“Eu pressenti a morte de minha filha”, diz mãe de jovem assassinada na Serra
Josefa Nascimento afirmou que sentiu um vazio “muito grande” dias antes de Carolayne Nascimento, 25, ser morta
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Vestindo uma blusa branca com a mensagem “Saudades eterna Carolayne Nascimento Barcelos: 1998-2023”, Josefa Nascimento, mãe da jovem assassinada na madrugada de sábado (28), no bairro Divinópolis, na Serra, se reuniu na segunda-feira (30) à noite com o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, coronel Alexandre Ramalho.
Enquanto aguardava ser chamada, ela conversou com a reportagem e, chorando, disse que pressentiu a morte da filha.
Carolayne trabalhava como atendente na mercearia do pai em Divinópolis, mas morava em outro bairro na Serra. No momento em que passava de carro em frente à casa do pai e da madrasta, retornando de uma festa na casa de uma amiga, foi cercada por criminosos.
A informação inicial é que os criminosos, armados, determinaram que a jovem abaixasse os vidros elétricos do carro. Só que isso não foi possível por conta de um defeito que fez com que os vidros não funcionassem, o que pode ter dificultado Carolayne a cumprir a ordem, quando os disparos começaram.
“Eu pressenti a morte da minha filha. Na quarta-feira (25), eu estava com um aperto muito grande no peito e mandei uma mensagem para ela pelo WhatsApp”, disse.
Na mensagem, ela dizia à filha: “Estou com um mau pressentimento, um vazio, uma aflição, um negócio estranho. Eu não sei o que te dizer, Carolayne, mas é um vazio muito grande como se eu fosse ter uma grande perda, uma aflição”.
A filha respondeu: “Credo, mãe”. Na sequência, Josefa disse: “É sim, filha. 'Tá' queimado e repreendido em nome de Jesus. Que Deus te proteja e toma muito cuidado quando for para casa”.
Com o coração apertado, a mãe ainda pediu a filha para ligar quando chegasse em casa. Ela falou: “tá bom”. Na madrugada de sábado, a jovem, que é solteira, foi morta.
Em uma manifestação pela morte da filha na BR-101, na segunda-feira (30), a mãe da jovem disse à TV Tribuna que a jovem dizia que estava sendo ameaçada e tinha uma medida protetiva. Ela, inclusive, citou quem estaria fazendo as ameaças e apontou “parentesco”. No entanto, como o caso segue sob investigação, os detalhes não estão sendo publicados.
A Polícia Civil informou que a Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Mulher investiga outras motivações.
Josefa Nascimento, mãe: "Ela é tudo pra mim"
Após pressentimento, Josefa Nascimento, mãe de Carolayne Nascimento Barcelos, diz que não se recorda em que momento e quem deu a notícia que a filha tinha morrido. À reportagem, a mãe falou da dor e pediu Justiça.
A Tribuna – Como a senhora soube da morte da filha?
Josefa Nascimento – Não lembro de nada. A única coisa que lembro é que alguém falou que ela (filha) tinha batido com o carro e estava em coma. Mas não sei de nada. Me deram uma injeção na perna, que até hoje está dormente.
- A sua filha tinha sonhos de estudar, viajar?
Ela cursou alguns períodos de Psicologia em uma faculdade particular, mas trancou o curso e se formou em Administração, pois ajudava o pai no comércio, de domingo a domingo. Ela dizia que um dia iria concluir o curso de Psicologia, mas gostava muito de ajudar o pai.
- Já sonhou com a sua filha?
Sonhei com ela no velório. Ela dizia: “Mãe, morri”. Eu levantei, olhei no caixão, e ela estava morta. Isso foi na capela, acho que foi em um segundo que eu cochilei. Ela morreu (choro).
- Foi a primeira vez que teve um pressentimento?
Sempre que acontece qualquer coisa com ela e com o meu filho mais novo, eu sinto algo.
- Ela morava com a senhora?
Não, ela sempre gostou de morar sozinha.
- Qual o apelo a fazer?
