"Jamais verei do que ela seria capaz", diz mãe de menina morta em Aracruz
A menina Selena Zuccolotto foi vítima do atentado à escola particular
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A mãe da menina Selena Sagrillo Zuccolotto, de 12 anos, uma das quatro vítimas do atentado a duas escolas de Aracruz, divulgou uma carta emocionante sobre a morte da filha. O texto começou a circular em grupos de Whatsapp, neste domingo (27), e a autoria foi confirmada ao jornal A Tribuna por uma tia da criança.
Em um dos trechos, a mãe, Thais Zuccolotto, diz que encontrou um texto no quarto de Selena e que ela sentiu que precisava compartilhar aquelas palavras.
“Vai ter um dia em que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia é hoje. Eu esperei minha vida inteira. E tudo está bem. Completei meus 11 anos e tinha voltado ao bairro e a escola que cresci depois de dois anos em São Mateus (ES), e eu disse: Vai ter um dia que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia está próximo", diz a passagem encontrada no cômodo em que a menina dormia.
"Realmente o dia estava próximo para minha filha", disse Thais em sua carta. De acordo com ela, que afirmou ter escrito a publicação no computador e no quarto de Selena, a menina morreu no dia do aniversário de seu avô materno e que, no dia 1º de dezembro, seria o aniversário do avô paterno.
"Daqui a trinta dias será Natal. Minha filha não verá os próximos jogos da copa do mundo e nunca mais se empolgará com um gol como aquele do Richarlison, que ela achou 'incrível'. Jamais verei do que ela seria capaz. Ela estava se tornando uma mulher poderosa, alma livre, feminina. A promessa de uma vida inteira foi desfeita. Todo um futuro interrompido. A custo do ódio, do desamor, do terror", diz outro trecho.
ATENTADO A ESCOLAS
Após atacar a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti, que fica em Coqueiral de Aracruz, o atirador foi até a escola particular Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC), que fica no mesmo bairro a cerca de 700 metros de distância do primeiro alvo do suspeito.
Lá, o atirador abriu o portão, entrou no pátio e começou a atirar pelos corredores e salas. Selena Sagrillo Zucoloto, que estava na linha de tiro, acabou atingida e morreu na hora. Além da menina, três professoras também morreram e outras 12 pessoas ficaram feridas.
O adolescente, de 16 anos, acusado de cometer o crime, foi preso na tarde do mesmo dia e, depois, encaminhado para o Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), em Cariacica, na Grande Vitória.
Leia a carta na íntegra:
"Escrevo este texto do computador e quarto de minha filha Selena, que agora amargam sua ausência. Escrevo, pois não tenho mais voz para falar, não tenho mais lágrimas para chorar.
O lamento, a dor e angústia que estavam no meu peito, antes, agora começam a dar lugar ao sentimento de entendimento, aceitação e saudade.
Sentada em meio ao pequeno caos criativo que era seu quarto, encontrei um texto que falou tão profundamente em meu coração que não consigo deixar de compartilhar com vocês, que tanto estão nos dando forças neste momento.
O texto dizia: 'Vai ter um dia em que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia é hoje . Eu esperei minha vida inteira. E tudo está bem. Completei meus 11 anos e tinha voltado ao bairro e a escola que cresci dep ois de dois anos em São Mateus (ES), e eu disse: Vai um dia que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia está próximo'. Realmente o dia estava próximo para minha filha.
Havia 1 mês e cinco dias que ela havia completado 12 anos. O dia de sua morte, dia 25/11, foi também o dia do aniversário de meu pai, e seu avô Jose. Dia 01/12 será aniversario de seu outro avô, Laudérico.
Daqui a trinta dias será Natal. Minha filha não verá os próximos jogos da copa do mundo e nunca mais se empolgará com um gol como aquele do Richarlison, que ela achou “incrível”. Jamais verei do que ela seria capaz.
Ela estava se tornando uma mulher poderosa, alma livre, feminina. A promessa de uma vida inteira foi desfeita. Todo um futuro interrompido. A custo do ódio, do desamor, do terror. Não venho aqui clamar por retaliação, pois de ódio, estou farta.
Clamo por piedade e por segurança para nossas crianças serem as milhões de pequenas revoluções que elas poderiam ser. Segurança nas escolas, ruas, casas. Abrigadas e protegidas de todos os desterror do mundo. Longe da violência, drogas, armas e abusos.
Que a partida da Selena seja o início de uma nova revolução, assim como ela gostava, mas uma revolução baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias, regionalidade, classe social e crença.
Esse é um lamento e um grito de uma mãe que padece com a perda de uma filha. Peço que nos mandem orações, amor, energias boas, seja qual for sua crença. Que o mundo se una pela Selena, assim como ela escreveu em seu texto, e por tantas outras Selenas pelo mundo.
Assinado: Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto"
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