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Polícia

Pai de atirador desconfia que filho não agiu sozinho

Ele falou como foram os momentos de apreensão vividos desde que recebeu a notícia do ataque e disse que desconfia que o filho não agiu sozinho


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Imagem ilustrativa da imagem Pai de atirador desconfia que filho não agiu sozinho
Atirador dentro de escola em Aracruz |  Foto: Reprodução câmera de videomonitoramento

Pedindo perdão às famílias das vítimas e à sociedade, o policial e pai do adolescente de 16 anos que cometeu ataques, em duas escolas de Coqueiral de Aracruz, concedeu, ontem, uma entrevista ao jornal A Tribuna, por intermédio das advogadas Priscila Benichio e Edivanea Fosse. Ele falou como foram os momentos de apreensão vividos desde que recebeu a notícia do ataque e disse que desconfia que o filho não agiu sozinho. 

Na  entrevista, o policial havia acabado de  ser ouvido pela polícia, na Delegacia de Aracruz. O depoimento durou pouco mais de três horas e, além dele, a esposa também foi ouvida. 

O crime aconteceu no último dia 25, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti; e na privada, Centro Educacional Praia Coqueiral. As duas escolas são separadas por pouco mais de 1 km, e ficam em um bairro considerado pacato pelos moradores.

Por volta das 9h30, o atirador invadiu a escola Primo Bitti e foi direto à sala dos professores. No local, ele tirou a vida de três professoras por meio de disparos de arma de fogo. Após isso, ele se dirigiu ao Centro Educacional Praia Coqueiral, onde vitimou uma aluna de 12 anos.

“Sei a gravidade dos fatos e ele precisa pagar por isso”

A Tribuna - Como o senhor soube dos ataques?

Pai do atirador - Começamos a receber mensagens de vizinhos e amigos pelo WhatsApp.

Em que momento descobriu que o seu filho era o atirador?

Somente com a chegada da polícia em nossa residência que ficamos sabendo, e após ele confessar para a polícia. 

Consegue descrever o que sentiu nesse momento?

Nosso mundo desabou. Uma tristeza que não tem como explicar.

Qual a avaliação sobre o ocorrido?

Uma tragédia. Um ato de terror. Até agora estamos tentando entender e achar explicação.

Seu filho disse que vinha planejando os ataques há dois anos. Não percebeu nenhum sinal?

Nunca percebemos atitudes que pudessem demonstrar que ele seria capaz de um ato tão horroroso. Ele sempre foi muito tranquilo, de poucas palavras.

O senhor disse que ele sofreu bullying há cerca de dois anos. Poderia dar mais detalhes?

Ele relatou que sofria isso na escola, porém nunca disse exatamente o que era. Quando falávamos (pai e mãe) que íamos à escola, ele pedia para não ir, pois poderia piorar a situação com os meninos. Mas ele nunca deu nome às pessoas.

Que tipo de humilhação? Em qual escola? 

Foi na escola de Santa Cruz. Ele não contava detalhes. 

Algum alvo teria ligação com o ocorrido (bullying)?

Pelo o que ficamos sabendo até o momento, os alvos foram totalmente aleatórios. 

Percebeu que após as humilhações ele mudou de comportamento? O que mudou, efetivamente?

Ele chegava em casa de mau humor. E ficou mais calado.

Ele era acompanhado por um psiquiatra por causa disso?

Ele fazia atendimento no CAPS  do município de Aracruz. Tratamento conjunto de psicólogo e psiquiatra. 

Desde quando ele era acompanhado por um médico psiquiatra?

Começou antes da pandemia, tem mais de dois anos.

Sobre os ataques, as cenas mostram um jovem preparado para a ação. O senhor treinou seu filho para manusear armas?

Jamais. Isso foi falado por ele. Via muitos vídeos da internet. Eu não tive coragem de ver os vídeos. 

Ele tinha acesso às suas armas?

Não. Ele nunca teve acessos às armas. Foi uma surpresa para todos.

