Golpe do falso leilão provoca prejuízo que ultrapassa 1 milhão no ES
Criminosos fazem sites e criam até call center para induzir vítimas. Polícia capixaba tem ajuda internacional para investigar crimes
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Aliada ao mundo dos negócios, a tecnologia também tem sido usada com outra finalidade e deixado um rastro de prejuízos. No mercado dos leilões, por exemplo, quadrilhas agem de forma cada vez mais profissional, com falso endereço comercial e até equipes de call center, na tentativa de fazer vítimas.
No Estado, em um período de dois anos, o golpe do falso leilão já deixou um prejuízo que ultrapassa R$ 1 milhão, envolvendo carros, motos e até caminhões.
Durante uma semana, a reportagem ouviu leiloeiros e dezenas de vítimas. Muitas, por vergonha, optaram em não compartilhar as suas experiências. Outras, com o intuito de alertar as pessoas, toparam contar o drama vivido.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) explica que os golpistas criam sites falsos de leilão para anunciar todo tipo de produto com preços bem abaixo do de mercado. Depois, pedem transferências, depósitos e até dinheiro via Pix para assegurar a compra.
“Geralmente apelam para a urgência em fechar o negócio, dizendo que pode perder os descontos. Mas nunca entregam as mercadorias pagas. Além disso, os fraudadores podem se aproveitar para roubar informações como CPF e número de conta das vítimas”.
Com 45 anos de experiência, o leiloeiro Alexandre Buaiz Neto, criador da marca Buaiz Leilões, diz que tem sido vítima deste tipo de golpe. Ele conta que há mais de seis anos acompanha casos de leiloeiros de outros estados, parecidos ou idênticos aos dele.
“Os criminosos têm feito essa abordagem com outros sites de leilões, até sites oficiais já foram clonados. Eles fazem isso com site de leilão porque passa uma expectativa de oportunidade às pessoas, de que poderão comprar algo por um preço abaixo do valor de mercado. As pessoas acreditam estar fazendo um bom negócio e se deixam levar pelas informações falsas.”
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O responsável pelo setor jurídico da empresa, Luiz Buaiz Neto, compara: “O golpe é praticamente igual ao de fraudes nas redes sociais e aplicativos de comunicação. O criminoso coleta as imagens, coloca um nome e forja uma história. É difícil se proteger, estamos todos sujeitos. Até existe um filtro feito por empresas que regulamentam os IPs (protocolos de internet) e nós nos reportamos a elas, mas é um volume gigantesco de reclamações que recebem por dia”.
Polícia recebe uma denúncia por semana, diz delegado
Quem monitora os passos das quadrilhas que cometem o golpe do falso leilão é o titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), delegado Brenno Andrade.
Ele conta que por semana recebe pelo menos uma denúncia de vítimas da Grande Vitória. Na maioria das vezes, os golpes envolvem veículos, principalmente carros populares e motos.
Ele conta que geralmente as quadrilhas são de fora do Estado, principalmente de São Paulo.
O delegado ressalta ainda que diversos sites que se fazem passar pelos seus leilões não estão hospedados em um servidor de domínios do Brasil, o que dificulta a sua retirada do ar.
“Para isso é preciso uma ordem judicial e uma cooperação jurídica internacional, o que na maioria dos casos torna a investigação muito lenta”.
Enquanto conversava com a reportagem, o delegado recebeu uma mensagem em sua rede social. Do outro lado, uma vítima que pedia orientações sobre como proceder após ficar no prejuízo.
Brenno Andrade, prontamente, pediu que a vítima registrasse um boletim de ocorrência em qualquer delegacia, ou por meio da Delegacia Online, https://delegaciaonline.sesp.es.gov.br, munido de material que comprove o crime e que auxilie a polícia na investigação.
Ao ser questionado sobre eventuais ressarcimentos do dinheiro que perdeu, o delegado disse que um caminho é entrar na Justiça.
A prudência de uma aposentada a livrou de entrar nas estatísticas, mas mesmo assim, ela registrou um boletim de ocorrência.
Sua história começa após ela dar um lance e ser informada que teria arrematado um carro pelo valor de R$ 19 mil. Os golpistas, disfarçados de leiloeiros, disseram que iriam checar o número da conta bancária por e-mail para a transferência do dinheiro no mesmo dia.
A promessa era pegar o carro após 48 horas. Só que ela, antes de efetuar o pagamento, pediu para o filho levá-la até o pátio onde estaria o veículo.
Sua intenção era ver as condições do veículo. Chegando lá, descobriu que o site era falso.
SAIBA MAIS
O golpe
envolve a criação de um site falso de leilão com informações de veículos ou outros bens, semelhante a uma página oficial de leiloeiros credenciados, com pequenas mudanças no domínio, algumas vezes utilizando até o mesmo nome, mas mudando para “.com” no lugar de “.com.br”, por exemplo.
Fotos
Os criminosos usam fotos de veículos com preços abaixo do mercado para atrair potenciais compradores.
Ao entrar em contato, a vítima é levada a acreditar em uma suposta legalidade da venda e acaba fornecendo informações pessoais e financeiras, além de realizar depósitos em contas bancárias fraudulentas.
No entanto, leiloeiros alertam: não há uma única estratégia de ação. Os criminosos podem mudar a forma de abordagem. Portanto, é difícil dar a descrição exata de como o crime acontece, sendo cada ação um caso diferente do outro.
Lance
Depois que a vítima faz um lance, acreditando ser um site oficial, o golpista entra em contato por telefone ou aplicativo de mensagem para informar sobre dados do veículo e incentivar a arrematação do bem com rapidez.
Os golpistas usam informações reais do veículo, como Renavan e placa, para dar credibilidade ao falso negócio.
Documentos
Após negociações, o golpista envia documentos semelhantes aos oficiais com dados da operação e dados bancários para o pagamento, seguido pelo envio de uma suposta carta de arrematação. Após o pagamento, os contatos são encerrados.
Estelionato
Essas ações são consideradas crimes de estelionato. É importante tomar cuidado ao realizar compras pela internet e verificar a reputação do vendedor, a autenticidade das informações e a legalidade da transação.
Dicas para se blindar
Tipos de leilão
Há vários: judiciais, extrajudiciais, particulares e outros. É necessário ao menos saber qual a lei e as regras que se aplicam a cada caso.
Edital do Leilão
Este documento é o que irá regulamentar todo leilão, portanto, leia-o em sua totalidade e anote as dúvidas para sanar antes de dar um lance.
Constatação das informações
A descrição e avaliação do bem devem estar indicadas no Edital e será preciso checar se isto condiz com a realidade. Faça uma visita ao bem, pesquise o valor de mercado e levante o histórico de documentos.
Dar um lance seguro
É comum emocionar-se no leilão, então tenha em mente o valor máximo que pretende gastar, não se esquecendo de incluir nos cálculos o valor da comissão do leiloeiro e eventuais despesas.
Cada caso é um caso
Cada bem e cada leilão terão sua peculiaridade: alguns podem incluir o débito passado do bem ao arrematante; alguns podem possuir penhoras vinculadas ao bem e há também os casos em que o bem pode estar completamente desembaraçado.
Fonte: Luiz Buaiz Neto, responsável jurídico da Buaiz Leilões, Febraban e Polícia Civil.
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