O que se sabe sobre a quadrilha que levou 400 de forma irregular para os EUA
Parte das vítimas era do Norte do Espírito Santo

Um esquema milionário envolvendo o recrutamento e travessia ilegal de migrantes para os Estados Unidos foi desarticulado nessa terça-feira (09) pela Polícia Federal. A quadrilha teria sido responsável por levar cerca de 400 brasileiros até a fronteira americana, movimentando quase R$ 13 milhões.
O chefe da Delegacia de São Mateus, o delegado Leonardo Guimarães, explicou que as investigações tiveram início após uma vítima – de Barra de São Francisco – ter buscado a polícia para informar que tinha sido ameaçada por conta da cobrança de uma dívida de um processo migratório ilegal.
“Quando passamos a investigar o caso, nos deparamos com um esquema complexo, já que não era apenas uma pessoa promovendo a migração ilegal”.
O delegado revelou que foram identificados, até o momento, 18 envolvidos no esquema, que cobrava cerca de R$ 20 mil para a travessia.
Do total, 15 deles fazem parte de uma rede de intermediários – conhecidos como coiotes – , além de outras três empresas do setor de turismo e viagens.
Eles atuavam há pelo menos oito anos nesse ramo. “Não sabemos, no entanto, se eles fazem parte de uma organização criminosa, com uma hierarquia”.
Guimarães frisou que foram expedidos sete mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão no Espírito Santo. Tiveram mandados de busca cumpridos também em Minas Gerais, na Bahia, em São Paulo e na Paraíba.
Com o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, a Polícia Federal agora dará continuidade às investigações. Entre os bens apreendidos estão computadores, celulares, além de uma série de cheques e documentos.
Crimes
O advogado criminalista, mestrando e professor voluntário de Direito Penal da Ufes, Gabriel Merigueti, explicou que o “coiote” comete crime de promoção de migração ilegal e, como geralmente não age sozinho, pratica crime de associação criminosa.
“Além disso, muitos têm outros crimes associados, como lavagem de dinheiro, extorsão, falsificação de documentos e outros”.
Já quem contrata o serviço, não comete um crime pelas leis brasileiras. “No entanto, para chegar até outro país pode ser necessário usar documento falso. Outro problema é que a entrada ilegal é crime nos Estados Unidos, podendo levar a detenção e deportação”, explicou.
ENTENDA
Operação Héstia
> A Polícia Federal deflagrou ontem uma operação para desarticular uma associação criminosa dedicada ao contrabando de migrantes para os Estados Unidos e lavagem de dinheiro.
> A ação mobilizou 44 policiais federais, que cumpriram mandados de busca e apreensão e de prisão em cinco estados: Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Paraíba.
> A operação teve início após um homem ter denunciado, no final do ano passado, que estava sendo ameaçado por outro homem, de quem tinha contratado o serviço para ir com a mulher para os EUA.
> O casal foi deportado e, depois, disse que passou a ser cobrado por valores que já tinha pago.
Investigados
> A operação teve 18 alvos, sendo 15 pessoas físicas que atuavam como intermediários no esquema, conhecidos como coiotes.
> Outros três alvos eram empresas do setor de viagens e turismos. Elas eram responsáveis por emitir passagens aéreas.
Como atuavam
> A investigação apontou um esquema complexo, com uma rede que atuava há pelo menos oito anos levando pessoas a atravessarem a fronteira dos Estados Unidos ilegalmente.
> Os coiotes eram responsáveis por aliciar pessoas com promessas do sonho americano.
> Elas cobravam cerca de R$ 20 mil por pessoa, mas o valor não era fixo.
> Também não existia uma rota única usada por eles, já que tinham contatos em vários países.
> A investigação aponta que foram identificadas transações financeiras que somam R$ 12,7 milhões.
> Estima-se que mais de 400 pessoas foram submetidas a esse esquema ilícito, muitas delas expostas a riscos extremos e violência durante o trajeto.
Crimes
> Segundo a Polícia Federal, os alvos da operação são investigados pelos crimes de contrabando de migrantes, associação criminosa e lavagem de dinheiro. As penas somadas para esses delitos podem ultrapassar 23 anos de reclusão.
Fonte: Polícia Federal.
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