Em sua rede social, o senhor demonstrou ser uma espécie de fã do ditador nazista Adolf Hitler. As pessoas têm feito vários comentários sobre esse fato. O senhor é nazista? E o seu filho, é?

De forma alguma. Sou psicanalista e comprei um livro com intuito de ter mais informações sobre a mente de uma pessoa que é um personagem histórico. Infelizmente as redes sociais disseminam informações por causa de uma foto sem saber o contexto.

Acredita que ele tenha planejado essa ação sozinho?

Não. Quero uma investigação bastante criteriosa. Não consigo acreditar que ele tenha planejado tudo sozinho. Mas não descobrimos nada até o momento.

Por que suspeita disso? Viu algum conteúdo na internet?

Porque infelizmente isso é comum nas redes sociais. Grupos que só fazem o mal e fazem a cabeça de outros jovens. 

Tinha o hábito de monitorar o tempo e o conteúdo do seu filho na internet? Nunca flagrou nada? 

Sempre via ele estudando e ele se interessava muito por conteúdo histórico, Segunda Guerra Mundial, etc. Mas nunca desconfiamos de nada. 

Após o ocorrido, conversou com o seu filho? O que ele disse sobre a motivação? Ele demonstrou arrependimento em algum momento?

Ele relatou com detalhes para a polícia. Mas com a gente não comentou nada e permaneceu calado.

Ele é filho único?

Da mãe sim, porém eu possuo mais filhos. 

De alguma forma, se sente culpado?

A gente se questiona a todo tempo: onde erramos, o que fizemos. Isso é inevitável. Uma situação muito triste. 

Se pudesse voltar atrás, o que faria de diferente?

Não sei. Não paro de pensar nisso, mas sinceramente não sei.

Gostaria de deixar algum recado à sociedade, às vítimas?

Perdão. Só quero pedir perdão e desejar que todos se recuperem. Minhas palavras não vão resolver a tragédia que ocorreu, mas peço perdão. Como policial, espero uma investigação bem apurada para descobrir os motivos e se  tem mais pessoas envolvidas. Eu sei a gravidade dos fatos e ele precisa pagar por isso.

Oficial da PM é afastado e irá responderá a processo

O pai do adolescente de 16 anos, responsável pela morte de quatro pessoas e por ferir mais de uma dezena em Aracruz, após invadir duas escolas e atirar contra alunos e professores, foi afastado da Polícia Militar e irá responder a um inquérito. 

O procedimento contra o militar foi instaurado ontem pela Corregedoria do órgão e possui objetivo de apurar os detalhes a respeito do acesso do adolescente às armas do pai, uma pistola 40 e um revólver calibre 38. Será investigada, ainda, a hipótese do pai ter ensinado o filho a manusear as armas.

Segundo as informações divulgadas durante a coletiva de imprensa na manhã de ontem, o policial ainda poderá continuar atuando na corporação, porém, somente em atividades administrativas. 

A depender do andamento das investigações, outras punições poderão ser destinadas. O armamento e munições apreendidos na casa foram encaminhados para o Departamento de Criminalística Balística da Polícia Civil.

> Veja a reportagem da TV Tribuna/SBT sobre este caso:

Adolescente parou de estudar com aval dos pais

Aluno do ensino médio da escola pública Primo Bitti, em Aracruz, o adolescente, acusado de promover um massacre em duas unidades de ensino, abandonou os estudos, em junho deste ano, com o consentimento dos próprios pais. 

A informação é do Secretário de Estado da Segurança Pública, Márcio Celante. 

O jovem estudava na Escola Primo Bitti, que foi a primeira a ser invadida. De acordo com o delegado André Jaretta, após os ataques, o jovem voltou para casa, colocou as armas do pai no mesmo lugar em que havia pegado e tirou a roupa que usou  no massacre. O delegado disse  que o jovem agiu como se nada tivesse acontecido e ainda almoçou com os pais.  

Uma informação do jovem à polícia é a de que ele pretendia atacar  outra escola, que fica em Coqueiral de Aracruz, mas não teve tempo.

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