“Fiquei com arma na minha cabeça”, disse vítima de sequestro
Uma pedagoga de 50 anos contou o drama vivido ao lado da sua filha, em agosto deste ano
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Quebrando o silêncio, em virtude de um trauma que dificilmente será superado, uma pedagoga de 50 anos contou o drama vivido ao lado da sua filha, de 25 anos, em agosto deste ano.
As duas foram rendidas por um bandido armado após chegam à garagem do prédio, em Jardim da Penha, Vitória.
Sob ameaça de morte, elas foram obrigadas a ir até um banco em Maruípe, Vitória, onde a filha teve que descer e fazer uma transferência de dinheiro por Pix.
A Tribuna - Como tudo aconteceu?
Pedagoga - Em agosto deste ano, por volta das 17h30, eu tinha acabado de chegar do serviço. A minha filha tinha ido me buscar de carro. Entramos, a minha filha fechou o portão sem perceber nada de errado e fomos para a garagem do prédio onde moro, em Jardim da Penha. Lá, fomos rendidas por um criminoso armado.
Como ele entrou?
Não tenho ideia, mas acho que ele estava escondido, esperando a oportunidade para cometer o crime. Fui a primeira a ser rendida. Ele apontou a arma para a minha cabeça e disse: “eu não vou fazer nada com você. Só quero que entre no carro”. Nesse momento, sem ele perceber, eu joguei o meu celular no chão. Ele dizia: “eu não quero celular, não quero carro, só quero que passem todo dinheiro que têm através do Pix”.
Entramos no carro, a minha filha foi dirigindo e eu fui obrigada a ficar no banco do carona. Ele sentou atrás e, no trajeto, fiquei com a arma apontada para a minha cabeça.
Para onde foram levadas?
Ele obrigou a minha filha a rodar no bairro Andorinhas, São Cristóvão, Tabuazeiro (Vitória) até chegar em Maruípe. Ele mandou a minha filha estacionar em uma ladeira perto da agência bancária.
Como a sua filha estava?
Graças a Deus, ela se manteve super calma. Ela só pedia para ele não fazer nada comigo. Já ele estava muito nervoso e falava para eu não abrir a boca. Obedeci.
Teve ameaça de morte?
A todo momento. Ele dizia que se eu fizesse sinal para alguém fora do carro, ia me matar. Para a minha filha dizia que ela não deveria ligar o pisca para ninguém, não fazer nenhum gesto, pois se ele percebesse dizia que iria meter um tiro em mim.
A minha filha pedia para ele ficar calmo, pois faria tudo o que ele estava mandando.
O que aconteceu quando chegaram próximo ao banco?
Ele falou: “Sua filha vai e você fica comigo”. Ele deu um prazo de cinco minutos para ela ir e tirar o dinheiro todo. Ela pegou tudo da conta, cujo valor prefiro não mencionar. Além disso, ele pegou R$ 100 da minha carteira.
Como foram libertadas?
Assim que a minha filha entrou no carro e deu o dinheiro, ele ainda foi irônico e disse: “agora sim, eu estou com dinheiro e vocês podem ir com Deus”. Ele saiu a pé, correndo, em direção a Tabuazeiro. Imediatamente, a minha filha ligou o carro e saímos dali.
Registraram a ocorrência?
A minha filha tentou registrar a ocorrência, mas disseram que ela deveria ir em outro lugar e nós desistimos de registrar.
Entregamos para Deus. Confesso que eu ainda não superei o trauma e nem falei com quase ninguém sobre o que aconteceu. Só de falar, a cena volta e não é nada bom. Apenas quem passa por isso, sabe como é desesperador ficar sob a mira de uma arma.
Em silêncio, rezava?
Eu só pedia a Deus para que a gente pudesse sair daquela situação e, depois de 40 minutos, fomos liberadas. Com certeza, esse trauma dificilmente será superado. Tinha três dias que a minha filha havia chegado da Irlanda.
OUTROS CASOS
Nem grávida escapa
Grávida de 8 meses, uma mulher foi sequestrada em Jardim da Penha, em Vitória, no início do mês passado. Ela foi rendida por um criminoso armado quando saía com o carro da garagem de um prédio.
A vítima foi obrigada a fazer transferência de dinheiro via Pix. Ao todo, ela perdeu R$ 3 mil. A mulher ficou com o criminoso por cerca de 20 minutos. Fazendo tortura psicológica, ele dizia que se ela não estivesse grávida seria muito pior.
A mulher foi obrigada a deixar o criminoso perto da Ponte da Passagem. Ele fugiu e não foi preso até o momento.
Empresário é rendido
Um empresário foi sequestrado por criminosos no dia 19 de outubro. O crime aconteceu após ele sair de um clube na Praia do Canto. Ao caminhar para o estacionamento, ele foi rendido por criminosos. Dentro do carro, um dos bandidos assumiu o volante e outro estava com um revólver obrigando o empresário a realizar as transferências bancárias. A Polícia Civil não informou o valor da quantia que os criminosos extorquiram do empresário.
DICAS DE SEGURANÇA
Estado de alerta
A principal dica de segurança é manter-se em estado de alerta nas vias públicas e sempre atento com o que ocorre em um perímetro de, no mínimo, 100 metros.
Redobre a atenção, principalmente se o local estiver pouco movimentado.
Os criminosos monitoram e buscam pessoas que se colocam em posição de vulnerabilidade nas calçadas, como, por exemplo, pessoas que estão atentas ao celular, ajeitando crianças em cadeirinhas de carros, paradas dentro de carros, entre outras distrações em ambientes públicos.
Limites para transferências
Estabelecer limites modestos, para transferências diárias de valores via Pix, é uma boa medida para minimizar o prejuízo de uma ação criminosa dessa natureza.
Os valores ideais variam entre R$ 1 mil e R$ 5 mil dependendo das condições financeiras da pessoa.
Ocultar aplicativos bancários
Outra medida que pode colaborar para manter o dinheiro protegido é utilizar recursos tecnológicos para ocultar aplicativos de bancos.
Todavia, essa medida pode deixar o bandido nervoso ou levá-lo a conduzir a vítima até a um caixa eletrônico.
Recurso de controle remoto
Sempre é bom ter ativo no smartphone um recurso de monitoramento e controle remoto. Caso o criminoso leve o aparelho, a localização geográfica do dispositivo e a possibilidade de apagar todos os dados do sistema serão muito úteis.
Boletim de ocorrência
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) pede que no caso de o cliente ter sido vítima de algum crime, ele dever registrar boletim de ocorrência e notificar seu banco para que medidas adicionais de segurança sejam adotadas.
Os bancos, segundo a Febraban, também atuam em parceria com forças policiais para auxiliar na identificação e punição de criminosos.
Ressarcimento
Sobre ressarcimento, a Febraban informou que cada instituição financeira tem sua própria política de análise e devolução, que é baseada em análises aprofundadas e individuais, considerando as evidências apresentadas pelos clientes e informações das transações realizadas.
Fonte: Eduardo Pinheiro, consultor de Tecnologia da Informação e Febraban.
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