Quero justiça. Eu não podia ter filho e, para eu engravidar dela, o pai dela pagou R$ 10 mil para eu fazer um tratamento.
- O que a sua filha foi para a senhora?
Ela foi, não. Ela é (choro). A minha filha é tudo pra mim (choro).
Valdecy Barcelos, pai: “Dói demais”
“A minha filha era doce, muito amável. Eu tinha uma paixão por ela. Dói demais. Eu não estou comendo, não estou bebendo, dormindo, não consigo fazer nada em minha vida. Tudo o que queria era a minha filha.
Eu ouvi os disparos, achei que era troca de tiros entre polícia e criminosos, mas era a minha filha (choro). Eu a coloquei no carro, ela não falava nada, só gemia.
No caminho, encontrei com uma ambulância, gritei e eles a levaram. Fui seguindo a ambulância, mas ela não resistiu e nunca mais verei o seu sorriso (choro). Eu, infelizmente, não posso fazer nada a não ser pedir por justiça”.
Entenda o crime
Retorno de uma festa
Carolayne Nascimento Barcelos, 25 anos, era atendente na mercearia do pai, em Divinópolis, na Serra, e tinha ido a uma festa na casa de uma amiga. Ela morava em outro bairro.
Ao retornar e passar de carro em frente à casa do pai e da madrasta, na madrugada de sábado (28), a jovem foi cercada por criminosos armados.
A informação no local era de que eles mandaram ela abaixar os vidros, mas, os vidros elétricos do Renault Sandero prata estavam com defeito e não funcionaram, o que pode ter dificultado Carolayne a cumprir a ordem dos bandidos, momento em que os disparos começaram.
Dentro do carro, Carolayne perdeu o controle da direção do veículo e acabou batendo no carro do pai.
Sobrevivente
Também no veículo, um colega de trabalho da jovem, de 17 anos, estava de carona e viveu momentos de terror, mas não foi baleado.
Tráfico de drogas
Um primo de Carolayne, que preferiu não se identificar, conversou com A Tribuna no último domingo e disse que a prima era mais uma vítima da guerra do tráfico.
Na ocasião, ele disse: “Ela estava chegando em casa e metralharam o carro. Não sei o motivo”.
Ontem, um morador disse que apesar de a jovem ser conhecida no bairro, traficantes que chegaram recentemente na região não a conheciam e, como era noite, atiraram por ela não ter abaixado o vidro.
Perfurações
Policiais militares foram ao local do crime e encontraram o carro com várias perfurações, tanto na parte traseira, quanto na parte lateral do veículo. Nenhum suspeito foi preso até o momento.
Socorro
Carolayne foi socorrida para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Serra-Sede, mas não resistiu.
Inicialmente, foi o pai da jovem que a socorreu, mas no caminho ele encontrou uma ambulância.
Na UPA de Serra-Sede, de acordo com policiais militares, o médico que constatou a morte da vítima disse para os militares que os diversos disparos foram na região do rosto da jovem, o que impossibilitou contar com precisão a quantidade.
Secretário promete empenho na investigação
Depois de conversar com familiares de Carolayne Nascimento Barcelos, o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, coronel Alexandre Ramalho, enviou um vídeo à imprensa e prometeu empenho.
“Agora são 19h25, nós encerramos uma reunião aqui na Secretaria de Segurança Pública com a família da Carolayne, que lamentavelmente foi vítima de homicídio no bairro Divinópolis. Externamos para a família todo o nosso sentimento”.
Ele também afirmou que não é descartada nenhuma linha de investigação.
Por meio de nota, a Polícia Civil informou que o caso segue sob investigação da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Mulher (DHPM).
“É importante esclarecer que a Divisão de Homicídios e Proteção à Mulher é a unidade da Polícia Civil responsável por investigar todos os homicídios e tentativas de homicídios contra mulheres cometidos na Grande Vitória. Ou seja, investiga feminicídios e também homicídios com outras motivações. Os detalhes não são divulgados nesta fase do procedimento pois é necessário preservar a investigação”, diz em nota.
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