Facções em guerra disputam liderança do tráfico nos morros
Duas organizações criminosas, PCV e TCP, têm se enfrentado devido à guerra por pontos de vendas de drogas na Grande Vitória
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Assassinatos, crimes patrimoniais e violência generalizada. Essas são algumas consequências trazidas pelo tráfico de drogas em várias cidades brasileiras. No Espírito Santo, a problemática que envolve a venda de entorpecentes também têm trazido saldos negativos, principalmente para a população.
No Rio de Janeiro e no Espírito Santo, facções criminosas estão disputando a liderança do tráfico em morros. Na Grande Vitória, por exemplo, duas organizações retomaram um conflito antigo: Primeiro Comando de Vitória (PCV) e Terceiro Comando Puro (TCP).
Segundo a Polícia Militar, o PCV comanda todo o tráfico de drogas do Complexo da Penha – região que inclui Bairro da Penha, Bonfim, São Benedito, Morro da Floresta, entre outros. O responsável pela facção é Fernando Moraes Pimenta, o “Marujo”, de 30 anos.
Já o TCP é uma facção antiga do Estado, comandada pelos “Irmãos Vera”, cuja gerência é feita pelos irmãos Bruno, Gabriel e Luã Vera. Tanto Marujo quanto os três irmãos estão foragidos e respondem por crimes relacionados ao tráfico de drogas. O TCP tem domínio em bairros como Itararé e Andorinhas.
Devido aos “acordos” comerciais feitos entre os líderes, as duas facções permaneceram em paz por muito tempo. O problema é que há cerca de uma semana o clima entre as gangues voltou a esquentar, após a morte de um adolescente em Itararé.
De lá para cá, traficantes do TCP e do PCV começaram a se ameaçar pela internet, e uma onda de violência tomou conta de bairros onde as duas facções dominam.
Em Itararé, por exemplo, no último dia 9, um tiroteio assustou moradores. Ainda por lá, um outro menor foi assassinado a tiros, à luz do dia, no dia seguinte.
Ele seria morador do bairro São Benedito, cuja facção é rival de Itararé. No mesmo dia, no Complexo da Penha, o carro de um sargento da PM foi incendiado.
Para a polícia, não restam dúvidas de que os acontecimentos estão ligados à disputa pelo tráfico de drogas. Comunicados divulgados em grupos de conversa pelas duas gangues confirmam a versão da polícia: uma nova guerra entre as facções está instalada no Estado.
Comandante da Polícia Militar, coronel Douglas Caus disse que a polícia checa a veracidade dessas ameaças. Ele afirmou também que uma grande operação foi montada, a fim de evitar possíveis conflitos.
“Sabemos que existe um desentendimento entre essas duas facções, principalmente pela disputa dos pontos de vendas de drogas, mas essas informações de ameaças estão sendo checadas”.
Patrulha reforçada na Grande Vitória
Após os momentos de tensão que aconteceram no bairro Itararé, em Vitória, onde um adolescente foi morto na última terça-feira, a Polícia Militar afirmou que seguirá com patrulhamento, não só na região onde aconteceu o crime, mas também no Complexo da Penha.
Outra informação é que toda a cúpula da polícia capixaba estará na caçada de Marujo, o bandido número 1 do Estado. Ele também é apontado como o responsável pelo assassinato do adolescente.
Em entrevista ao jornal A Tribuna, o comandante da Polícia Militar, coronel Douglas Caus, disse que, na semana passada, ele próprio foi até um possível endereço onde o criminoso estaria escondido, mas não o encontrou. Ele aproveitou a entrevista para mandar um recado para o bandido.
“Ele tem duas opções: ou se entrega para a Polícia Civil e vai cumprir o tempo de cadeia dele, ou mais cedo ou mais tarde ele vai bater de frente com os nossos policiais, nos becos e vielas e aí a Polícia Militar, sabendo da periculosidade desse indivíduo, estará preparada para qualquer tipo de reação dele”.
Ele disse ainda que a PM vai continuar subindo e descendo os morros da Grande Vitória e que os criminosos não impedirão suas ações.
“Neste ano, já prendemos 16 líderes de facções e vamos continuar buscando a prisão desses indivíduos, dentre eles o Marujo. O recado para o Marujo: Se ele insistir em enfrentar a polícia, o destino dele será o DML”.
PM nega vinda do Comando Vermelho para o Estado
Sabendo que Fernando Moraes, foragido conhecido como Marujo, responsável pela facção criminosa Primeiro Comando de Vitória (PCV), está escondido em favelas cariocas, surge uma dúvida: será que bandidos ligados ao Comando Vermelho estão infiltrados em morros capixabas? Segundo o comandante da Polícia Militar no Estado, Douglas Caus, não.
O comandante afirmou que ainda não há registros de criminosos de outros estados, ligados a facções nacionais, infiltradas nas comunidades capixabas.
“Sabemos que as facções estão interligadas, que os bandidos daqui têm ligação com facções do Rio, mas de maneira comercial. Não tem carioca vindo se esconder nos nossos morros”, afirmou.
Questionado sobre o motivo de as polícias não conseguirem localizar Marujo, o comandante explicou se tratar das fugas constantes. “Ele nunca dorme na mesma casa e está sempre pulando de bairro em bairro”, disse.
Caus ressaltou ainda que existe uma grande integração das polícias capixabas e cariocas. “Já mandamos fotos dele e informações. Estamos sempre em comunicação”.
Quem é Marujo?
Ficha criminal
Fernando Moraes Pimenta, o Marujo, 30, é o número um dos bandidos mais procurados do Estado.
Possui uma ficha criminal extensa. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, são pelo menos sete mandados de prisão em aberto, desde 2017.
De acordo com a Polícia Militar, Marujo é o chefe do tráfico de drogas do Bairro da Penha e Bonfim, na capital. Ele responde diretamente à cúpula da liderança do Primeiro Comando de Vitória (PCV), facção que comanda a região e se estende a vários bairros – não só na Grande Vitória como em outras regiões do Estado.
Marujo é o responsável por colocar em prática os planos feitos pelas lideranças do PCV, que estão presas.
As últimas investigações davam conta de que ele estaria escondido no Rio de Janeiro, dentro de áreas comandadas pelo Comando Vermelho (CV), grupo com quem o PCV é aliado.
Análise
“Conflitos por disputas financeiras”
“Os conflitos entre facções e organizações criminosas têm se tornado cada vez mais visíveis e rotineiros, justamente pelo fator de disputas territoriais e, principalmente, financeiras.
A 'Indústria do Crime' é audaciosa ao ponto de permitir que existam associações e 'consórcios' de facções e grupos para adquirir armas e drogas puras que serão usadas para o refino e futuro reparte da produção.
Essas uniões criminosas chegam ao ponto de unirem grupos rivais para tratar da eliminação de outros rivais em conjunto.
Os setores de inteligência dos órgãos de repressão e segurança pública buscam identificar estratégias e subsidiar demais setores de combate na tentativa de enfraquecer as organizações.
A maior possibilidade de promover esse enfraquecimento está na atuação paulatina das frentes financeiras dessas quadrilhas, diminuindo seus poderes de alcance e suas forças. Quando enfraquecido, o caixa dessas quadrilhas é capaz de estremecer até mesmo os controles dentro das penitenciárias, desestabilizando a 'cadeia de comando' e seus líderes.”
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