar.
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