Noivas levam prejuízo de R$ 1 milhão em golpe
Pelo menos 25 mulheres foram vítimas de golpe dado por um decorador de festas, que forjava conversas com fornecedores
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Do sonho de um dia perfeito à frustração. É assim que um grupo de pelo menos 25 noivas define um capítulo de uma história que não queria escrever: elas acusam um decorador de deixar um prejuízo de cerca de R$ 1 milhão às vésperas do casamento.
Indignadas, muitas estão procurando a polícia para denunciá-lo. Outras juntam provas para registrar um boletim de ocorrência, bem como estão recorrendo ao Poder Judiciário para pedir indenização por danos morais.
O decorador é acusado de forjar conversas com fornecedores e construir um esquema de efeito pirâmide: para bancar casamentos anteriores, utilizava dinheiro de novas clientes, até que o esquema foi descoberto.
“Ele manipulava toda a situação e nos fazia confiar que era tudo para facilitar nossas vidas. Agora, ele se enrolou. Temos um grupo com 25 noivas que enfrentam o problema. Mas o número é maior, pelo que estou sabendo”, disse uma das noivas, que pediu para o seu nome ser preservado.
Somente uma cerimonialista ouvida pela reportagem disse que 10 clientes amargam um prejuízo de R$ 152 mil. Todas com casamento marcado para abril.
O gatilho para descobrir as irregularidades foi quando uma cliente contou que fechou a identidade visual (conjunto de elementos que representam o casal) com o decorador e ele não a recebeu.
Ao fazer contato com a responsável pela arte, a cerimonialista descobriu que o decorador não tinha pago o serviço. “Ele era respeitado no mercado, fazia casamentos lindos, mas as coisas foram mudando. Em dezembro, uma noiva me contou que fez um pagamento e depois descobriu que o dinheiro tinha sido utilizado pelo decorador para pagar um outro evento”, lamentou.
As desculpas dadas pelo decorador, de acordo com as vítimas, eram variadas, como mudanças de planos por causa de chuva e problemas com fornecedores de flores.
“É um absurdo e fico indignada com o silêncio dele, toda a falta de caráter é desprezível. Não conto em recuperar meu dinheiro tão cedo, mas tenho fé que a justiça virá um dia”, disse uma engenheira que perdeu mais de R$ 20 mil.
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eMPRESÁRIA, 28 ANOS
“Descobri a um mês do casamento”
Na reta final para realizar um sonho idealizado desde dezembro de 2020, com cada detalhe definido, uma empresária de 28 anos levou um susto ao se ver diante de prejuízo de R$ 40 mil.
Sem chão, ela disse que pensou em adiar o casamento, que será em abril. No entanto, seu noivo e seu pai disseram que fariam de tudo para que a cerimônia fosse mantida.
A Tribuna - Como foi que tudo aconteceu?
Empresária - Eu fechei o contrato com o decorador em dezembro de 2020 e descobri a farsa um mês antes do casamento. Eu admirava o trabalho dele. Desde à época, ele sempre teve um poder de persuasão, uma lábia. Ele dizia para eu ficar tranquila que ele iria resolver tudo no meu casamento. Isso me deixava segura.
Quais serviços contratou?
A plotagem, o toldo, a maquete do bolo, a cadeira de cerimônia, as flores, mas o dinheiro não foi repassado para os fornecedores. Tive um rombo de R$ 40 mil .
“Estou muito abalada. Foi um dinheiro economizado ao longo dos anos. Pensei em cancelar tudo Noiva, Empresária, 28 anos
Pagou o serviço antes?
Sim, pois ele falava para a gente fechar logo o contrato e mostrava as vantagens de se antecipar. Ele dizia que ia aumentar o valor das flores na virada do ano. Ele me mandou dois orçamentos, comparando a diferença de valor. Só que descobrimos depois que o orçamento era falso. Descobri que esses fornecedores nunca existiram.
Como está o seu emocional?
Estou muito abalada. Foi um dinheiro economizado ao longo dos anos. Pensei em cancelar tudo, mas meu noivo e meu pai disseram: 'não vamos deixar que esse dia tão importante passe em branco'.
O que deseja que aconteça?
Eu não gosto de desejar o pior para ninguém, mas sei que a vida cobrará o que ele fez não só comigo, mas com todas as vítimas.
atitude estranha
“É um pesadelo”
Com casamento marcado para outubro, um casal de engenheiros vai procurar a polícia para denunciar o decorador. Eles amargam um prejuízo de R$ 26 mil. “É um pesadelo. Ele estava sendo indicado por cerimonialistas, pois até então prestava um bom serviço, e isso trouxe confiança. Só que desde o início meu noivo achou estranha a atitude dele. Ele pressionava demais para fechar o contrato e as contratações adicionais. Infelizmente, temos que desembolsar uma grana não planejada para fazer o casamento virar realidade”.
Delegado diz como agir para não cair em armadilhas
A Polícia Civil informou que, até ontem à tarde, seis casos haviam sido denunciados e seguem sob investigação do 3º Distrito Policial de Vitória que trabalha para que o suspeito seja responsabilizado.
Além disso, a orientação é que outras possíveis vítimas registrem a ocorrência para que a Polícia Civil tome ciência junto às investigações, que estão em andamento.
“A população pode denunciar através do Disque-Denúncia (181) qualquer tipo de irregularidade, ilegalidade ou repassar informações que ajudem as polícias na elucidação de delitos ou infrações. A ligação é gratuita e pode ser realizada em qualquer município do Estado”, pediu, por nota.
Já o titular da Delegacia Especializada de Crimes de Defraudações e Falsificações (Defa), delegado Douglas Vieira, orientou as pessoas sobre como agir para evitar armadilhas de golpistas.
Primeiramente, ele pede calma, alerta para que as pessoas não fechem contrato com pressa e desconfiem de preços menores que os praticados no mercado.
Sua sugestão é pesquisar na internet para ver se não há reclamações da empresa e do profissional que irá executar o serviço. Além disso, recomenda olhar nas redes sociais se há queixas de outras pessoas.
Os nomes também podem ser consultados no site do Tribunal de Justiça do Estado (www.tjes.jus.br) para ver se não há processos em andamento.
Outra dica do delegado é não pagar todo o serviço antes que ele aconteça. Isso pode reduzir o valor do prejuízo, caso seja golpe.
o outro lado
Sem retorno
Como o caso ainda está sendo investigado, o nome do acusado não está sendo divulgado pela reportagem de A Tribuna.
Mesmo assim, a reportagem tentou contato com o acusado por dois telefones celulares e e-mail que constam em sua rede social. No entanto, até o fechamento desta edição, não obteve retorno.
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